A vencedora da edição será a representante do coletivo na competição estadual que acontece em Caruaru e concorre à vaga no campeonato nacional de poesia falada
Seis poetas pernambucanas se reúnem neste sábado (19) para disputar uma vaga na batalha estadual de poesia falada. A final do Slam das Minas PE tem como palco, este ano, a sede do Afoxé Alafin Oyó, em Olinda, que, a partir das 16h, recebe uma programação extensa. Além de pocket shows e roda de conversa, as finalistas são Amun Há, Ayana da Lama, Laís Alves, Nemercia Cabocla, Jessicalen Oliveira e Júlia Bione são o grande destaque do evento. A iniciativa foi contemplada pelos editais da Lei Paulo Gustavo.
O Slam das Minas PE, do Recife, e o Slam Karuaru, do Agreste pernambucano, são os únicos coletivos do estado a integrarem o circuito nacional de campeonato de poesia falada. Após as etapas locais, cada grupo tem uma ou um representante para a edição estadual, que está marcada para o dia 2 de novembro, em Caruaru. Batalha vencida, a ou o slammer segue para a competição nacional, prevista para acontecer na Bahia no início de 2025.
A artista Madame Kyle Saturno já conquistou sua vaga para o estadual na final do Slam Karuaru, realizada no dia 28 de julho. Agora, é a vez do Slam das Minas selecionar a segunda poeta. Iara Castro, slam master e uma das integrantes do grupo recifense, conversou com a Manguetown Revista sobre os detalhes da competição.
Confira um pouco da final do Slam Karuaru:
O Slam só das minas
Diferente do Karuaru, que é misto, o Slam das Minas PE é direcionado apenas para mulheres cis e trans e pessoas não binárias. Como explica Iara de Castro, trata-se de um espaço de exaltação da produção artística desse grupo. “O Slam das Minas vem justamente para ser uma batalha de gênero, falar especificamente para mulheridades, feminilidades diversas”, afirma.
A poeta que assume o papel de slam master - função semelhante a uma mestre de cerimônias - considera que o cenário vizinho, o das batalhas de rima, costuma ser muito mais ocupado por homens cis. Além disso, é um formato de expressão com maior difusão no estado. “A gente vê muitas batalhas de rap, de freestyle, só que majoritariamente masculinas. E aí esse espaço do Slam das Minas vem para trazer a voz feminina” compara.
Com a intenção principal de se somar a um movimento de potencializar a poesia das minas, já existente em outros estados do Nordeste, como Paraíba, Ceará e Bahia, o Slam das Minas nasce em 2017, sob o comando de Patrícia Naia e Amanda Timóteo. As artistas já colaboravam no coletivo Controverso Urbano. Ao longo dos anos, Patrícia seguiu para outros projetos, e somam-se à Amanda, Rafaela Fagundes, Vanessa Serena e a própria Iara.
Outro objetivo do Slam das Minas é garantir a presença de uma representante pernambucana no circuito de Slams nacional. Meta que vem cumprindo com êxito desde o início. Bell Puã, por exemplo, chegou não só ao campeonato brasileiro como também ao internacional, na França. No ano passado, Jessicaellen trouxe para o estado o segundo lugar do nacional.
“A gente sempre propaga que o Slam se expanda para outras regiões e outras cidades, que haja mesmo essa movimentação, mas infelizmente ainda é um movimento que engatinha nesse quesito”, declara Iara. Ela aponta que tem notado algum crescimento com o surgimento de outros Slams, como o de Igarassu e o de Goiana, mas que esses ainda não conseguem participar do circuito brasileiro.
Bastidores do Slam
Uma vez parte do circuito nacional, é preciso seguir algumas diretrizes na execução das seletivas. De acordo com Iara, cada grupo precisa realizar, pelo menos, seis eventos de poesia falada, incluindo uma final, para chegar nos nomes que seguem para o estadual.
Ela explica que no caso do Slam das Minas, por ser uma batalha itinerante, há o esforço de realizar seis competições e uma seletiva final. “Às vezes a gente vai para um bairro, para uma cidade que aquela poeta infelizmente não vai conseguir chegar Então, para dar uma maior oportunidade para essa representante, a gente sempre faz o maior número que conseguirmos”, revela.
