Kátia Mesel e seus pioneirismos no cinema de Pernambuco
A cineasta foi a primeira mulher a dirigir um filme no estado
Artur Serrano
25 de agosto de 2023- 16:21
Sendo um dos principais nomes da produção audiovisual de Pernambuco, Kátia Mesel faz cinema há mais de cinco décadas. Apesar de ter se formado em Arquitetura e Artes Gráficas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), seu amor pelo cinema surgiu quando ainda tinha por volta dos seis anos de idade. O primeiro filme que viu, nessa época, foi O Mágico de Oz. Gostava de brincar com luz e sombras, e descobriu que, se jogasse uma pedrinha em um tanque com uma lanterna, veria ondas refletidas na parede.
A primeira mulher a dirigir um filme em Pernambuco
Kátia também gostava bastante de fotografar, muito por causa do próprio curso de Arquitetura. Seus pais, então, lhe deram uma câmera 8 mm. “Olha aí, você não gosta tanto de fotografar? O moderno agora é fotografar em movimento”, disseram seus pais. Foi aí que ela começou a filmar tudo ao seu redor.
Nascida de família judaica em 8 de março de 1948 em Recife, foi pioneira no cinema pernambucano. A primeira mulher a dirigir um filme no estado iniciou sua carreira em 1968 e, até hoje, acumula mais de 300 obras. Iniciou de maneira muito amadora e experimental, em um universo muito masculino, mas isso não impediu que Kátia acumulasse mais uma conquista histórica: foi a primeira mulher a participar de um festival de cinema no Brasil, em 1973, com o filme “Rotor”.
Na década de 1980, Kátia fundou sua produtora, a Arrecife Produções, e, em 1984, foi a primeira mulher a conseguir um financiamento através de um edital de cinema nacional. Em meio a diversos financiamentos destinados a cineastas homens de São Paulo e do Rio de Janeiro, Kátia queria que o Nordeste também ganhasse. Apresentou um projeto e recebeu o dinheiro, que utilizou para produzir o filme “Oh de Casa”, sobre arquitetura tropical e baseado no livro de mesmo nome de Gilberto Freyre.
(Imagens: Divulgação)
“Recife de Dentro pra Fora”
Dentre suas produções, a maioria de curtas-metragens e documentários, uma das mais conhecidas é “Recife de Dentro pra Fora” (1997), que é inspirado em um poema de João Cabral de Melo Neto e mostra a realidade social ao redor do Rio Capibaribe. “O Rochedo e a Estrela”, de 2007, é muito lembrado por ser seu único longa-metragem. O filme mostra a origem da comunidade judaica no Recife até a sua diáspora, no século XVII. O filme também tem grande importância por ter sido gravado em quatro países, em português e também em inglês, além de inserir Pernambuco em um contexto global.
(Imagens: Reprodução/Recife de dentro pra fora)
“A Gira”, de 2008, foi uma das obras de Kátia que lhe renderam prêmios. O curta trata das influências de matrizes africanas nas festas populares de Pernambuco, e foi premiado pela Fundação Palmares. Já “Recife de Dentro pra Fora” ganhou 26 prêmios em festivais nacionais e internacionais, como Melhor Fotografia no Festival de Gramado e Melhor Documentário no Festival de Curtas-metragens de Bilbao, na Espanha.
Kátia Mesel também produziu, através da Arrecife Produções, o programa “Pernambucanos da Gema”, sobre diversos temas, para a TV Pernambuco. O programa foi ao ar de 1991 a 1993, mas nunca foi digitalizado por falta de financiamento.
Conheça mais de Kátia, assista a entrevista com Marlom Meirelles