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Pedro Vilela revive o brega autêntico dos anos 70 e 80

Em entrevista exclusiva para a Manguetown Revista, o cantor contou um pouco sobre o processo de criação de sua obra, que já é vasta e apenas cresce
 

Maddu Lima

31 de julho de 2024

Varzea, Niedja Oliveira.png

A palavra “brega” carrega consigo significados como “cafona” e “deselegante”. Na década de 1960, no entanto, também se tornou o nome do gênero musical que emergiu das classes populares e periféricas. Com músicas românticas e arranjos simples, o brega conquistou um espaço único na cultura musical brasileira.

É numa forma de resgate desse estilo tido como cafona que Pedro Teixeira Vilela, também conhecido como Seu Vilela, recifense, cantor, artista e poeta urbano, surge como uma figura importante. Em entrevista exclusiva para a Manguetown Revista, o artista revelou as paixões, desejos e referências do brega autêntico para a própria carreira, principalmente das produções das décadas de 1970 e 1980.

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                                             (Imagens: Evoé, Douglas Henrique- 2021)



Inspirações

Apesar de ter crescido em um ambiente religioso e numa casa sem aparelho de som, tudo relacionado à música já chamava sua atenção desde criança.

“Profissionalmente e até em diversão, tudo na minha vida está ligado à música, mesmo que a semente não tivesse sido plantada de forma explícita”, explicou o cantor.

Quando adolescente, teve o primeiro mergulho na música pernambucana por meio dos movimentos manguebeat e udigrudi, com referências como Ave sangria, Lula Cortês e Chico Science. Foi explorando essa musicalidade que Vilela conheceu uma das grandes inspirações: Reginaldo Rossi, o Rei do Brega.

Com fortes influências de Reginaldo Rossi, Evaldo Braga, Balthazar, Elino Julião, Paulo Sérgio, entre outros, a paixão pelo brega das décadas de 70 e 80 vem das letras românticas e dos arranjos simples. Naquela época, músicas de outros gêneros eram complexas e exigiam diversos recursos. Já brega, embora simples, apresentava melodias muito bem elaboradas e letras românticas que exaltavam o mais lindo sentimento: o amor.

“Eu me sinto muito tocado por essa sensibilidade e por essa técnica, embora os críticos falam que é superficial, música de quatro acordes, eu vejo um campo muito fértil” contou Vilela.


O quartinho

Em 2018, Cadu, o guitarrista, apresentou para Vilela e Manoel Malaquias, o baterista, uma proposta que mantinha a essência do brega, mas com uma pegada mais alternativa. Ambos abraçaram a ideia e assim nasceu a banda. Em 2019, Zerra, o baixista, passou a integrar a banda e também foi responsável por dar o nome “O quartinho”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                                                     (Imagens: @douglasluc)

“Exatamente por ser quatro pessoas, e a gente ensaiar no quarto. Também tem a ver com o quartinho, que é a medida que a gente usa aqui em Pernambuco, o copo americano de cachaça, quartinho de cachaça, quartinho de alcatrão, etc. E aí, o nome e a banda surgiram nesse aspecto” contou Vilela.

A banda traz um ritmo que carrega a originalidade pernambucana, misturando o brega com o rock alternativo e misturando as duas experiências, do brega mais alternativo com a banda para o brega mais clássico no seu projeto solo, Vilela fala que se sente privilegiado por transitar entre os estilos e pisar em vários palcos.

 


Resistência Brega Nacional

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                Trecho do visualizer "Só me interessa o amor", de Pedro Vilela. Foto: Reprodução/Youtube)


Assim como Raul Seixas criou a sociedade alternativa, Vilela quis brincar com essa questão institucional ao criar a “Resistência Brega Nacional”. Embora essa instituição não exista de fato, ela traz uma certa legitimidade, o artista explica que nossa sociedade tende a respeitar mais coisas que possuem selos ou marcas oficiais e por isso ele quis brincar com a ideia ao mesmo tempo, destacar que todos têm um pouco de resistência brega dentro de si.


Trajetória Solo

Em 2021, o artista decidiu lançar o primeiro projeto solo. O EP, intitulado como “Tomando uma no sereno”, retrata o cotidiano do bairro e as próprias vivências do cantor.

A primeira música, que leva o mesmo nome do EP, foi escrita durante o período da pandemia e inspirada por uma cena que Vilela presenciou de um homem sozinho sentado na sua calçada tomando cachaça e guardando dentro de casa “Protejo a bebida, exponho as emoções” - Tomando uma no sereno.

O EP conta com mais três faixas: “A Garrafa, o copo e a alma”, “Não existe saída para mim” e “O brega vai voltar” que é como uma resposta para a música de Reginaldo Rossi “O rock vai voltar” como uma ironia já que para o artista o brega não morreu.

Em 2023, o cantor lança “Não posso sonhar em te perder”, que começa a explorar mais sobre o artista e seu eu lírico. Em 12 de julho de 2024, Vilela apresenta o EP “Só me interessa o amor”, que conta com três músicas. A faixa-título fala sobre uma fase do artista em que ele desejava um relacionamento sério, mas só encontrava pessoas que não compartilhavam do mesmo desejo, mas que isso não faria ele desistir.

Em “WhatsApp do amor” o artista faz uma brincadeira com os meios de comunicação entre os apaixonados. Durante as décadas de 70 e 80, os meios de comunicação frequentemente apareciam nas letras de brega, como telegramas ou cartas e Vilela atualiza essa temática fazendo uma relação com o aplicativo de mensagens muito utilizado atualmente, o WhatsApp.

O single “Só me interessa o amor” conta com um visualizer que traz cenas de casais apaixonados dançando em casas de show. No entanto, Vilela revela o desejo de criar um álbum visual, algo que não foi possível devido à falta de recursos.

Pedro Vilela
O Quartinho
Pedro Vilela

É reggae, frevo, cultura, resistência. É a Nzambi que há 20 anos transforma com sua singularidade

Grupo musical que em 2023 está completando duas décadas.

N'Zambi
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