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Foto do escritorLetícia Barbosa

Duelo Estadual de MCs seleciona o representante pernambucano para campeonato nacional em Belo Horizonte( MG)

O evento realizado pela Batalha da Escadaria e a Família de Rua reúne 16 artistas na Livraria Jardim, no Recife, neste sábado (2)



Ilustração: Yankee / colaboração com a Manguetown Revista

Doze anos atrás surgia no bairro de Santa Tereza, situado na Zona Leste de Belo Horizonte (BH), capital de Minas Gerais, uma batalha de rima que reuniria mais tarde 32 artistas com origem nos 26 estados e no Distrito Federal: o Duelo Nacional de MCs. Com a edição de 2024 marcada para os dias 16 e 17 de novembro, as seletivas para a competição estão chegando ao fim e, neste sábado (2) é a vez dos pernambucanos se enfrentarem no confronto de palavras. 


A final estadual do duelo será composta por 16 MCs, que se enfrentarão em quatro rodadas, na Livraria Jardim, no Bairro da Boa Vista, no centro do Recife. A programação contará ainda com poesia de Cida Pedrosa e do grupo feminino Floriterárias, e show de Zé Brown. Os DJs Beto e Vlayck comandam os beats durante as batalhas. Já a apresentação do evento ficará por conta de Luiz Carlos Ferrer, à frente da Batalha de Escadaria e realizador do Duelo Estadual, além dos artistas Bettina e Pr MC. Para o júri, foram convidados Fabidonas, RT, Freak e Ed Black.


As seletivas de Pernambuco ocorreram de maio a julho deste ano, ocupando cidades da Região Metropolitana do Recife (RMR), Zona da Mata Norte, Agreste e Sertão. Dessa fase, conquistaram uma vaga no Duelo Estadual os seguintes MCs: Vinícius ZN, Acuca, Menor Tedy, HZ, R. Prince (Ryan), Cabeleira, Hogue, Jason, Spineli, Rugal, Neto, EL Diablo, Professor, Kim, Samurai e Ötzi.




Família de Rua


O Duelo Nacional de MCs surgiu em 2012 com o intuito de reunir artistas do Brasil inteiro. De acordo com o jornalista e um dos fundadores da grande batalha, Pedro Valentim, o PDR, a iniciativa começou a ser gestada a partir de outro projeto, a Liga de MCs, que aconteceu em 2007, em Belo Horizonte. “A Liga foi o primeiro movimento que se propôs a conectar MCs de estados diferentes numa disputa”, conta Pedro. 


Foto: Tulio Santos/ Estado de Minas

Encabeçada pelo coletivo Brutal Crew, a Liga selecionava MCs de diferentes estados e promovia audições de freestyle no Teatro Francisco Nunes. Na época, PDR e seu amigo Léo Cezario já organizavam um encontro quinzenal, às sextas-feiras, na Praça Sete, que fica em um cruzamento da  Avenida Afonso Pena, uma das principais da região central de BH. 


A batalha de rima local chegou a receber uma edição da Liga de MCs e deixou nos organizadores e nos participantes aquele famoso gostinho de “quero mais”.


“Isso foi a fagulha para o Duelo de Mcs, porque foi um momento em que a gente experimentou uma energia de troca mesmo, de viver essa experiência da cultura Hip Hop que a gente não vivia há muito tempo”, explica PDR. 

Ele conta que o insight foi do Léo: “ele viajou na ideia de que a gente precisava começar a fazer o duelo, experimentar aquela energia de novo. A gente precisava começar a fazer uma batalha toda semana, um encontro, alguma coisa, porque foi foda demais e não queríamos perder aquilo”.


Surgia, então,  o Duelo de MCs - que ainda não era o nacional. Dali para frente, a batalha mudou de lugar, passando a se abrigar embaixo do Viaduto de Santa Tereza, área que hoje é conhecida pelos moradores e moradoras pela efervescência cultural, e muito disso por causa dos encontros de rima. O movimento que emergiu ali fortaleceu uma cena importante da cultura Hip Hop mineira. Nomes como FBC, Djonga e Clara Lima eram presenças frequentes naquele território. 


O Duelo impactou tanto que PDR e Léo resolveram montar um coletivo para se dedicar à missão de expandir o evento. “A Família de Rua nasceu porque a gente precisou começar a organizar aquilo que estava acontecendo a partir do Duelo de MCs. Todo mundo começou a perguntar: o que está rolando? Quem são essas pessoas? Quem fala por esse movimento aí que, toda sexta-feira, está enchendo de gente o baixo centro da cidade? Quem responde por isso?  Como é que é? E aí a gente criou um coletivo. Então, a Família de Rua é uma consequência do Duelo de MCs”, revela PDR. 


Editais, parcerias, a soma de Tomás Dias ao coletivo, e muito trabalho depois, em 2012, a Família de Rua colocava no mundo o Duelo Nacional de MCs. E Pernambuco já estava lá, como conta Pedro:


“O Duelo Nacional é uma competição que reúne a cena das batalhas de todo o Brasil. Ele começou pequenininho lá em 2012 com Belo Horizonte, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Espírito Santo e Bahia, sete estados. Cada um fez uma batalha, na sua cidade, nas capitais, e os MCs que ganharam vieram para Belo Horizonte disputar a final no dia 26 de agosto de 2012. Eram dois MCs de Belo Horizonte, Douglas Din e FBC, e outros MCs de cada um dos estados”.

