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Ejaperiferi: Uma década de arte atravessando as avenidas

O evento celebra dez anos de trajetória, unindo a força da arte urbana com reflexões sobre identidade, território e consciência ambiental.


“Então foi bem um encontro, né? Entre eu e o grafite, a gente anda lado a lado até hoje. E agora, eu tô fazendo  uma exposição, depois de dez anos de trajetória ”Em entrevista exclusiva, a Manguetown Revista conversou com o grafiteiro e artista urbano Paulo Henrique, conhecido como Ejaperiferi, nome que une o pajé e a periferia. O artista compartilhou um pouco de sua trajetória e conexão com o grafite e a arte urbana.


O Encontro


Imagem: Jezz Maia

Diretamente da Zona Oeste do Recife, na periferia de Roda de Fogo, o artista urbano teve seus primeiros contatos com o grafite desde muito jovem.


“Na minha infância, aos oito anos de idade, eu conheci o grafite em um projeto do governo, que era de escola aberta, e tive a oportunidade de conhecer o grafite e praticar desde muito cedo, e foi uma paixão assim, imediata, porque era muito do que eu via nas ruas, a galera fazendo, também me dava muita autoestima, e ser um jovem negro, fazedor de uma cultura que me representava”, conta o artista.

A arte como empoderamento


Ejaperiferi também destacou a importância do hip hop na trajetória e na construção da autoestima, citando o cantor Emicida como uma grande inspiração.


“Esse empoderamento do negro, das artes, de você mesmo como artista, de se achar lindo, de você se achar representante daquilo, né? Porque ele diz também que o hip hop trouxe a autoestima que ele não tinha no colégio, não tinha nos bairros. Eu sempre me identifiquei muito”, conta o artista urbano.


No grafite, ele menciona as influências que surgiram dentro do próprio bairro: “Em relação a arte mesmo, grafite diretamente, eu tive muita influência lá do bairro onde eu cresci, que tem os primeiros fazedores de arte aqui em Recife, em Pernambuco, que faziam pichação, que foi dois irmãos que vieram de São Paulo e começou a fazer pichação aqui através disso. Teve outros jovens dali do meio, né? Não precisava sair muito pra ver isso, rolava no meu bairro mesmo. O colégio era bem do lado da minha casa e estava sempre recebendo essas pessoas do estado todo, assim, pra fazer.”


Além de resistir por meio de uma arte frequentemente criminalizada no Brasil, como o grafite, o estilo bomb, o artista também usa suas obras para denunciar o racismo ambiental.

Kapiwari 

Imagem: (Acervo do Artista)

“Esse animal [a capivara] é muito resiliente, e tem uma história muito bonita aqui. Até na origem do nome, que vem de tupi, significa que esse animal que vive em todas as águas. Que hoje em dia a gente vê esse animal em canais, em maré, em todo tipo de ambiente, né? Ele me representa muito, porque é isso, né? De andar nas ruas, de estar em todo canto”, diz Ejaperiferi.


O personagem “Kapiwari” pode ser visto em diversos pontos de Recife e Região Metropolitana. Além de sua ligação especial com o artista, a obra serve como uma forma de denúncia e um convite à reflexão sobre questões ambientais.


“E trazer também esse protesto, né? Essa reflexão sobre o que estão fazendo com o habitat desses animais, com nossos rios, com a nossa cidade, tá ligado? Em relação a tudo isso, desses eles, pelo ecossistema, né? Que é muito rico.” completa o artista.

Outras obras do artista também têm esse caráter de denúncia, com algumas peças retiradas do Rio Capibaribe e transformadas.



Imagem: Jezz Maia

Entre a Resistência e a Marginalização


A grafitagem, pichação e artes urbanas ainda são frequentemente vistas de maneira marginalizada ou consideradas vandalismo em muitos contextos sociais.


“Tem muita hostilização da polícia, de moradores, de pessoas mesmo, cidadãos, que se acham no direito de ir de encontro aquilo, né? Que não conhece, que não entende, que desrespeita mesmo assim o espaço da pessoa” conta Ejaperiferi.


Além da hostilização, há também a dificuldade financeira e a falta de valorização da arte e do artista :“Eu acho que é o acesso mesmo, econômico, de viver da sua arte, de ser enxergado como artista, como alguém que pode chegar ali e vender uma obra ou se não fazer alguma pintura e não ser tão descriminalizado assim na rua. Você não é reconhecido, a galera não paga seu serviço merecidamente, né?”

EjaPeriferi Bomb: 10 anos 


Completando uma década, o artista traz sua primeira exposição solo, denominada como “Das avenidas Adentro”, a exposição que tem a curadoria de Rebecca França, Artista-Curadora, traz muito do que é o artista e suas experiências.


“Eu trago realmente o nome dele, do projeto, da exposição, é isso, é das avenidas adentro. Eu trago tudo que eu absorvi na avenida, o que eu aprendi, o que eu aprendi através do turismo mesmo, praticando. Sou bastante aprofundado, assim, então eu trago tudo isso, é muita identidade pra isso, em cada cor, em cada composição mesmo, e muitos sentimentos aí” ,conta o artista


Quando perguntado qual mensagem ele deixaria para os jovens que veem futuro na arte urbana, Ejaperiferi fala: “Então, deixo também pra galera que vem agora. Eu enxergo, assim, que a arte urbana pode ser um meio de mudar muita coisa. Tá acontecendo muita coisa nessa cidade. E o próprio reconhecimento mesmo quanto a arte urbana tá mudando. E aí é saber aproveitar isso, não deixar ser engolido por essa demanda de vendas que tá rolando agora.  Você precisa saber seu espaço, o que você faz.”


O projeto “Ejaperiferi Bomb 10 anos” terá a duração de 1 mês e vai trazer diversas atividades, a abertura acontece no dia 12 de setembro de 2024 às 18h no Coletivo Raiz, na Rua da Moeda, 71. 


A programação completa do evento de comemoração dos dez anos do Ejaperiferi pode ser acompanhada pelas redes sociais do artista: @ejaperiferi.


As inscrições para as oficinas podem ser feitas através do link: https://forms.gle/D2aMhA22DoZ5ppdE7



Imagem: (Divulgação/Instagram)



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