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Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop em Pernambuco promove primeiro evento neste domingo (20), no Recife

Foto do escritor: Letícia BarbosaLetícia Barbosa

O encontro, que contará com roda de conversa, shows e batalha de rima, demarca a articulação no Estado e representa o movimento do  grupo para instituição de fóruns locais



Integrantes da FNMH2PE reunidas na sede do coletivo Cores do Amanhã
Reprodução de redes sociais

A Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop em Pernambuco (FNMH2PE) realiza, neste domingo (20), o primeiro encontro sociocultural do grupo. A ação ocupa o Centro de Promoção dos Direitos da Mulher Marta Almeida, localizado na Rua do Bom Jesus, no Bairro do Recife, região central da cidade, a partir das 14h. 


Com o objetivo de ser um momento de troca entre as integrantes de diversas vertentes da cultura Hip Hop no estado, a programação conta com roda de conversa, sarau, batalha de rima, shows e atividades para as crianças. 


Atualmente, a FNMH2PE é formada por cerca de 50 mulheres e pessoas não-binárias atuantes em seguimentos como grafite,rap, discotecagem ,breaking, batalha de rima, audiovisual e outras modalidades que integram o grande leque da cultura Hip Hop no estado. A atividade deste domingo tem caráter especial por demarcar o início da mobilização do grupo enquanto braço da frente nacional em Pernambuco. 


Fabiana Costa (Fabidonas), Mari Periférica e Edgleice Barbosa, integrantes do coletivo conversaram com a Manguetown Revista sobre os objetivos da FNMH2PE e as expectativas para o evento. 


Mulheres no Hip Hop em Pernambuco


O que hoje é a frente pernambucana tem suas raízes em 2010, quando aconteceu o I Fórum de Mulheres do Hip Hop, em Carapicuíba, na Região Metropolitana de São Paulo. A iniciativa, apesar de estadual, contou com a presença de artistas de diversos outros estados, e deu origem a uma carta de intenções e a criação da Frente Nacional de Mulheres do Hip Hop (FNMH2).


Nos anos seguintes, produções importantes nasceram das articulações iniciadas ali, como o documentário “Elas por elas” (2012) e três edições da publicação “Perifeminas”. Em 2024, a articulação conquistou junto ao Ministério das Mulheres, a instalação do Fórum Nacional de Políticas Públicas para elaboração de políticas públicas para as mulheres no movimento Hip-Hop.






A rapper Mariana Oliveira, conhecida como MJ, de Pernambuco, foi a principal responsável por colocar o Estado no radar da frente nacional. Ela também contribuiu para que a sexta edição do fórum fosse realizada no Recife, em 2017, mesmo sem haver ainda uma organização local associada. A grafiteira Gabi Bruce foi outro nome importante nos momentos anteriores à conjuntura atual. Com a ida para São Paulo, as pernambucanas ficaram sem representação nas discussões com as frentes do resto do país. 


A movimentação no estado para integrar a  FNMH2 ganhou forma a partir do final de 2023, quando Fabiana Costa recebeu a indicação para fazer as conexões locais. O nome da rapper surgiu das articulações entre integrantes das organizações nacionais e Débora Aguiar, comunicadora e uma das mulheres mais ativas da FNMH2PE.



Fabiana Costa/ divulgação

Escolha acertada, Fabidonas é figura conhecida no seguimento no estado. Cantora, poeta, produtora cultural, arte-educadora e graduanda em Serviço Social, iniciou sua trajetória na na década de 1990, assinando seus primeiros versos, e, em 2004,formou o grupo de rap Donas, junto com MJ. Além disso, fez parte do primeiro coletivo feminino de Hip Hop de Pernambuco, o Rosas Urbanas Crew. Atualmente, mantém parte de seu trabalho solo ao mesmo tempo que integra o grupo Rap de Afoitas.


Ela conta que começou a formar a frente com a ajuda de Bruce já com a intenção de participar de forma organizada do 9º Fórum Nacional de Mulheres no Hip Hop, em maio de 2024.“A gente fez um mapeamento das mulheres daqui e em seguida criei um grupo de WhatsApp para articular a ação que viria em seguida, que era a chegada ao fórum nacional, no Espírito Santo”. O encontro, para ela, foi instigante. “Pensamos juntas como podemos avançar em relação às políticas públicas voltadas para as mulheres”, completa. 


Na volta, era hora de eleger oficialmente as representantes locais. Com a falta de candidaturas para a liderança da FNMH2PE, Fabidonas assume hoje a posição, ao lado de Mari Periférica e Najdaty Andrade. 


De acordo com o regimento da frente nacional é preciso que haja eleições a cada três anos e as interessadas em ocupar o cargo tenham participado de pelo menos um fórum realizado por essas organizações, sejam elas nacional, estaduais ou municipais. Para Fabidonas e Mari, a regra estimula a presença cada vez mais consciente nos espaços de decisão local. “A participação delas é importante para que saibam o que é a frente e isso estimule o engajamento nos debates e reivindicações”, afirma Mari.


