A música como um manifesto: conheça Karim
Com estética ousada, anárquica e recifancy, rapper Karim tem potencial para se tornar um nome de destaque no cenário musical local
Luíza Bispo
07 de Maio de 2024
Karim. Em árabe, Crema (كريم). Crema das cinzas, que queima, incinera.
Karim Al Karim. Crema da Crema.
É assim que se apresenta um novo nome da cena musical de Recife. No dia 16 de abril, “Recifancy” foi disponibilizada nas plataformas de música com direito a clipe, que se encontra no Youtube e no Instagram do cantor (@karim.al.karim). A música, remixada pelo produtor LAEÜ, possui uma batida eletrônica e marcante somada a uma letra audaciosa, e é a primeira faixa lançada do álbum Mais um Sol.
Em primeira mão à Manguetown Revista, Karim revela que o projeto chegará ao mundo no próximo dia 26 de maio, e já tem planos para lançamentos posteriores. Visualmente bem trabalhada e cheia de significados, a capa do álbum traz elementos que se conectam e atraem imediatamente na primeira olhada, denunciando os desastres ambientais e a desigualdade social.
Em um preto contrastado por um amarelo forte, Karim traz um mar coberto por areia à frente da paisagem do Recife e, curiosamente, as pirâmides egípcias, que tomam conta de toda a imagem. “Pra mim, eu, você e todos nós não saímos do Egito ainda, não saímos daquele lugar de exploração, estamos todos lá. A humanidade está no mesmo ciclo, várias pessoas puxando pedras enormes enquanto outras ficam deitadinhas esperando a hora de morrer. Nossos chefes, nossos salvadores, nossos faraós. Basta ver que as torres gêmeas do Recife na verdade são pirâmides. Quem morreu trabalhando nelas, morreu do mesmo jeito de quem estava construindo as pirâmides dos Faraós, sem consequência alguma. É pedra sendo construída em cima de pedra e pessoas morrendo. Essa é a grande lombra por trás do CD”, explica o cantor.
Por trás das pirâmides
Karim, nome artístico de Caio Mota, 26 anos, surgiu a partir da necessidade do rapper de criar uma persona que se distinguisse de sua vida pessoal e pudesse exprimir seus gritos, anseios e provocações por meio de suas próprias ideias. “(No mercado de trabalho) são as ideias dos outros que eu tento fazer ficar bom, enquanto na música são minhas ideias, do primeiro ao último segundo. Não que minhas ideias sejam as melhores, mas eu precisava desse espaço para colocar tudo para fora. Eu estava vivendo muito preso e Karim nasceu disso, dessa libertação”, ele afirma.
O cantor conta que tudo começou durante a catastrófica pandemia de Covid-19 em 2020, onde se viu em um período difícil e isolado. Foi nesse momento que ele começou a escrever e compartilhar cartas bastante pessoais que viriam a ser musicadas. Ainda assim, seguindo os rumos do destino, foi só no final de 2022 que Caio se sentiu pronto para se tornar Karim. Como todo bom artista independente recifense, as coisas foram tomando forma na ‘brodagem’, com apoio de amigos e parceiros do meio musical, o que acontece até hoje.
Inspirados pelos versos cantados por Cássia Eller “Quando o segundo sol chegar..”, o artista acredita ser um dos sóis, ou melhor, uma das vozes que veio para incomodar e se eternizar na memória das pessoas e na luta popular revolucionária recifense.
A reportagem da Manguetown teve acesso a dois lançamentos futuros: “Lembranças do Futuro” e “Sinal de Fumaça” e não é querendo dar spoiler, mas tá gostoso demais!
O destaque vai para “Sinal de Fumaça”. Provocante, radical e nada temerosa, Karim mira em uma letra que mescla desejo com um ataque direto ao neoliberalismo e a especulação imobiliária de forma bastante inteligente, em um contexto à lá recifense que se diferencia de outras produções locais com a mesma temática. “Lembranças do Futuro” não fica para trás. A produção é do excelente Doctor Zumba, nome de ascensão no cenário rap comunista brasileiro, com quem Karim soma um total de 4 músicas até o momento.
Escute Karim no Spotify: