Karim Al Karim incendeia as mazelas históricas do Recife no clipe de “Sinal de Fumaça”
- Luíza Bispo
- 24 de set.
- 2 min de leitura
Atualizado: 26 de set.
Na terça-feira (23), o rapper Karim Al Karim lançou seu primeiro videoclipe, dando vida às rimas ecoadas na sua canção de maior aposta, a apoteótica e visceral "Sinal de Fumaça". Com um tiro tão certeiro quanto canta Chico Science (sampleado inteligentemente na música), Karim, que já vem sendo persona de destaque nos circuitos alternativos do Recife por suas colaborações com produtores da cena rap independente, encontra na faixa uma mistura esperta entre contundência política e força estética.
A escolha das Torres Gêmeas do Recife como palco da narrativa construída no clipe não é gratuita. Erguidos nos arredores do Cais José Estelita, os edifícios carregam a memória das disputas urbanas da cidade, sendo símbolos de um projeto de modernidade excludente e da especulação imobiliária que redesenha a paisagem a contragosto da população.
“Tapo teus ouvidos antes da explosão
Tamo protegido aqui, eles é que não
Nem sinal do fim da noite
Só sinal de fumaça”
O gesto de explodir as chamadas “Torres Gêmeas do Nordeste” em pleno clipe, como canta Karim, assume a forma de uma performance imagética de insurgência revolucionária. É como se ele apontasse para um Recife que precisa ser reconstruído a partir das minorias e das margens, devolvendo o protagonismo a quem sempre esteve fora dos grandes centros de poder.
Mas Sinal de Fumaça não se limita ao embate. A presença de um par amoroso na letra e nas imagens desloca o discurso também para o campo da paixão. Entre insinuações sexuais e apelos românticos, o rapper sugere que resistência também se faz de afeto, ecoando, intencionalmente ou não, a máxima de Che Guevara: “Há que endurecer-se, sem jamais perder a ternura”. É nessa chave que a canção projeta o amor e o tesão como forças revolucionárias.

Visualmente, o videoclipe aposta em cores saturadas e cortes rápidos, com uma estética que grita vermelho, preto e amarelo. O resultado é fruto da coletividade e da famosa brodagem recifense, que historicamente alimenta os experimentos da cena local. A produção sonora, por sua vez, leva a assinatura de Denizard, colaborador de Karim desde o seu primeiro disco Mais um Sol – que já falamos sobre aqui na Manguetown – com quem dividiu a excêntrica faixa Heat de Verão.
Com isso, Karim Al Karim transforma Sinal de Fumaça em um manifesto audiovisual, convocando a classe trabalhadora à insubmissão, à imaginação política e à possibilidade de construir novos futuros.
Assista o clipe abaixo:
Comentários