Pernalonga é símbolo de resistência e singularidade na arte do País
Obra assinada pelo jornalista e escritor Márcio Bastos é uma memória da história e vida de Roberto de França
Leandro Lopes
17 de março de 2024
A alegria, a agitação, a transformação e a efervescência cultural - essas características emblemáticas poderiam facilmente ser associadas a diversos eventos no Brasil, como o Carnaval, uma festividade grandiosa que envolve os dias de momo de inúmeros foliões. No entanto, vou compartilhar sobre alguém que vai além desses conceitos, adicionando sua essência única e brilhante: Antônio Roberto Lira de França, mais conhecido como Pernalonga. Artista, ator, dançarino, performista e muito mais, ele era capaz de transcender limites, deixando sempre sua marca inconfundível que jamais será esquecida. A história de Roberto se eternizou em um livro e um acervo que retrata a beleza e a essência pura que ele representava. Escrito pelo jornalista Márcio Bastos, o perfil de Pernalonga é um verdadeiro tesouro de talento e inspiração.
(Imagens: Reprodução/ acervo)
Jovem, negro, oriundo da periferia, bissexual, ele enfrentou muitas batalhas para se tornar quem era e quem ainda é. Desenhado de forma singular, o livro transporta você para a juventude de um sonhador. Ele sempre alimentou o sonho de se tornar um ator e, com imensa perseverança e determinação, alcançou esse objetivo. Um adolescente de 17 anos, dotado de uma versatilidade incrível, transformou-se nos personagens que um dia nem almejava interpretar. A cada página virada na obra escrita por Bastos, você compreende quão árdua e desafiadora foi essa jornada para Roberto de França.
"Pernalonga - Uma Sinfonia Inacabada" é um dos livros mais desafiadores de se ler, não devido à escrita ou à delineação das passagens, mas porque reconstituir a vida de um ser que, infelizmente, muitos não chegaram a conhecer, nem mesmo assistir, como eu. Ler sobre Roberto é como ler sobre alguém muito distante, mas ao mesmo tempo muito próximo. As descrições dos lugares, das pessoas, dos eventos, saber que já estive e pisei no mesmo solo que ele, e nunca ter vivido o mesmo é doloroso, mas ainda assim é fortificante.
(Imagens: Reprodução/ acervo)
Como citado anteriormente, a dificuldade era um dos sobrenomes de Pernalonga, mas com alegria e agitação, uma dor poderia ser curada rapidamente na visão dos demais, já que quem estava ferido fazia de tudo para demonstrar estar bem. Roberto foi forte e parceiro desde o dia em que descobriu um dos maiores baques que enfrentou em sua vida, mas jamais escondeu quem ele era. Mesmo com tantos julgamentos e preconceitos contra ele, o multiartista ensinou a todos como a arte tem um poder curativo e usou dela para permanecer nos palcos mesmo tendo muitas perdas.
Pernalonga representa a transmutação de um ser que jamais existiria, ou que poderia ser interpretado de outra forma. Se estivesse vivo, Roberto certamente lutaria contra o bolsonarismo e continuaria defendendo os direitos LGBTQIAPN+, a arte e a música. Ele seria uma voz ativa na disseminação de informações sobre como se prevenir da pandemia da Covid-19 e de infecções sexualmente transmissíveis. Seria esse canal de transformação que sempre foi. Imaginar o gigante Perna nos dias de hoje é vislumbrar um líder inspirador e engajado, comprometido com a justiça social e o bem-estar coletivo. Viva Pernalonga, Viva Roberto de França.
(Imagens: Reprodução/ Redes Sociais)
"Pernalonga - Uma Sinfonia Inacabada", de Márcio Bastos, está disponível na Companhia Editora de Pernambuco (CEPE) e pode ser adquirida virtualmente ou nos pontos de venda da CEPE.