top of page

10 anos do Paço do Frevo e do desafio de proteger e disseminar a cultura popular de Pernambuco para o mundo

Nesta sexta-feira (9), o equipamento completa uma década de existência, já com um legado de trabalho bem desenvolvido, mas com um olhar esperançoso para o futuro

IMG_8526.CR3

Genivaldo Henrique

08 de Fevereiro de 2024

pacodofrevo-mat.jpg

Nesta sexta-feira (9), o Paço do Frevo completa 10 anos de existência. O espaço é uma das principais ferramentas de disseminação da cultura pernambucana para o Brasil e para o mundo, tudo isso através do Frevo. Muito viva como símbolo do Carnaval, a manifestação está presente no dia-a-dia de Pernambuco e já faz parte do imaginário das pessoas. O equipamento, localizado na Praça do Arsenal, no Bairro do Recife, área central da capital pernambucana, pulsa com muita música, dança, cores, exposições, centro para pesquisa e documentação, e serviços voltados para a população com um único objetivo: manter viva essa tradição de Pernambuco.

 

                                                                                       (Imagens: Sol Pulquério/PCR)

Em entrevista à Manguetown Revista, a diretora do Paço do Frevo, Luciana Félix explicou que o ponto surgiu como uma necessidade para que o Frevo ganhasse o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, concedido pela Unesco em dezembro de 2012. " A gente precisava ter um espaço onde as manifestações mais diversas do frevo fossem expressadas. Então surgiu a ideia do 'Espaço do Frevo', que foi a primeira sugestão de nome, o que depois virou o Paço do Frevo. Eu diria que ter esse espaço à época foi o diferencial entre os outros competidores e as outras manifestações", afirmou.

                                                                           (Imagens: Guilherme dos Santos/ Manguetown Revista)

 

Hoje em dia, o equipamento oferece serviços para diversas áreas do conhecimento, inclusive cursos para a população em setores variados, como dança, música e manualidades, como costura e maquiagem. “A gente tem também uma área de educativo museal muito forte, e a área de manifestação artística, onde vemos os artistas que se desenvolveram em diversos locais, em seus territórios, apresentarem seus trabalhos aqui. É um espaço para todo mundo e absolutamente inclusive", completou a diretora.

 

De Pernambuco para o mundo

De antemão ao aniversário do Paço do Frevo, no ano passado, a diretoria revisitou o plano museológico, que dá planejamento ao espaço. Para isso, foi realizada uma escuta comunitária de pessoas que vivem, estudam e pesquisam o Frevo no Recife, para a produção de metas a serem seguidas pelos próximos cinco anos. O objetivo é aproximar a cultura dos próprios pernambucanos, mas também levá-la para o mundo.

 

"O plano basicamente fala sobre a gente ampliar o diálogo do Paço do Frevo nos mais diversos territórios onde se faz o Frevo. Também queremos ter sempre uma escuta ativa com a comunidade do Frevo, fazer com que ele seja vivo. E, uma meta talvez bem ousada, é fazer com que o Frevo seja internacional, que ele fique cada vez mais do mundo, da mesma forma que vamos para outros lugares e ouvimos um jazz ou um samba", explicou.

 

"Temos também outras responsabilidades, como aumentar o número de visitantes recifenses, que é um desafio. A gente recebe muitos turistas aqui, mas ainda é muito comum encontrar alguém que não conhece o Paço do Frevo. Essa é uma das coisas que a gente se propõe para os próximos anos", completou.

 

A localização do Paço do Frevo, no Bairro do Recife, no coração da cidade, também é um ponto de destaque. Perto do museu estão outros equipamentos, tanto culturais, como a Torre Malakoff e o Museu do Cais do Sertão, quanto tecnológicos, como o Porto Digital. "Esse privilégio da nossa localização é importante porque movimenta esses equipamentos e dá um roteiro ao visitante que vem para a Ilha do Recife", afirmou a diretora. 

