HoodBob rompe moldes e desafia a lógica do mercado musical em novo single “Comercial”
- Leandro Lopes
- 29 de mai.
- 2 min de leitura
Cantor reafirma raízes e contradiz convenções do mainstream com um trap carregado de crítica, espiritualidade e pertencimento
Em tempos em que o algoritmo dita tendências e fórmulas prontas garantem cliques, HoodBob lança um sopro de resistência em forma de música. Em “Comercial”, seu novo single produzido por Estevvm, o trapper recifense propõe mais do que uma faixa para as pistas: entrega uma crítica direta à padronização da indústria fonográfica, ao mesmo tempo em que reafirma sua identidade como artista negro, periférico e nordestino.

A força de “Comercial” está na contradição que move sua essência: soa propositalmente "vendável", mas é, na verdade, um manifesto contra o que se vende sem alma. O beat tem a assinatura envolvente do trap moderno, com graves marcados e elementos eletrônicos que flertam com o brega-funk, o drill e o R&B. O diferencial, no entanto, está nas camadas culturais que HoodBob insere com naturalidade, e não como fetiche: há ecos do maracatu, do coco de roda e até do xaxado, elementos que costuram tradição e contemporaneidade com consistência.
Liricamente, o single questiona a originalidade como valor artístico em um tempo em que o sucesso parece sinônimo de repetição. “Até onde um artista pode ir para se tornar ‘comercial’?”, provoca HoodBob, em um flow firme, sem rodeios, que aponta tanto para fora (a indústria) quanto para dentro (sua própria trajetória). As referências à vivência na Zona Oeste do Recife, à religiosidade e às tensões de classe e raça não surgem como pano de fundo, mas como parte central da narrativa.

O clipe, dirigido pelo próprio artista, reforça essa dimensão autobiográfica. Com locações no bairro da Estância, HoodBob constroi uma estética crua, realista e potente. O espaço urbano periférico não é cenário exótico, mas sujeito visual, protagonista de uma história que raramente encontra representação fora do nicho independente.
Entre o gueto e o global
O mérito de “Comercial” não está apenas em sua crítica, mas em como ela se materializa na sonoridade. Ao misturar gêneros urbanos globais com ritmos regionais, HoodBob amplia a cartografia do trap feito no Brasil. Ele rompe com a caricatura do Nordeste musical, preso entre o folclore e o forró, e projeta uma cena que é, ao mesmo tempo, local e cosmopolita, ancestral e digital.

A produção de Estevvm acompanha esse movimento com maturidade, alternando momentos de tensão e respiro, evitando a linearidade que frequentemente marca faixas do gênero. A construção melódica e percussiva reforça o desconforto que a letra carrega, como se o beat também se recusasse a se encaixar completamente no padrão.
Longe de se render à roupagem do “produto vendável”, “Comercial” aposta em uma estética de fricção, aquela que incomoda, provoca e, por isso mesmo, dialoga com um público cansado de fórmulas fáceis. É música que pensa, sente e reage.
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