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Fome de ler, necessidade de escrever: a XIV Bienal Internacional do Livro de Pernambuco

Nos dias 06 a 15 de outubro, a Bienal traz diversos eventos e lançamentos de obras de autores pernambucanos, homenageando Lia de Itamaracá e Josué de Castro

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Isabel Bahé

13 de outubro de 2023- 16:30

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Como bem disse um dia André Maurois, romancista e ensaísta francês: o livro fala, a alma responde. Este diálogo eterno entre humano e literatura sem dúvida nos faz construir em essência leituras de nós sobre o mundo. Afinal, somos o que nós lemos. É esta a premissa que guia a XIV Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, que começou na última sexta-feira (06) e se encerrará no próximo domingo (15) no Centro de Convenções de Pernambuco, localizado na cidade de Olinda, das 10h às 21h.

Com o tema “Fome de quê? Você é o que você lê.”, a Bienal explora os diversos sentidos do termo ‘fome’, mas precisamente aquele que se relaciona em maior efeito com o que ela proporciona: a fome de conhecimento. 

Com curadoria do jornalista e doutor em teoria literária, Schneider Carpeggiani, o evento homenageia o falecido escritor pernambucano Josué de Castro, que completa 50 anos de morte em 2023. Josué de Castro cunhou as obras clássicas Geografia da Fome (1964) e Geopolítica da Fome (1961), defendendo a tese de que a questão da fome que assola o mundo não é problema de superpopulação ou falta de alimentos, mas da concentração de riquezas nas mão de poucos indivíduos.

Além do escritor homenageado in memoriam, a Bienal celebra Lia de Itamaracá como segunda homenageada. Cantora, compositora, cirandeira e atriz, Lia é patrimônio vivo de Pernambuco e construtora da identidade pernambucana em suas obras. Ela também será homenageada pelas escolas de samba Império da Tijuca (Rio de Janeiro) e Nenê de Vila Matilde (São Paulo) no carnaval de 2024.

Além dos diversos estandes de livrarias e editoras, dentre elas a Cepe (Companhia Editora de Pernambuco), a Bienal também conta com uma vasta programação de palestras, cujo cronograma está disponível no Instagram do evento (@bienalpe), que incluem lançamentos de autores pernambucanos. São mais de cem lançamentos que incluem romances, biografias coletâneas e perfis, com selos editoriais e também de autores independentes.

                                                                           (Divulgação/ Márcio Bastos)

Para o jornalista e escritor Márcio Bastos, cuja obra Pernalonga: uma sinfonia inacabada compõe a plataforma de lançamentos (dia 13, às 19h), a Bienal se configura como um espaço fundamental de divulgação de autores locais tanto independentes quanto parte de companhias editoriais.

“Estou ansioso pela oportunidade de lançar o livro na Bienal, que é um evento que acompanho há muitos anos e tem uma curadoria excelente, assinada por Schneider Carpeggiani. Acredito que é um espaço fundamental para o fomento do mercado literário e principiante de encontros e trocas entre os autores, editoras, livreiros e o público. A oportunidade de conversar com as pessoas sobre o trabalho, depois de um trabalho em grande medida solitário como o da escrita, é muito instigante.”

Acredito que ainda há muitos entraves para a circulação no que diz respeito à arte, tanto na literatura quanto em outras linguagens. [...] O boca a boca ainda é essencial para a divulgação de uma obra. Muitas vezes, a partir desses encontros com o autor, surge o interesse para consumir o livro e se aprofundar no tema. Então, é uma oportunidade de aproximação”, revelou o escritor em entrevista à Manguetown.

                                                                         (Divulgação/ Márcio Bastos)

O livro de Márcio Bastos se trata de um perfil biográfico do ator Roberto França, conhecido como Pernalonga, integrante do Grupo Vivencial de teatro, que expressava em suas performances temas tabus no Recife da segunda metade do século XX:  desejo, vivências LGBTQIAP+, violência, opressão e outros.

“Pernalonga vivenciou sua sexualidade sem preconceitos. Bissexual, apresentava também uma fluidez de gênero nas vestimentas e performances. Foi uma inspiração para artistas como Jormard Muniz de Brito e seu talento chamou a atenção de vários grupos, o que fez com que participasse de montagens diversas. Foi um ativista da arte e também se engajou na conscientização pela prevenção do HIV, após ser diagnosticado com o vírus, no final dos anos 1980. Circulou por escolas, hospitais e espaços públicos para falar sobre o HIV e a Aids quando a questão ainda era vista com muita desinformação. Sua morte trágica, no ano 2000, pode ser atribuída ao preconceito que sempre combateu. Ele sofreu um ferimento na perna (para o qual há várias versões, nenhuma confirmada) e sangrou por horas, pois as pessoas negaram socorro por saber de sua sorologia. Resgatar a memória de Pernalonga e sua importância para o teatro pernambucano é também evidenciar a potência de sua atuação artística e política, que até hoje é uma inspiração”, conclui o autor. O livro estará disponível após a Bienal nas livrarias físicas da Cepe e como e-book nas plataformas digitais.

                                                                         (Divulgação/ Jaqueline Fraga)

A literatura independente, entretanto, assim como a arte e os artistas em sua totalidade e em especial os artistas independentes, enfrenta dificuldades em relação aos custos de publicação de suas obras e divulgação em espaços de leitura. De acordo com a escritora, jornalista e administradora Jaqueline Fraga, o ofício de escrever independentemente é uma jornada com altos e baixos do início ao fim:

“Eu ingressei na escrita independente por me deparar com algumas questões burocráticas ante o mercado editorial tradicional. [...] Os desafios da autopublicação são imensos, começando pelos custos e indo até a difusão mesmo da sua obra. Como chegar aos leitores, como atrair o público? Já entre as vantagens, nós temos liberdade para trabalhar a obra da forma que mais nos identifiquemos e, caso comercializemos os exemplares sem intermediários, o valor final da venda também fica conosco. Acredito que o incentivo público, no setor editorial, ainda deixa muito a desejar. Temos tantos escritores independentes incríveis, com trabalhos que merecem ser conhecidos e valorizados, e que ainda não tiveram acesso à verba pública para publicar suas obras,” revelou à Manguetown.

                                                                         (Divulgação/ Jaqueline Fraga)

A escritora lançou seu livro-reportagem, Pandemia: os reflexos da maior emergência sanitária do planeta em 15 reportagens especiais, no último domingo (08) durante a Bienal. A obra mostra por meio de reportagens as buscas pelas vacinas, as relações familiares e profissionais durante este período e a retomada. Após o evento, o livro estará disponível por meio de contato com a escritora pelo Instagram (@jaquefraga_).

“Eu sou apaixonada pela Bienal por tudo o que ela representa. Antes de lançar o meu primeiro livro, eu sempre frequentei como leitora. E hoje em dia participar como escritora é de uma emoção gigante. É um local que tem espaços democráticos, que abre as portas para autores locais fazerem seus lançamentos ou alguma outra atividade literária e cultural. Se você passear pelos corredores e estiver disposto a parar um pouco, conversar, com certeza você vai encontrar algum autor pernambucano. Vai conhecer histórias, encontrar talentos. Esses encontros são sempre muito especiais”, conclui Jaqueline.

A XIV Bienal do Livro de Pernambuco se encerra neste domingo (15), às 21h. Os ingressos estão disponíveis na bilheteria pelo valor de R$10,00 (meia-entrada) e R$20,00 (inteira). Professores e estudantes da rede pública de ensino não pagam entrada.

Bienal Internacional do Livro de Pernambuco 2023: Celebrando a Literatura e a Cultura

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