Na competição, cinco juradas são responsáveis por atribuir nota entre cinco e dez para cada participante. As slammers, por sua vez, têm três minutos para recitar. Caso extrapole esse tempo, terá desconto na pontuação. Ao todo, são três baterias eliminatórias e uma etapa final que ranqueia o primeiro, segundo e terceiro lugar. Iara conta que a estrutura segue a mesma do duelo nacional com o objetivo de habituar as poetas com o formato.
Iara destaca como a competição é árdua e exige muita entrega das artistas. Nesse sentido, os eventos costumam contar também com uma programação diversificada além das batalhas.
“A performance da poeta, quando ela está ali recitando, ela vai entregar tudo de si e, às vezes, é algo tão íntimo, é algo tão pessoal dela que enquanto está recitando ali lhe exige muita energia, demanda muito dela naquele momento. Então, a gente sempre tenta trazer uma atração, um pocket show para que a gente faça a bateria com tranquilidade”, explica.
A batalha também é por espaço
Iara é do interior de São Paulo e foi ainda por lá que teve o primeiro contato com a cultura Slammer pela TV. Já na Paraíba, pôde viver o movimento a partir do Slam da Paz e do Slam Paraíba. Este segundo tinha ainda outro segmento, o Slam das Minas Paraíba.
Apesar de verificar crescimento na cena, Iara aponta como o movimento costuma ser lembrado em datas pontuais, como o Dia da Consciência Negra ou o Dia da Mulher Latino-Americana e Caribenha. Sobre isso, ela defende que o slam é literatura e deveria ser respeitado como tal.
“ O Slam é literatura, ele precisa ser visto como literatura, ele é parte de uma literatura que agora tá ganhando força e precisa de ainda mais força, porque ele é uma rede de conhecimento. Quando o Slam está na comunidade, quando uma dona de casa que não teve acesso aos estudos, ela sofre com violência doméstica, uma criança que sofre um abuso físico ou mental, ele começa a ouvir essa poesia vai pensar nela e ele vai querer consumir “, relata.
Para ela, ter uma zine ou lambe nos locais de evento é uma forma de também fomentar essa cultura nos lugares que o meio acadêmico dificilmente chega.
“ O slam pode ser um movimento para justamente letrar os nossos, fazer esse letramento com a favela, porque a gente tá num campinho ,a gente tem esse movimento de ser itinerante, que é para chegar em comunidades que é difícil. Não tem como a dona de casa pensar em pegar um livro do Fernando Pessoa, mas sabe quem tá lá, perto dela? A gente, o movimento da poesia marginal”, argumenta.
Além disso, a liberdade poética com que os artistas se expressam pode trazer fortes contribuições inclusive para o ensino formal. “A poesia que a gente vê dentro das escolas tem aquele formato que usa “tens”, que fala “ó céus” “flores”, ela sai desse enredo acadêmico cheio de floreios. Então, a poesia marginal que a gente vem para trazer essa realidade como um baque”, completa.
Neste cenário, nomes como Bell Puã, Patrícia Naia, Olga Pinheiro, Joy Thamires e Odailta Alves são exemplos de um horizonte otimista para esse meio. “Eu vejo que esse movimento é crescente. Hoje a gente vê várias publicações ainda que não tenham chegado a níveis grandiosos como Best Sellers, mas temos figuras que estão a rumo disso. Elas estão chegando lá, ocupando esses espaços”, conclui Iara.
A final do Slam das Minas PE vai contar ainda com uma roda de conversa com o tema "Produção independente na periferia - estratégias coletivas pra se organizar”, com as facilitadoras Mirela Cavalcanti, Gabi Salustiano e Radharane Santos. A programação segue ainda com as apresentações de MC Agô, Briela e Precious Reggae Woman.
Conheça as seis finalistas do Slam das Minas PE:
@amun.ha
@ageofayana
@jessicallen_
@caboc7a
@eulaiisalves
@b.i.o.n.e
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