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Escute “Vendavais”, disco que marca revival de Ave Sangria 

Luíza Bispo 

09 de abril de 2024

Após um hiato de quase cinquenta anos, Ave Sangria fez seu retorno oficial ao cenário musical no ano de 2019. A banda ganhou notoriedade com o lançamento de seu disco homônimo, Ave Sangria, de 1974, que instantaneamente se tornou um clássico da música psicodélica pernambucana. Mais do que um estilo musical homogêneo, a psicodelia pernambucana se caracteriza pela fusão de ritmos tipicamente nordestinos, como baião e forró, com elementos do rock clássico e progressivo e uma estética alucinógena. Ao lado de nomes como Alceu Valença, Flaviola e Lula Côrtes, o grupo é reconhecido pela sua importância e pioneirismo nesse cenário musical e também pela disruptividade presente em seu som.

Devido à censura da época, eles tiveram suas atividades interrompidas no mesmo ano por alegações de ‘apologia à homossexualidade’ presentes na faixa Seu Waldir. Os LPs foram recolhidos das lojas, mas esse infortúnio não impediu que o disco de estreia se tornasse lendário para aqueles que o ouviram. Por volta de 2008, com a ascensão da internet, os fãs saudosos começaram a compartilhar o álbum nas redes sociais, fazendo com que jovens que nem eram nascidos na época descobrissem e se encantassem com o seu lirismo setentista.

Graças a essa redescoberta, a banda vinha se preparando para, por fim, dar vida ao seu segundo álbum de estúdio. “Vendavais” foi lançado em abril de 2019, com três integrantes da formação original, Marco Polo (vocalista), Almir Oliveira (vocalista e guitarrista) e Paulo Rafael (guitarrista, violista e produtor), com o acréscimo dos músicos Gilú Amaral (percussionista), Júnior do Jarro (baterista e vocalista) e Juliano Holanda (baixista, vocalista e produtor).

                                                                                                  (Foto: Flora Negri/Divulgação)

Como uma agradável surpresa, o disco possui a mesma essência presente no primeiro álbum: poéticas subversivas com um toque de surrealismo, baladas psicodélicas e sentimentais e arranjos regionais. Quarenta e cinco anos depois, o timbre vocal de Marco Polo segue intacto, tornando difícil acreditar que houve mesmo um hiato de mais de quatro décadas.

Mas isso não é mera coincidência. Com exceção da faixa instrumental “Em órbita”, as músicas presentes foram compostas no mesmo período do álbum antecessor, entre 1969 e 1974. A curadoria trouxe uma seleção impecável, com composições que trazem a mesma identidade sonora e fazem sentido no contexto político atual, dessa vez com maior liberdade e qualidade instrumental, devido aos avanços tecnológicos contemporâneos. É o caso, por exemplo, da música “O poeta”, que traz à tona o contexto de instabilidade social e miséria presente no país. Já em “Vendavais”, os versos “Parta para o tudo/ quebre tudo ao redor/ toda fôrma e forma dos que dizem ‘isso é melhor’/ Melhor é escolher o que você quer ser/ mesmo que não seja o aprovado pelo status quo” poderiam ser facilmente escritos por um jovem inconformado em seus vinte e poucos anos em 2024. Vendavais é a junção perfeita do que há de mais místico e original no tão cultuado primeiro disco de Ave Sangria com as técnicas modernas da atualidade.

O disco, que para os fãs já virou um clássico pela sua capacidade nostálgica e alucinante, cumpre seu propósito de reintroduzir Ave Sangria no meio musical e serve para comprovar que eles estão entre os melhores e mais únicos produtos musicais vindos do meio local e nacional, com apenas dois projetos lançados de forma oficial.

Escute o álbum Vendavais: 

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