Direto de Surubim, Agreste de Pernambuco, Os Aquamans lançam o terceiro álbum instrumental e somam na cena musical misturando o surf music com a psicodelia dos anos 60, influenciados, dessa vez, pelo Oriente Médio.
Unir o surf clássico com a psicodelia presente na música dos anos 1960 e, ainda, fazer isso perpassando por uma junção do rock and roll com o indie pop, parece ser uma tarefa praticamente impossível. Todavia, essa tarefa aparentemente difícil foi muito bem executada pela banda “Os Aquamans”. O grupo misturou todos esses estilos - e um tanto mais - no novo álbum instrumental intitulado “Os Aquamans - III”.
Em 2021, à convite do músico e produtor pernambucano Cássio Sales, a banda integrou uma série de projetos do estúdio Glândula (Gravatá/PE). Na época, eles caíram de cabeça na produção desse novo álbum que se concretizou em 2024, e já está disponível desde agosto em todas as plataformas digitais de música.
Em uma entrevista exclusiva para a Manguetown Revista, o guitarrista d’Os Aquamans, Pedro Barbosa, compartilhou um pouco do que envolveu a produção do “Os Aquamans - III”. O artista também falou sobre as sensações que acompanham o lançamento do álbum, indo um pouco além e para dividir os sentimentos por fazer parte da banda.
"A composição do disco foi basicamente em cima de algumas ideias que a banda tinha salvado, daí levamos pro estúdio e começamos a trabalhar em cima delas, criar arranjos, organizar os riffs. No final a gente tinha quase que um ‘disco conceitual egípcio’, e o resultado final ficou bem legal, particularmente falando”, comentou.
Composto por oito faixas instrumentais inéditas, o álbum começa com um som mais enérgico que prende nossos ouvidos para o resto das músicas. Isso se dá, segundo Pedro, porque a banda: “sempre gosta de começar com o pé na porta”. Essa abertura impactante cria expectativas elevadas que são satisfeitas ao longo do disco. A sequência, com uma progressão fluida e coesa, mantém o ouvinte engajado por estar curtindo uma experiência auditiva envolvente e bem estruturada.
Muito mais que apenas pela organização das faixas, o álbum prende o ouvinte explorando percepções e sentidos por meio de uma atmosfera profunda criada pelos reverbs da guitarra, dos ecos repetitivos (mas nem um pouco cansativos) advindos do delay e de toda a energia e agressividade conseguidas graças as distorções que, unidas, foram muito bem trabalhadas na composição. Mesmo com sons enérgicos e acelerados, que fazem o ouvinte não querer ficar parado, o disco não deixa de explorar outras sensações. A faixa “Natal Total”, por exemplo, é tão cadenciada, que, com um ritmo compassado, cria uma sensação muito suave em quem escuta.
Além disso, o disco “III” conta com uma particularidade que chama atenção: alguns riffs, compartilha Pedro, são em cima de ideias do Oriente Médio, visível no título de algumas faixas - Agente secreto do Faraó, Cleópatra e Anubis pt. I e II, por exemplo. Curiosamente, essas escolhas podem parecer familiares para quem vier do Nordeste, uma vez que algumas músicas dessa região da África, em particular, influenciaram muitas produções da região, inclusive com uma sonoridade semelhante.
Esse “explorar” de ideias não impediu que o disco transmitisse a essência da banda de mesclar, principalmente, características da psicodelia, por meio da presença de ambientes sonoros imersivos e expansivos e um estilo marcado por distorções que envolvem o ouvinte e o levam a outro plano com as características do surf music percebidas pela mistura eclética de ritmos e tendências do movimento. O som enérgico remete a um dia de praia e a sensação de estar surfando - como a figura egípcia feminina estampada na capa do disco que se encontra em cima de uma prancha de surf.
O fato dos integrantes da banda serem de Surubim, uma cidade localizada no Agreste de Pernambuco, a muitos quilômetros do mar, e tocar um som que tem como uma das essências remeter às sensações associadas à praia, acaba trazendo um ar cômico e simbólico para as produções do grupo. Assim, por passarem tão bem a sensação de um dia no litoral e o energizar da maresia, comprova-se que as sensações litorâneas e a proximidade com o mar podem ser sentidas e reproduzidas mesmo estando longe do mar.
Surubim, capital do Metal e palco para "Os Aquamans"
Muito além do lar do artesanato, das feiras ecológicas e da vaquejada, o Agreste pernambucano, mais especificamente, a cidade de Surubim, é lar de diferentes produções musicais. Em especial, o município é a “capital do Metal em Pernambuco”. Desde meados da década de 1990, Surubim é palco para a cena do rock. Como não poderia ser diferente, foi também o ponto de início para Os Aquamans, banda formada em 2014 e composta por Bruno Luiz (teclado), Eduardo Souza (bateria) e Pedro Barbosa (guitarra). Juntos, eles usam distorções e arranjos de teclados tão fortes e inovadores, como uma proposta diferente do que já é/era apresentado, contribuindo para “darem o nome” e conquistarem um espaço significativo na cena do rock local e na cena musical pernambucana.
O lançamento do álbum, que coincidiu de maneira não intencional com a celebração dos 10 anos "Os Aquamans”, serviu para evidenciar, conforme Pedro, que “ao longo desses anos, a banda consolidou o ‘estilo Aquas’ de fazer música”. Esse estilo é fruto de um amadurecimento gradual na composição, refinado ao longo do tempo.
“A banda começou por conta do Eduardo (baterista). Ele é maluco por jovem guarda, adora as bandas instrumentais da época, que têm bastante influência das bandas de Surf Music. Ele foi apresentando o som pra gente, mostrando algumas referências”, detalhou.
Em outras palavras, o que em 2014 era apenas um “tocar por diversão” foi tomando gosto por uma abordagem baseada em técnica e experimentação. Essa evolução tem, não apenas garantido o crescimento dos membros da banda como músicos, mas também gerado a satisfação de continuarem produzindo o som instrumental que os define há uma década.
Surfe nas ondas de Surubim ouvindo o álbum instrumental completo que está disponível em todas as plataformas digitais:
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