Nesta quarta-feira (02), se inicia no Teatro Hermilo Borba Filho (localizado no Cais do Apolo, Centro do Recife) o espetáculo “Mulheres de Nínive”, idealizado pela atriz, apresentadora e produtora cultural Nínive Caldas e direção de Hilda Torres. A peça retrata a questão do sofrimento feminino, o apagamento das histórias das mulheres ao longo dos séculos, além dos ciclos intermináveis de violência e opressão infligidos pelo sistema patriarcal. No entanto, o enredo também busca ressignificar o papel e a existência da mulher, rompendo com estigmas e limitantes históricos.
O espetáculo, que estreia como parte do 17° Festival Internacional Cena Cumplicidades, é fruto de uma pesquisa profunda e de um processo criativo compartilhado por diversas mulheres, incluindo a própria atriz. "Mulheres de Nínive" se desdobra como um mergulho coletivo na desconstrução do patriarcado, abordando o apagamento histórico de figuras femininas, além de abordar as vivências de Nínive Caldas. A peça acontece entre os dias 02 e 03 de outubro, e os ingressos estão disponíveis na plataforma online Sympla.
“[Mulheres de Nínive] realmente trata da invisibilização da figura feminina, especialmente dentro desses ciclos que se repetem ao longo das gerações. No entanto, ela vai além de apenas expor essa questão, que é tão urgente e necessária. Não basta apenas repetirmos o que já sabemos, como o fato de que a cada duas horas uma mulher é estuprada no Brasil, e a cada oito horas uma é morta. A violência é imensa, mas é crucial pensarmos sobre o que podemos fazer, no presente e no futuro, para mudar esse cenário de horror,” contou Nínive Caldas à Manguetown Revista.
A concepção do espetáculo começou a tomar forma a partir da relação de Nínive com Maria Madalena, personagem que a atriz interpretou na Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, em Fazenda Nova. Durante o processo de preparação para o papel, Nínive percebeu que Madalena foi mais uma mulher cuja história foi distorcida e apagada pelo viés machista. A partir dessa percepção, "Mulheres de Nínive" encontra sua essência, utilizando a figura de Maria Madalena como um símbolo das muitas mulheres cujas histórias foram silenciadas.
O título do espetáculo também remete à cidade de Nínive, capital da antiga Assíria, conhecida tanto pelos relatos bíblicos quanto pagãos. No contexto bíblico, ela é a cidade para onde o profeta Jonas foi enviado para salvar seu povo, porém, em um dos capítulos mais violentos do apagamento feminino, foi nessa cidade que ocorreu um massacre cultural e físico de mulheres guardiãs do sagrado feminino, as Eufames. A peça costura essa simbologia com histórias de mulheres como Semíramis e Maria Madalena, criando um enredo atemporal e universal.
A poética da cena no corpo, simbolismo e ressignificação
A proposta cênica de "Mulheres de Nínive" é expressa em um monólogo que dialoga profundamente com o corpo, a simbologia e a ressonância entre atriz e diretora. O cenário, centrado em uma grande saia que representa os oceanos, traz uma forte carga simbólica de conexão e ancestralidade. Todo o espetáculo é construído de forma orgânica, a partir do sentir e do estar presente no corpo. A peça não apresenta uma personagem principal. Ao contrário, são várias mulheres habitando uma só, trazendo à tona figuras históricas e contemporâneas, celebrando as que, ao longo do tempo, usaram seus corpos como instrumentos de transformação e resistência.
“O espetáculo reflete sobre como é ser uma mulher que não mais se apaga, que se fortalece e constrói um presente e um futuro mais seguros e melhores para se viver. A resposta para essa transformação está em nós, em nos fortalecermos mutuamente, entendendo nosso passado para podermos projetar um futuro. Quem não conhece seu passado, não tem condições de planejar o futuro. Espero que o público, especialmente as mulheres, compreenda essa mensagem, mas que também os homens, que são fundamentais na luta contra a violência de gênero, se engajem para que possamos reduzir os índices alarmantes de violência. O objetivo é, afinal, construir uma sociedade mais segura, tranquila e livre para todos viverem”, completou Nínive.
A encenação também conta com uma equipe que contribui para a construção sensorial do espetáculo, desde a preparação corporal de Lili Rocha, que explora o movimento e a respiração, até a trilha sonora criada pelas musicistas e compositoras Nana Milet e Ana Paula Marinho, propondo uma experiência imersiva para o público espectador. O figurino, criado por Xuruca Pacheco e desenhado em conjunto com a equipe de pesquisa, completa a ambientação simbólica, enfatizando o papel do corpo feminino em cena.
Com uma dramaturgia baseada nas pesquisas de Nínive e Hilda Torres, o monólogo transita entre textos criados pela própria atriz e outros autores contemporâneos, como Ezter Liu e Khalil Gibran. Apesar de ser um mergulho pessoal para Nínive, o espetáculo alcança um diálogo universal sobre o papel da mulher na história e a necessidade urgente de quebrar ciclos opressivos.
SERVIÇO
Espetáculo ‘Mulheres de Nínive’ no Festival Cena Cumplicidades 2024
Datas: 2 e 3 de outubro
Horário: 19h
Local: Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, 142 – Recife, PE, 50030-220)
Faixa etária: 16 anos.
Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada)
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