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“Estação Janga-lua (o segundo mundo da rádio)” faz sua estreia na programação do 28º Cine PE

A partir de elementos de documentário e ficção, o filme apresenta ao público o Mestre Zeca do Rolete para além da carreira artística

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Letícia Barbosa

08 de Junho de 2024

Zeca do Rolete, atualmente com 80 anos de idade, é um dos mais importantes mestres da cultura popular pernambucana. Não é à toa que, após seu talento para o coco de roda ser reconhecido, nos anos 2000, inúmeros textos, reportagens e produções audiovisuais foram realizados em sua homenagem. 

 

Estação Janga-lua (O segundo mundo da rádio) é o mais recente trabalho que reverencia a grandiosidade do mestre. Com Chia Beloto na direção,  Marília Cantuária no roteiro e Rui Mendonça completando a equipe como diretor e roteirista, o filme tem sua estreia neste sábado (8), na Mostra Inquietações, na 28º Cine PE. A sessão matinê acontece no Cinema do Porto, no centro do Recife, a partir das 14 horas. 

 

Em entrevista para Manguetown Revista, Rui Mendonça contou um pouco sobre o que esperar do longa que mistura elementos do documentário e da ficção.


 

Zeca do Rolete, o pai, o marido, o griô, o criador

 

Estação Janga-lua propõe uma imersão no cotidiano de José Galdino dos Santos, o Zeca do Rolete. Além do cantor e compositor, a produção coloca na tela sobretudo um homem em sua interação com a esposa, filhos e outros personagens introduzidos na história. Rui Mendonça, diretor e roteirista do filme, indica que o objetivo da obra foi incidir mais sobre outras vertentes da vida de Zeca, para além da sua carreira artística. 

 

A produção audiovisual destaca ainda a figura de Zeca como um verdadeiro griô, isto é, uma espécie de contador de história respeitado e admirado em sua comunidade, segundo a tradição africana. Esse traço da personalidade do artista é retratado pela sabedoria que expressa ao contar suas memórias atravessadas pela linha do tempo das coisas. Entre uma cena e outra, conhecemos pela narração de Zeca do Rolete um pouco da história do rádio, da máquina de escrever, de uma chaleira antiga. O mestre griô sempre tem uma boa curiosidade para revelar. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                                       (Imagens: Divulgação do Filme)

 

Outro elemento  que guia o documentário é a prática do artista de visitar ferros-velhos, procurando itens para construir equipamentos diversos. Em Estação Janga-lua, seu objetivo é fazer funcionar seu próprio rádio amador com antena e tudo.

 

Mais um aspecto documental do filme, é que os integrantes do elenco representam a si mesmos. É o caso de Silvania, companheira de Zeca, e dos filhos do cantor. Soma-se ainda ao grupo, o multiartista e mestre de cerimônias do Leilão em Chamas, Carbonel, que também interpreta ele mesmo. 

 

Rui explica que não trabalhou com atores, e, por isso, improvisos podiam acontecer a qualquer momento, o que foi positivo na construção do longa. “É um processo único, a vivência num filme assim. Todo o momento, ele está sendo criado, está sendo transformado”, afirma.

 

Do Janga até a lua

 

                                                         (Imagem: Reprodução/ Estação Janga-lua (o segundo mundo da rádio))

Aliado aos aspectos reais do enredo, o filme conta com uma série de elementos sobrenaturais e cenas fictícias foram inseridas, fazendo da produção o que pode ser chamado de docficção. “Quisemos trazer toda essa possibilidade pro documentário. É um filme também com muita magia. O nome diz ‘segundo mundo do rádio’ porque entramos nesse mundo mágico de como é que o rádio pode ser absorvido. Não tem imagens, então, depende de cada um, da imaginação de cada um”, explica Rui. 

 

Sobre isso, brilham as referências. O diretor de Estação Janga Lua cita uma das sequências em que o planeta parece estar sendo invadido por alienígenas. A notícia recebida pelo rádio por Zeca e Silvania os deixa apavorados. A cena é inspirada na situação real em que uma radionovela baseada no livro A Guerra dos Mundos, do britânico George Wells, transmitida também pelo rádio, em 1938, pareceu verdadeira para as pessoas e causou o mesmo espanto. 

 

O diretor conta que o filme teve direito até a uma radionovela própria, intitulada “Mistérios do Além”, com efeitos de sonoplastia semelhantes aos da época do auge desse tipo de programa. O rádio, nesse sentido, é o grande protagonista da viagem que parte do Janga, na cidade de Paulista, onde moram Zeca e a família, e pode chegar a qualquer lugar, inclusive à lua. 

 

Rui acredita que os elementos ficcionais são fundamentais na narrativa. “A proposta foi fazer uma fissura no doc para poder provocar essas personagens e ao mesmo tempo provocar o próprio processo cinematográfico”, defende.


 

Cinema:  preservação e difusão

 

Português de origem, Rui Mendonça adotou o Brasil há cerca de 15 anos. Uma vez em Pernambuco, conheceu Zeca do Rolete durante o processo de construção da Rádio Amnésia, em Olinda. Dali em diante desenvolveu uma relação sólida com o mestre, da qual nasceu Estação Janga-Lua (o segundo mundo da rádio), gravada durante o ano de 2023.

 

Para o diretor, o cinema é uma forma de preservar o trabalho e a história dos mestres, mestras e grupos da cultura popular. “Meu trampo incide basicamente em estar junto de mestres e mestras e ver, aprender com eles e desfrutar com eles. E também poder dar o meu contributo que é esse entendimento que eu tenho do cinema”, afirma.

 

Além disso, a estreia do filme vai levar Zeca e seus pares a uma das mais importantes salas de cinema do Recife para ser prestigiado pelo público do Cine PE e, assim, levar seu trabalho a mais pessoas.  Neste cenário, Rui reflete sobre a desvalorização enfrentada pelo segmento da cultura popular. “ Muitos artistas da cultura popular têm que  implorar para tocar em algum festival desses maiores. Então, é muito importante tentar  dar a volta nisso para que a galera que vive da cultura popular aqui em Pernambuco realmente possa continuar a viver”. 

 

Em 2024, a equipe do docficcção prevê ainda o lançamento de um seriado também estrelado por Zeca do Rolete. O segredo do baixo-falante está em fase de finalização e será composto por episódios em que o cantor, com seu dom de griô, segue pelos ferros-velhos em busca de itens para construir o "tão desejado baixo-falante". 

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