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Chico Science: celebrando o legado de um transformador da música brasileira

Diretamente de Olinda para transformar o mundo com suas letras singulares e presença inconfundível, Francisco completaria 58 anos, neste 13 de março, se estivesse vivo.

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Leandro Lopes

13 de março de 2024
 

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No coração de Olinda, nasceu um jovem destinado a desafiar convenções e inspirar gerações. Francisco de Assis França, conhecido como Chico Science, foi muito mais do que um músico. Ele foi um visionário, um agente de mudanças que deixou um legado eterno na cena musical brasileira. Hoje, 13 de março, ele completaria 58 anos, mas seu impacto continua vivo

 

Chico abraçou o mundo com sua música, desde os bairros de Peixinhos, Caixa d’água e Rio Doce, em Olinda, até os palcos internacionais ao lado de Gilberto Gil. Para ele, os sonhos não eram apenas sonhos; era momento de transformar e lutar mesmo com diversos impeditivos. Mesmo diante da desconfiança de muitos, ele persistia, teimoso como diziam os amigos. Essa determinação o transformou em uma lenda musical, fundamental tanto para a cena pernambucana quanto para a nacional.

 

 

 

 

                            

                                                                        (Reprodução: Imagens de acervo) 

Chico transformou a percepção musical de muitos. No final da década de 1980, Chico Science mergulhou no cenário musical, integrando bandas como Orla Orbe (formada por Chico Science e Lúcio Maia) e Loustal (formada por Chico Science, Lúcio Maia, Dengue e Vinicius Sette), profundamente influenciadas pelos ritmos vibrantes da soul music, ska, funk e hip hop

 

Foi em 1991 que Chico Science teve um encontro marcante com o Lamento Negro, localizado em Peixinhos, subúrbio de Olinda. Essa experiência foi um divisor de águas, pois foi a partir desse contato que ele fundiu os ritmos nordestinos, especialmente o maracatu, com o som de sua antiga banda, dando origem à lendária Nação Zumbi. Assim, dando início ao movimento conhecido como Manguebeat, marcado por uma fusão ousada e vibrante de elementos musicais diversos.

 

Em 1993, uma breve turnê por São Paulo e Belo Horizonte chamou a atenção da mídia, lançando os holofotes sobre Chico Science e Nação Zumbi. O lançamento do primeiro álbum, "Da Lama ao Caos", foi recebido calorosamente pela crítica e alçou a banda ao reconhecimento nacional. O segundo álbum, "Afrociberdelia", com sua abordagem mais pop e eletrônica, consolidou a reputação de inovação de Chico Science e sua banda.

 

 

                                                                                     (Reprodução: Imagens de acervo) 

Francisco também fez amizades e conexões que se transmutam em memórias vívidas. 

 

Em entrevista para a Manguetown Revista, Catarina DeeJah, uma multiartista de Olinda, 45 anos, que transita entre diferentes expressões artísticas, como compositora, cantora, artista visual e DJ, compartilhou um pouco de sua relação com Chico Science. 

 

Seu encontro com Chico remonta a 1994, quando os dois se tornaram amigos e compartilharam diversas experiências, incluindo passeios no carro Ford Landau de 1979 dele, envolvendo-se na produção de mixtapes e trocando ideias sobre música e a cidade. O primeiro contato de Catarina com Chico ocorreu em um show da banda Eddie, onde ele participou cantando uma música chamada "Isquera" como parte de seu projeto "Loustal". A desenvoltura e presença de palco de Chico chamaram sua atenção, deixando uma marca duradoura em sua memória.

                                                                          (Reprodução: Imagens de acervo de Catarina) 

 

Chico, para Catarina, personificava um "Bodisatva" ( pessoa que, ao alcançar a iluminação, decide permanecer no mundo físico a fim de auxiliar os demais seres viventes nessa missão) da música, cujas letras comunicavam com sofisticação e incisão, alcançando tanto o público quanto às esferas mais eruditas. Ele representava um agente de ruptura cultural que redefinia os paradigmas musicais do Brasil, desafiando a hegemonia dos modelos estrangeiros e promovendo uma abordagem experimental e transformadora. Seu legado continuou influenciando o cenário musical brasileiro, incluindo o hip-hop, o brega funk, o TRAP e as orquestras de frevo, com artistas como Karina Buh, Isaar, Alessandra Leão e Jéssica Caitano inovando e perpetuando o espírito do Mangue.

 

Gilmar Bola 8, amigo de Chico Science e um dos co-criadores do movimento manguebeat e presidente da Rede de Favelas de Pernambuco, detalha à Manguetown Revista como foi essa conexão com Francisco de Assis França: "Conheci Chico enquanto trabalhava na Empresa Municipal de Processamentos Eletrônicos da Prefeitura do Recife. Ele ocupava o cargo de auxiliar administrativo, enquanto eu era um contínuo em outro setor. Nosso encontro era frequente nos corredores da administração, onde trocávamos ideias sobre música. Uma vez, ao notá-lo batucando em seu birô".

                                          Gilmar bola 8 , Chico Science e Jorge dü Peixe. (Reprodução: Imagens de acervo) 

                                                                                    

“Nossa amizade cresceu à medida que compartilhávamos experiências musicais durante o horário de almoço, muitas vezes no Almoxarifado, local onde relaxávamos e partilhávamos composições”, comenta Gilmar.

 

Além de Catarina e Gilmar, a Manguetown Revista ouviu Jadson Macedo do Vale, conhecido como Bactéria, de 48 anos. Tecladista e produtor musical. A conexão com Chico Science e Bactéria vem da época do Mundo Livre, onde, apesar de não se conhecerem pessoalmente, ele foi agraciado com seu apoio e influência musical, que contribuíram significativamente para sua formação como músico e produtor.

                                                                          (Reprodução: Imagens de acervo) 

Legado de chico deixa um legado inconfundível na música brasileira

 

Bactéria enfatiza: "Chico Science deixou um legado notável no movimento manguebeat, que ultrapassa os limites da música. Sua abordagem de misturar ritmos regionais com influências internacionais não apenas resgatou a rica cultura local, mas também deixou uma marca em uma variedade de formas de expressão artística, abrangendo desde o cinema até a moda e as artes plásticas."

 

Chico era verdadeiramente um visionário em busca de transformar a paisagem musical de Recife, unindo aspectos regionais com uma visão universal. Seu impacto continua a ser sentido, inspirando artistas a explorarem suas próprias raízes e a experimentarem novas formas de expressão.

 

Diante dessa história marcante e de inúmeras inspirações, Ian Siqueira, mais conhecido como Mago de Tarso, 25 anos, cantor, compositor e amante da cultura pernambucana, destaca a grandiosidade desse legado e como está sendo crucial para sua formação musical: "Chico deixou um legado que vai além da música. Ele nos ensinou a valorizar nossa cultura local, mesmo quando não é reconhecida por outros. Através do Manguebeat, ele e a Nação Zumbi mudaram a percepção global sobre Recife, transformando-a de uma cidade subestimada em um centro de importância cultural e ambiental. Seu impacto transcende o sucesso comercial, moldando a maneira como vemos o mundo."

       (Reprodução: Clipe "Caranguejo do Trap" de Mago de Tarso)                                            (Reprodução: Clipe  "Maracatu Atômico" de Chico Science e NZ

 

"Minha conexão com Chico Science se fortalece a cada passo que dou na minha carreira musical. Ao lançar meus projetos, percebo sua influência positiva sobre mim. Suas palavras ecoam em mim, como quando ele menciona 'o meu mano Francisco' em uma de suas músicas, antecipando meu caminho na música e encorajando a inovação. Apesar de ter vivido em uma época diferente, sinto-me profundamente conectado a esse legado de criatividade e autenticidade.”, exprime Mago de Tarso. 


 

Chico in memoriam

A história de Francisco está cada dia mais sendo preservada por um grupo de preservação do acervo de Chico Science, conduzido por uma equipe de 16 profissionais dedicados. Entre os 1.405 itens catalogados, encontram-se figurinos, como tênis, óculos e chapéus, além de pequenos objetos, documentos, cartas, instrumentos musicais e obras de arte. Além disso, foram cuidadosamente tratadas fotografias, revistas, vinis, CDs e fitas VHS, totalizando 3.805 itens trabalhados no processo.

 

Essa iniciativa foi possível graças ao esforço da família de Chico, que cuidou do material ao longo dos anos, além do apoio do Sistema de Incentivo à Cultura do Município do Recife (SIC), Fundo de Incentivo à Cultura do Recife (FIC) e Prefeitura do Recife. Em parceria com o Centro de Documentação Dom José Lamartine, a empresa MUSEO, coordenada pela museóloga Déborah Siqueira e pelo fotógrafo Fred Jordão, junto a uma equipe de três estagiárias do curso de museologia da UFPE, conduziu-se esse trabalho meticuloso.

 

Em 2023, foi lançado o site (acervochicoscience.com.br), onde estão disponíveis páginas digitalizadas de sete cadernos de anotações do artista. A preservação desse acervo, dividido em documental, indumentário e itens tridimensionais, não apenas reflete a vida e a inspiração de Chico, mas também seu impacto cultural e influência na moda e na música brasileira. Este esforço representa uma homenagem sincera a Chico Science e seu legado eterno na cultura brasileira.

 

A Manguetown Revista agradece 

 

Neste 13 de março, é um momento de novas reflexões sobre a importância e preservação da história de Chico. A Manguetown Revista nasce dessa influência e agradece imensamente por tudo que ele e o movimento manguebeat fizeram e fazem pela cultura pernambucana e brasileira. Esta revista independente continuará preservando e homenageando sempre que possível Francisco de Assis França e todos aqueles que sonharam junto a ele. Viva Chico Science e feliz aniversário, onde quer que esteja.

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DRINK

​Diretamente de Jaboatão dos Guararapes Ian Siqueira está transformando o Trap pernambucano

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