Escritora, poeta e referência de luta pela igualdade racial em Pernambuco, Inaldete Pinheiro ensina com sua história que as raízes de um povo semeiam o futuro
Inaldete Pinheiro
substantivo próprio feminino
1. escritora. 2. contadora de histórias. 3. conhecedora do maracatu. 4. mulher sábia, professora. 5. cidadã recifense, referência pernambucana.
Inaldete nasceu em 1964 na cidade de Parnamirim, no estado do Rio Grande do Norte. Chegou em Pernambuco aos 20 anos, de mudança ao Recife, capital, para prestar graduação em Enfermagem na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Já nos entornos do campus universitário, a jovem escritora notou as injustiças da sociedade regida por um preconceito que, na época, não ousava dizer seu nome.
Potiguar de nascença, Inaldete se tornou essencialmente pernambucana na sua juventude pelas lutas durante o processo de criação do Movimento Negro em Pernambuco. Em sua turma de graduação, era uma das seis pessoas negras que frequentavam o curso de Enfermagem. Durante a década de 90, a escritora se tornou uma figura importante na reorganização do Movimento Negro de Pernambuco, nascido por meio de conversas em sua casa no centro do Recife.
Além da militância imprescindível no Movimento Negro, Inaldete Pinheiro ingressou no nascente Fórum de Mulheres de Pernambuco ainda nos anos 80. Logo nos primeiros anos de residência na capital, já se tornou uma mulher de destaque na militância pela igualdade racial e de gênero. Com seus conhecimentos em saúde e especialização em serviço social, ela integrou grupos de saúde para a população negra e participa ainda hoje de ações civis voltadas à educação afro-brasileira nas escolas.
Mas não só de política vive uma lutadora. A sua arte, ainda que vinculada às lutas por direitos humanos que rodeavam sua rotina, precisava soltar-se ao público. Filiada à União Brasileira de Escritores (UBE), Inaldete coleciona poemas, cartas, ensaios e bibliografia educativa, focando sua escrita para a produção literária infanto-juvenil. Alguns de seus livros são “Cinco Cantigas para você contar”, “Racismo e Anti-Racismo na Literatura Infanto-Juvenil” e “A Calunga e o Maracatu”.
Em entrevista à repórter Giovanna Carneiro, no portal Afoitas, Inaldete contou que não se considera poeta como profissão, mas um chamado de vida: “A escrita para mim é uma coisa de meia idade, praticamente, porque eu não nasci escrevendo, mas já tem 70 anos que eu escrevo. [...] É um caminho muito bom que eu encontro para me comunicar, para me dizer as coisas que não foram ditas, mas que eu devo dizer, as coisas que já foram ditas eu vou repetir, mas o que eu penso sobre o amanhã, é uma forma de me encontrar em frente com o futuro.”
No início de 2022, Inaldete Pinheiro lançou seu último livro, “Uma aventura do Velho Baobá”. Nele, a escritora conta para as crianças a relação entre os baobás e a ancestralidade africana carregada pelos brasileiros. Os baobás são conhecidos como árvores da vida, suas raízes representam as memórias ancestrais da comunidade que sobrevivem ao longo do tempo. Inaldete conta a história de resistência do povo negro, desde a diáspora africana, por meio dos baobás que chegaram ao Brasil com estes ancestrais.
Inaldete Pinheiro é referência nas escolas, participando de ações civis de capacitação em ensino de História da Cultura Africana, obrigatória por lei desde 2003 (LEI N° 10.639). Em 2011, a escritora foi homenageada com a Medalha Zumbi dos Palmares pela sua contribuição à manutenção da memória da população negra pernambucana, juntamente ao seu tão merecido título de Cidadã Recifense.
“Olorum criou a terra, o mar, o ar. Olorum nasceu antes de tudo.
Olorum é o princípio. Ele criou Obatalá e Oruunmilá e deu poder para Eles criarem outras criaturas e queria que todas vivessem em harmonia. Um dia, umas criaturas humanas resolveram tirar lucro de outras e, com armas potentes para este feito, invadiram a região delas e abalaram a harmonia que tentavam manter. Esta era a África.
Quando os africanos eram sequestrados da sua terra para outras terras do outro lado do mar, eles deixavam sua família. Seus pertences materiais, seus companheiros, só trazendo consigo a roupa que vestiam. Amontoados no porão do tumbeiro, eram encarregados feito objetos ou animais, vendidos ou leiloados. E iniciaram uma vida de trabalho duro sem nenhum direito. Só tinham o dever de trabalhar, trabalhar, trabalhar. Essa forma de trabalho era chamada de escravidão.”
(Pai Adão era Nagô, Inaldete Pinheiro de Andrade)
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