 

                                                                                       (Imagens: Leandro de Santana/Esp.DP)

Desafio de manter o Frevo vivo

Diversos equipamentos culturais de Pernambuco vêm sofrendo com o abandono constante, como o Cinema São Luiz, fechado há mais de um ano por problemas estruturais. Outro exemplo é o Teatro Valdemar de Oliveira, que já foi um antro da arte pernambucana para o resto do Brasil, mas, atualmente, segue sem operar desde 2020 e, na última quarta-feira (7), foi atingido por um incêndio que queimou grande parte do acervo presente na Biblioteca Samuel Campelo.

 

 

Em um Recife onde casos como esses é mais comum, é preciso que os demais equipamentos, como o próprio Paço do Frevo, lutem pela manifestação da cultura popular do Estado

 

"A nossa grande missão é fazer funcionar isso, o ano inteiro, todos os dias. Nós sabemos que, no Carnaval, o Frevo tem a sua grande apoteose. As agremiações estão plenamente na rua, nos desfiles, nas disputas dos concursos e nos palcos, mas aqui, no Paço do Frevo, o desafio é fazer com que o Frevo fique vivo o ano inteiro, então ele precisa ser visto. Então a gente precisa estar com as exposições funcionando, atualizadas, com programas educativos, onde o visitante possa interagir no nosso dia-a-dia", pontuou a diretora do Paço.

 

Frevo enquanto manifestação política

Luciana assumiu o cargo de diretora do Paço no dia 1° de setembro de 2021, em plena pandemia de Covid-19. À época, assim como em outros equipamentos culturais, o espaço precisou se adaptar e a fornecer programações em formato totalmente online. Foi apenas em dezembro que os museus voltaram a abrir e ela conseguiu ver o lugar cheio de pessoas. "Foi uma emoção ver a casa cheia, com os artistas que sofreram muito. Muitos estão quase que silenciados, e não podem se expressar, sem poder gerar renda, sem empregabilidade da cadeia produtiva do Frevo, que estava muito fragilizada. Então, reabrir e potencializar tudo isso foi muito importante", disse.

 

                                                                           (Imagens: Guilherme dos Santos/ Manguetown Revista)

Para além do papel de representação, no entanto, se vê cada vez mais a necessidade de equipamentos culturais como o Paço do Frevo se mostrarem como uma forma de escuta comunitária. Tudo isso, para Luciana, passa intrinsecamente pelo papel que a arte desempenha na vida das pessoas.

 

"O Frevo é político. A arte é política. Eu acho que as pessoas se expressam através da sua arte também politicamente. Seja apresentando, protestando, criticando ou pedindo espaço na cidade, literalmente. Pedindo passagem e mais território. Pedindo lugar de expressão", destacou.

Cultura que se passa de geração em geração

Luciana é filha de uma educadora, membro do Movimento de Cultura Popular. Para ela, a luta pela criação e manutenção de espaços culturais como o Paço do Frevo no Estado sempre esteve presente, até mesmo no quintal de sua própria casa. Para ela, poder atuar no equipamento hoje em dia, já como diretora, é uma oportunidade de continuar tudo que aprendeu como jovem.

 

"Era muito comum ver Maracatu, Frevo e Caboclinho. Tudo que a gente vê na rua e faz agora, ou 'faz fazer' agora, veio na minha infância. Poder continuar tudo isso agora é uma maneira de dar continuidade ao que a gente recebeu de genética, da minha mãe, para mim e para os meus irmãos. Eu acho muito importante estar aqui e é um privilégio", afirmou a diretora, com um sorriso no rosto.

 

Acesso ao Paço do Frevo

O Paço do Frevo abre de terça a sexta, das 10h às 17h, e aos sábados e domingos, das 11h às 18h. Todas as terças, o acesso é gratuito, mas o equipamento tem uma política de gratuidade que abrange, de acordo com a organização, 50% dos visitantes. Caso seja preciso pagar ingresso, os valores também são acessíveis, com R$ 10 para inteira e R$ 5 para meia entrada. A última entrada acontece sempre até 30 minutos antes do fechamento do local.

_paco_do_frevo_2.jpg
20240125_160301.jpg
20210513114955332750u.jpeg
20240125_160322.jpg
bottom of page