Pernambuco no roteiro da rima


Foto: Juan Marvin/ Divulgação

Os MCs pernambucanos marcam presença na articulação com a cena de batalhas nacional mesmo quando a ideia do Duelo Nacional ainda nem existia, isto é, já nas audições da Liga. 

Na organização local, está Luiz Carlos Ferrer, o Duh, criador da Batalha da Escadaria, que ocupa a Conde da Boa Vista há 16 anos. “Em 2012, veio o convite. Nessa época, eram poucas as batalhas no Brasil e aqui em Pernambuco também. A Batalha da Escadaria já estava ativa e fui convidado para organizar”, declara. 


Luiz, à frente daquela que é considerada a primeira batalha de rima do Nordeste, conta que muita coisa mudou desde aquele período até os dias de hoje. No início, as seletivas para o Duelo Nacional de MCs eram regionais e não se conseguia ter representação de todos os estados. Parte da motivação era a pouca difusão dessa manifestação cultural. “Era uma coisa mais nova; existia batalha, mas poucas pessoas faziam freestyle. Hoje em dia a gente, às vezes, perde até a conta de MCs de batalha”, relata. 




Foto: Juan Marvin/ Divulgação

Aos poucos, o Duelo evoluiu para o formato atual, em que conta com 32 MCs, sendo 27 vencedores das finais estaduais e os cinco que conquistam a vaga no processo de repescagem. De acordo com PDR, desde 2019, todos os estados participam.


Para Luiz, a proporção que o movimento vem ganhando só foi possível pela colaboração. “Ninguém faz nada sozinho. Eu dou uma entrevista, faço uma articulação, mas tem uma galera que toma conta da logística, que assume o júri. Tem Fabidonas ajudando com as informações, tem técnico de som, DJ”, enumera o organizador enquanto defende a importância da coletividade no movimento Hip Hop. 


Outro ponto de destaque das seletivas para a edição estadual é a tentativa de driblar as adversidades e dar o máximo de oportunidades para que os MCs conquistem sua vaga. Luiz explica que isso é possível a partir da realização de mais pré-seletivas, como é previsto no regulamento da organização nacional. “A Batalha da Escadaria promove uma seleção ampla e inclusiva, garantindo que todos os participantes tenham igualdade de oportunidades na disputa”, defende.


Para Vitú, que ficou de fora das seletivas este ano, mas foi o representante pernambucano na edição de 2023, junto ao amigo, Vinícius ZN, eventos de proporção nacional são grandes oportunidades.


“ O Nacional  é um evento muito importante porque envolve todas as regiões do Brasil e há um processo seletivo. De fato vão chegar os melhores de cada região ali e o melhor vai vencer. Eu acho muito importante, porque geralmente os lugares fora do eixo, do Rio, São Paulo, não tem a visibilidade que merecem. Deve haver um MC bom, deve ter uma MC muito melhor do que vários campeões nacionais lá no Pará, em algum interior do Pará que a visibilidade não chega lá, por exemplo. Deve ter uma MC, tipo assim, monstruoso lá no Maranhão que se não for o Duelo Nacional, que se não for um evento que faça uma curadoria que passa por todos os estados, esse cara nunca vai ser visto. Se for apenas por números ou aparência, nunca será descoberto”, defende.

Celebração do movimento Hip Hop


PDR destaca que o Duelo Nacional é mais do que visibilidade é uma verdadeira celebração da cultura Hip Hop. “Sobretudo, é encontro, coletividade, é sobre formação, sobre celebração, sobre respeito. É uma perspectiva de realização de sonho, de dizer que é possível. Tem que fazer acontecer e é nós por nós. Diminuir as distâncias, conectar um país de dimensões continentais em torno de um desafio enorme”, defende


Luiz evidencia a importância de manter o movimento Hip Hop vivo e se renovar com os novos MCs, ao mesmo tempo em que fortalece quem já está correndo atrás há mais tempo. É o caso de Vitú.


O MC explica que optou por não participar do processo seletivo dessa vez. Ele tem tido sucesso em projetos voltados para outros formatos de batalhas Brasil afora, além de estar se preparando para botar na rua dois EPs. Na edição deste ano, ele está na torcida pelos colegas. 


Ao ser questionado sobre sua aposta  para a  final que acontece neste sábado, Vitú não tem dúvidas:


“Minha expectativa é que o freestyle vença, quem tiver mais disposto a fazer freestyle, pensar fora da caixa, vença e que represente a gente lá em BH da melhor forma. Eu estarei lá mandando energia positiva”.


 

Duelo Estadual de MCs


Data: 02/11/2024 (sábado)

Local: Livraria do Jardim (Avenida Manoel Borba, nº 292, centro do Recife) – atrás do Shopping Boa Vista (ponto de referência)

Horário: 15h às 19h30

MCs: Vinícius ZN, Acuca, Menor Tedy, HZ, R. Prince (Ryan), Cabeleira, Hogue, Jason, Spineli, Rugal, Neto, EL Diablo, Professor, Kim, Samurai e Ötzi.

Apresentações: Cida Pedrosa, Floriterárias e Zé Brown

Entrada Gratuita



 


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