Ogum é homenageado em novo disco de Maciel Salú
O sexto álbum do artista pernambucano traz inspirações de suas vivências, religião e da cultura popular.
Guilherme Santos
18 de agosto de 2023- 13:40
Guitarra e Rabeca. Ogum e São Jorge. Música e tradição. Essas são algumas das coisas que se misturam e se tornam uma só através do novo álbum de Maciel Salú, lançado no dia 29 de julho deste ano. "Ogum", como é intitulado o novo trabalho do pernambucano, é o sexto álbum de sua carreira, e as tradições dos terreiros, a sonoridade cúmbia e o afrobeat estão mais presentes do que nunca.
Imagens: Divulgação
Apresentando fortes referências da cultura popular e das religiões afro-indígenas, Maciel Salú mescla melodias ancestrais, poesia e nordeste, juntando tudo isso a sua pesquisa de música contemporânea. O grande homenageado do projeto é aquele que dá nome a uma das cinco canções que compõem o álbum, e que também o nomeia: Ogum, o orixá de Maciel, responsável por ensinar caça aos homens, o trabalho com ferro e as artes da forja e da guerra.
Inclusive, a canção especial composta para o orixá guarda uma história especial. A primeira parte dela foi escrita no dia 23 de abril de 2020, quando se celebra o dia de São Jorge, que no sincretismo das religiões afro-brasileiras é associado a Ogum. O restante da música, no entanto, só foi concluída exatamente um ano depois, quando Maciel revisitou a letra para finalizá-la. Não por coincidência, o local escolhido para o lançamento da turnê foi a Vila de São Jorge, em Goiás, que o recebeu no XXIII Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros.
Na faixa de abertura do disco, "Os Caboclos do Terreiro", Maciel traz versos que resgatam o Maracatu do interior do estado de Pernambuco, apresentando uma sonoridade mais próxima do afrobeat. O músico também reflete sobre a valorização dos mestres e mestras, como também dos outros folgazões, e considera todo o cenário das sambadas de maracatu Rural.
A influência da cultura popular, portanto, é inegável. Para o músico, é ela quem dá a inspiração de tudo que ele produz e quem ele é. Apesar de consumir outras culturas, ele conta que maracatu rural, ciranda, cavalo marinho, coco, a cultura dos Povos Originários, além de música caribenha, música africana, frevo e forró, são os estilos que ele gosta muito de escutar. Maciel também lidera o Movimento Azougue, que tem raízes na Mata Norte e busca o reconhecimento da cultura popular.
Amor, entrega e partida
É o tema da terceira faixa de "Ogum", intitulada "Ciranda da Saudade". Nela, Maciel versa sobre alguém que mergulhou em um relacionamento, mas que foi marcado pelo abandono da pessoa amada, e se pega constantemente revisitando as lembranças de momentos vividos pelos dois. Essa temática romântica também aparece em "La Cumbia Morena", que se desenrola sob o olhar de alguém que se apaixona por uma dama de vermelho ao vê-la dançar em uma gafieira. É em "Baila", a última faixa, que o disco dá palco aos ritmos afro-caribenhos, ambientando o ouvinte a harmonia sonora, e tornando o cenário bastante convidativo para dançar.
Imagens: Divulgação
Exemplo de Rabequeiro, cantor, compositor, mestre de maracatu-rural e militante das tradições populares, Maciel é herdeiro da tradicional família Salustiano e começou sua produção musical em 2003. Além de Ogum, o pernambucano tem outros cinco discos, e foi indicado ao Grammy Latino em, na categoria Melhor Álbum Regional de Música Brasileira, com um de seus projetos paralelos, a Orquestra Contemporânea de Olinda. Com o projeto Orchestra Santa Massa, Maciel ganhou reconhecimento através do BBC Awards, do Prêmio Tim (melhor álbum) e do Prêmio Multicultural Estadão.
Em Ogum, o voz de trovão, como também é conhecido Maciel, traz influências em todas as faixas, e dá continuidade a sua identidade vocal e instrumental, caracterizada pela rabeca, instrumento que ele escolheu para se dedicar e se aprimorar. O novo trabalho, por sua vez, chega inovando seu repertório, e faz um passeio por novas roupagens. O resultado é uma celebração de sua espiritualidade do artista, e evidencia sentimentos de paixão e o êxtase trazidos pelos ritmos presentes. Com Ogum, Maciel Salú amplia cada vez mais como uma contribuição para a música e para a cultura pernambucana, e reforça sua qualidade e perenidade como artista.
Você pode conferir "Ogum" e os outros trabalhos de Maciel nas plataformas digitais em que ele está presente.