Símbolo da luta das mulheres negras por justiça, direitos e equidade social, o novo mural de Fany Lima une espiritualidade e arte urbana para inspirar transformação

Fany Lima é um exemplo de resistência e criatividade que transforma experiências pessoais em obras impactantes. Natural de São Paulo e residente em Camaragibe, Pernambuco, a grafiteira traz em seu trabalho uma potência visual marcada pela simbologia do tarô, elementos da cultura afro-brasileira e vivências das periferias. Através de murais que dialogam com as comunidades, ela reflete sobre temas universais como justiça, identidade e resistência.
Primeiros passos no hip-hop e no grafite
Fany cresceu em Embu das Artes, região metropolitana de São Paulo, onde teve seu primeiro contato com a cultura de rua. Foi no núcleo de hip-hop Zuma Luma que ela descobriu a fotografia, seu ponto de partida para se aproximar do grafite. Aos 15 anos, incentivada pela conexão com artistas locais, iniciou sua trajetória pintando paredes, documentando encontros e eventos de grafite. "O grafite me abriu um novo olhar sobre o mundo, sobre a minha própria identidade", conta.
Em 2016, uma viagem ao Recife para o evento Cores Femininas, organizado pelo grupo Cores do Amanhã, foi decisiva para sua mudança. Encantada pela cultura local e pela cena do grafite pernambucano, Fany escolheu a capital para cursar Artes Visuais na UFPE. A graduação, concluída em 2023, incluiu uma monografia que relaciona arte, educação e grafite nas periferias, consolidando sua visão crítica e engajada sobre o papel da arte urbana.
Sem Medo no Coração: O mega mural da justiça
Sua obra mais recente, intitulada "Sem Medo no Coração", é um mega mural que une tarô, referências afro-brasileiras e elementos periféricos. Localizado na Zona Leste de São Paulo, o mural traz a figura de uma mulher sentada em uma cadeira plástica, símbolo cotidiano das periferias, sobre um tecido com machadinhos de Xangô. "Quis deslocar a ideia de justiça de um trono inalcançável para algo do nosso dia a dia, que nos leve à reflexão constante sobre ética e justiça social", explica.

A escolha dos elementos reflete a vivência de Fany enquanto mulher negra, periférica, de terreiro e iniciada no candomblé. "A vivência espiritual constitui muito do meu imaginário e da minha visão de mundo. O tarô e outros oráculos são instrumentos de reflexão que me inspiram na construção das minhas imagens”, explicou.
Arte como reflexão e conexão com as comunidades
O impacto de seus murais vai além do visual. Durante o processo de criação, Fany busca dialogar com as comunidades locais. "Nas periferias, a discussão sobre justiça é urgente e constante. Quando as pessoas veem a transformação na paisagem, elas interagem, opinam e se sentem parte da obra", relata.
A artista enfrentou diversos desafios ao longo de sua carreira, desde questões de gênero no universo do hip-hop até a conciliação entre a sobrevivência e a produção artística. "A universidade foi um espaço enriquecedor, mas também desafiador, pois é um ambiente historicamente elitizado. Conciliar os saberes da rua, do terreiro e da academia foi um processo intenso, mas fundamental para a minha formação", conclui.
Próximos passos
Atualmente, Fany se dedica integralmente à arte, desenvolvendo projetos individuais e coletivos. Seu foco está em aprofundar pesquisas sobre o culto da Jurema e sua relação com a arte urbana, além de planejar exposições e a organização de um catálogo de suas obras.
Para artistas iniciantes, ela deixa um conselho: "Permitam-se explorar, estudar e alimentar constantemente a curiosidade criativa. Guardem registros, construam seus portfólios e valorizem sua identidade. O processo é constante, mas vale cada passo", concluiu.
Fany Lima segue como uma referência de arte comprometida com a transformação social, unindo estética, cultura e reflexão em murais que contam histórias e provocam mudanças.
Ficha técnica
Megamural Sem Medo no Coração
Artista: Fany Lima (@ste_fanylima)
Produção: Germina Produções(@germinaproducoes, @leticia.msou e @amanda_1711)
Assistência artística: Osù (osu.ttt) e Simo (@_umsimo)
Fotografia e vídeo: Nego Junior (@negojunior_)
Assessoria de imprensa: Raynaia Uchôa (@raynaia)
Projeção: VJ Mole (@vjmolejunglist)
Bombeiro Civil: Bruno Assis (@bruno.assisdasilva)
Síndica: Margarete Ferreira (@maga_ferreira)
Moradora/Recepção: Leonida Bezerra Leite de Oliveira
Este projeto foi realizado com recursos financeiros do Projeto MAR – Museu de Arte de Rua - Edital n° 08/2024/SMC/CPROG - Secretaria Municipal de Cultura - SP (@smculturasp)
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