Mari Periférica / Jefferson Gão

Mari Periférica é rapper, poeta, arte-educadora e produtora cultural. Sua trajetória é permeada pela Zona Norte do Recife, tendo ocupado os territórios dos bairros de  Água Fria e Arruda. Além do FNMH2PE, integra o Coletivo Fala Alto, que surgiu depois de um episódio de violência doméstica vivido pela própria mãe. Como cantora, já passou pelo grupo Antologia Rapper e Cena Periférica, de onde adotou seu sobrenome artístico, e faz parte do Rap de Afoitas. 


Najdaty Andrade / divulgação

Já Najdaty Andrade é mulher mulçumana, teóloga, educadora social e grafiteira. Sua história na cena Hip Hop começa  em 2016,  quando a morte do filho, também grafiteiro e pixador, despertou seu interesse em entender essa forma de expressão. 




Organizando para desorganizar 


Para Mari, ocupar o espaço de associação à entidade nacional traz para Pernambuco uma série de oportunidades que podem subverter os desafios que as mulheres ainda encontram no cenário Hip Hop. “A Frente é importante para a gente conhecer outras mulheres e fazer uma troca, saber o que acontece em outros estados e  trazer coisas novas pra cá. É um aprendizado pra todas. E quanto há uma ligação entre mulheres ficamos mais fortalecidas e não nos sentimos sozinhas”, declara. 


Edgleice Barbosa em oficina do MOJIPE/ reprodução de redes sociais


A artista visual, educadora social e integrante dos coletivos Bagaço e Movimento de juventude indígena de Pernambuco(MOJIPE) Edgleice Barbosa acredita que organizar-se enquanto mulher permite evidenciar temas que atingem especificamente esse grupo e seu lugar de fala dentro da cena cultural.  








“Isso é uma demanda urgente. As pautas femininas são muito importantes, mas meio que se isolam dentro do seus respectivos coletivos, ficando cada um com seu povo, cada um nas suas demandas. E a Frente eu vejo como essa potência de juntar todas essas pautas, das mães, das trans, da b-girls, das MCs. Ao mesmo tempo, não é só sobre gênero, abrange a luta cultural, a diversidade de cada bloco, de cada cidade, de cada território. A Frente é um engrossar o caldo”, defende.

Além disso, a institucionalização do movimento de mulheres do Hip Hop abre portas essenciais, a da visibilidade e da captação de recursos. “A nossa organização também estimula que a gente se inscreva em editais enquanto frente e, assim, até há uma pressão para que haja edital voltado às mulheres do Hip Hop”, argumenta Mari. 


A FNMH2 atua ainda com temas como violência de gênero, saúde na periferia, e direitos da juventude.


Fórum pernambucano


Um dos principais objetivos da Frente pernambucana é realizar fóruns estaduais e municipais. Entretanto, a falta de recursos e a dificuldade de se organizar em torno dessa missão diante de tantas outras demandas pessoais e profissionais das integrantes têm sido verdadeiros obstáculos. Nesse cenário, o primeiro encontro sociocultural que acontece neste domingo é para a FNMH2PE um grande passo.


Mari pontua que muitas das mulheres irão se ver pessoalmente pela primeira vez e enfatiza a importância dessa conexão. “Nós queremos que as mulheres se sintam acolhidas pela frente e que, assim, a gente possa se sentir mais fortes para cobrar mais ações, cobrar um edital pra gente, pedir uma audiência pública e conseguir fazer nosso fórum. A gente já progrediu muito, mas ainda tem muito para conquistar”, pontua. 


A expectativa de Edgleice é de incentivar o envolvimento das novas gerações. “Eu espero que a gente consiga acolher essa diversidade de mulheres que vem chegando no movimento Hip Hop para que ele se fortaleça e não se descentralize. Espero que o movimento não seja visto de forma saudosista, que a gente diga para as mais novas: olha, a gente veio até aqui e o caminho é esse, porque estamos cansadas da luta e daqui pra frente é com vocês também”, declara. 


Para Fabidonas, as mais jovens precisam ser engajadas não só pela perspectiva artística da cena. “Essa nova geração chega com a tecnologia e, às vezes, se perde o que é a origem, a raiz do Hip Hop. É preciso falar sobre não normalizar violência e queremos mostrar que isso é uma pauta nossa”, defende. 



 



Programação


O encontro começa às 14h com uma roda de conversa sobre saúde mental da mulher. A tarde segue com recital de poesia comandado pelas poetas indígenas Luara Seridó e Edgleice e apresentação da Dj Kananda PX. Os shows ficam por conta de MC Juana, Jéssica, Ranne Skul, Flor de Pernambuco e Lety. A programação contará ainda com batalha de rima liderada por Mad (Batalha da Várzea), exposição de grafitti e lanche coletivo. 


Para mais informações, acompanhe @fnmh2pe


Serviço:


I Encontro sociocultural da Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop em Pernambuco

Quando:20/10, a partir das 14h

Local: Centro de Promoção dos Direitos da Mulher Marta Almeida



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