Em uma trajetória que começou em uma brincadeira entre amigos, a banda segue cumprindo sua missão desde o início: fazer as pessoas dançarem.
Através da união de amigos de infância que se juntaram para fazer música do jeito e no ritmo que desejavam, nasceu, em 2004, a Academia da Berlinda. O nome já denunciava a energia dos integrantes, que entre o romantismo e o humor, “malhavam” da cara um do outro.
Envernizados por influências musicais, o grupo traz o brilho da cultura popular no compasso de ritmos nordestinos e latinos. Na sonoridade, a cumbia, o merengue, o forró e tantos outros gêneros musicais ganham espaço. O desfecho disso tudo é um verdadeiro gole na essência de Pernambuco, que energiza qualquer um que pare para ouvi-los.
Com 20 anos de história autêntica e uma discografia com forte identidade, a Academia da Berlinda prova, com seus trabalhos, que tudo que é bonito merece ser contado, e que, quando se tem a coragem de fazer aquilo que acredita, a música não para. “No início a ideia era tocar sons dançantes de uma forma que não víamos em outro lugar”, explica Tiné, vocalista da banda. O grupo é formado ainda por Alexandre Urêa (voz e timbales), Tiné (voz e maracas), Tom Rocha (bateria e percussão), Yuri Rabid (baixo e voz), Gabriel Melo (guitarra), Hugo Gila (teclados e synth) e Irandê Naguê (percussão e bateria), Nesse começo, o repertório trazia covers da vanguarda pernambucana que arrastavam diversas pessoas para as festas e bailes que os amigos promoviam. Antes mesmo do primeiro álbum, no entanto, eles já arriscavam algumas músicas autorais.
“No início algumas pessoas estranhavam, mas depois passaram a cantar junto”, diz Tiné.
A ficha de que não era apenas uma brincadeira entre amigos começou a cair justamente com a resposta do público, e, claro, quando “a grana começou a entrar”, relembra o vocalista. Em 2007, veio, finalmente, o primeiro álbum, intitulado “Academia da Berlinda”, que foi o início mais do que bem sucedido da discografia da banda. Rasgando a bolha com hits que trouxeram boas críticas, o disco conta com sucessos como “Academia da Berlinda” e “Envernizado”. É a partir desse momento que a banda passa a cantar somente músicas autorais nos shows.
Foi com a vontade de produzir mais um projeto tão impactante quanto o primeiro que nasceu “Olindance”, o segundo álbum da banda, em 2011. Com a cumbia mais do que presente, e desenhando figuras femininas, como a lua, a praia e a própria mulher, a banda traz 14 faixas que aprofundam a identidade musical desenvolvida no primeiro álbum. Entre as canções estão “Cumbia da Praia”, “Melô do Meninão”, “Fui Humilhado” e “E Então”.
E é em “Nada Sem Ela”, álbum de 2016, que figuras ilustres do repertório da banda surgem. “Só de Tú” e “Dorival”, canções que contemplam a vida e o amor a partir da relação com o mar, são duas das 14 faixas que compõem o disco. O trabalho é seguido de “Descompondo o Silêncio”, último álbum da banda que foi lançado durante a pandemia, em 2020. A provocativa “Fala” e a reflexão de “Derrotas e Vitórias” são destaques, e em todo o trabalho não faltam motivos para dançar.
O mar, o amor, o Clube e gente
Se Dorival Caymmi – saudoso cantor e compositor baiano cuja água é protagonista nas canções – canta o mar, a Academia da Berlinda utiliza o próprio artista como inspiração para “Dorival”. Nessa e em outras faixas, o grupo fala, sobretudo, de pessoas, relacionamentos e situações da vida. E é em meio aos elementos da natureza ou nas críticas sociais trazidas pela banda que o verdadeiro protagonista disso tudo surge.
“A gente fala de muita coisa, mas o amor sempre aparece, mesmo quando não é essa a intenção. Algumas vezes a gente faz uma música mais humorada ou com uma crítica ambiental, mas o amor acaba fazendo parte”, esclarece Tiné.
Mais um que já deu as caras nas letras composta pela banda foi o Clube Bela Vista, ainda no primeiro álbum, na faixa “Bela Vista”. “Chegou um momento em que pensei: ‘vamos fazer uma homenagem ao Bela Vista’ porque tem tudo a ver com a gente, né? Essa coisa da tradição, a galera que vai com aquela roupa de salão, os senhores que vão com sapato bicolor e as senhoras com roupas de baile”, recorda Tiné. A música também homenageou Edinho Jacaré (in memorian) e Valdir Português, dupla de parceiros famosa nas noites cubanas nos clubes do Recife.
Foi a partir da troca que aconteceu a primeira festa da Academia da Berlinda no Clube Bela Vista. “Foi um sucesso, desde as primeiras vezes que a gente tocou lá”, diz Tiné. “O resultado foi muito positivo e a gente criou essa relação. Virou tradição fazer festas e nossos aniversários lá”.
Em duas décadas dedicadas a fazer as pessoas dançarem, a Academia da Berlinda leva essa missão desde o início, e até agora não falhou. Seja dando voz à mulher que clama para Dorival não ir ao mar, ou ainda ensinando a forma mais bonita de dizer “Eu Te Amo”, o grupo traz, enquanto valoriza a cultura popular e as tradições pernambucanas, um acervo colorido de romance, humor e excitação. Para Tiné, as melhores lembranças de toda essa história é a união da banda:
“São tantas coisas, mas cada vez que a gente sobe no palco, quando a gente tá tocando junto, todas as vezes a gente dá as mãos e tenta encontrar essa energia da gente. Esse momento é muito importante”, diz.
Os amigos seguem mergulhados em um mar sonoro, no qual deságua todas as suas referências, e deixam corpos elétricos com essa energia. Tudo isso, claro, enquanto malham da cara um do outro.
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