Da Raiz ao Canto: com resgate a ancestralidade, novo EP de Poli chega para curar
- Beatriz Santana
- 2 de mai.
- 3 min de leitura
Multiartista explora os sentimentos que a espiritualidade e os saberes afroíndigenas são capazes de causar com lançamento do EP

Em abril, a cantora e compositora Poli apresentou ao público o resultado do EP “Da Raiz ao Canto”, já disponível nas plataformas digitais. As seis faixas que o compõem se apresentam como uma experiência sonoro-sensorial que dialoga íntima e coletivamente com as diferentes marcas circuladas no tempo da multiartista.
O compromisso de produzir o álbum não se resumiu à vontade de atualizar o repertório, mas se revelou como um pedido do corpo e um chamado da própria alma para se (re)conectar com a própria ancestralidade. Foram nas encruzilhadas, onde há permanências e, sobretudo, mudanças, que a artista teve a certeza desse trabalho.
Para a Manguetown Revista, Poli destacou que a responsável pelas produções é a sensibilidade pelas coisas que a envolvem. “A minha sensibilidade está diretamente ligada à minha fé, na vida, na natureza, nas pessoas, na Jurema Sagrada e na capoeiragem, no mover e criar das coisas”, contou.
As temáticas de cada faixa se intersectam no mesmo ponto: as raízes afroindígenas traduzidas na fé e na pluralidade rítmica do ijexá, samba, coco, choro, baião e da capoeiragem que também embalam o EP. Mais que simples influências, essa história é, como caracterizou Poli, a “conta sanguínea, a linhagem e herança genética” que decidiu resgatar.
Com a união coletiva como princípio das coisas, o EP transmite as muitas mãos que o lapidaram e cuidado de cada um para o finalizar. “Esse trabalho carrega a mensagem não só nas letras mas nos arranjos, no balanço e em tudo”, disse. Mensagem essa que as conexões espirituais e de ideias ajudaram Poli a produzir e compartilhar.
DA RAIZ AO CANTO
Após pedir licença, Poli começa a se expressar. Com o canto afiado, conta sobre temáticas diversas ao som de melodias que se combinam. Nesta experimentação, feita junto a Zé Freire, destaca que a base para “coisas diferentes” é uma raiz semelhante capaz de as revelar “quase sempre como iguais”.
LADAINHA
Como na capoeira, que faz de um cântico a ligação do passado com o presente, a voz de Poli transforma a música escrita por Fábio Soares em uma reverência aos mestres que deixaram lições e inspiram novas gerações. Ao ritmo do berimbau, é a soma das vozes que compõem o coro ao solo da cantora que elevam a súplica aos Santos, repetida no refrão, ao ápice da intensidade.
CIGANA
Nesta faixa, o lenço prateado, citado pela cantora, representa o símbolo de fidelidade daquela que “ama e não vai abandonar”. O tom misterioso que acompanha toda a música intensifica a “saudade que mata” deixada pela cigana quando se vai.
Sobre a composição de Tina, Poli conclui com uma lição. “Que as nossas relações sejam sempre baseadas no acordo de amar, honrar e respeitar o outro e caso isso não seja possível, pelo menos que a gente possa manter o respeito”, como contou em entrevista.
PRELÚDIO
O som de pássaros que acompanham as pisadas em folhas criam o ambiente suave para a ideia que Poli decidiu passar e está presente em todo o EP: é preciso se envolver com cuidado para entender as mensagens deixadas pela natureza, pelas pessoas e, sobretudo, pela própria espiritualidade.
LICENÇA
Neste “samba bonito pra Caboclo encantada” composto em parceria a Daniel Menezes e Rodrigo Felix, bem como cantado por Poli junto a filha Leona é possível perceber a conexão espiritual que atravessa o tempo, nesse caso, como um herança. Mais do que como um ponto da Jurema Sagrada, a faixa se apresenta como uma síntese de todo comprometimento que tem com a própria fé.
FUMAÇA
Ao revisitar os caminhos que resultaram das encruzilhadas, a composição feita com Zé Freire e colaboração de Alma da Lívia, e o canto de Poli junto a Alessandra Leão “vai ao vento” enquanto celebram a tradição da Jurema Sagrada; os ensinamentos dos guias espirituais, das mestras e mestres, dos caboclos; a natureza e o resultado, em forma de EP, de todo um trabalho.
Foram as mestras e os mestres ancestrais que preparam o caminho e guiaram os passos de Poli da raiz até o canto. O disco marca, para além do amadurecimento da artista, a oportunidade de repensar temáticas; rememorar lugares e ideias diversas; e aprender com os ensinamentos e. É uma síntese de que a arte de Poli “é pra trabalho, mas também é pra curar”.
(Re)conecte-se com a essência espiritual e se fortaleça por meio deste verdadeiro “ebó para orí”. Ouça o EP “Da Raiz ao Canto” disponível nas plataformas digitais e conheça mais do trabalho da artista Poli pelo Instagram: @umapolii
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