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A rua na rádio e a rádio na sua rua: conheça o “Cadeira na Rua”, novo programa da Rádio Paulo Freire

Atualizado: há 5 dias

Para além da falta d’água, dos problemas com saneamento básico e da violência já tão retratados, “Ideias e Culturas Periféricas” também são os temas das trocas na rádio toda quarta-feira


Imagem: Reprodução/Lili Alves
Imagem: Reprodução/Lili Alves

É quarta-feira, o relógio marcou 11h da manhã e a produção técnica da rádio já deu o sinal, porque chegou o momento de começar, então: “puxe a cadeira, aumente o volume, chame os vizinhos! Tá começando o programa Cadeira na Rua, Ideias e Culturas Periféricas”. 


Após esta breve introdução, os ouvintes são inseridos no roteiro do novo programa da Rádio Paulo Freire, a rádio-escola da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que estreou em maio de 2025 e o qual o percurso vai ser guiado pela dupla de apresentadores (Tarcísio Camêlo e Marcela Caetano) nos próximos 55 minutos de duração. 


Nos minutos iniciais, a temática da edição ainda pode ser uma surpresa, mas, sobre uma coisa, não resta dúvidas: os sons e as potencialidades das periferias são sempre o destaque. A afirmação é uma síntese de tudo que se propõe o programa fruto do projeto “Do Monitoramento da Mídia Hegemônica à Prática da Comunicação Popular: uma experiência de complementaridade de saberes”.


Financiado pelo edital Nº. 18/2024 da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), o programa foi pensado para estabelecer uma ponte entre as pluralidades dos moradores das comunidades, sobretudo, de Pernambuco e os comunicadores populares selecionados como Residentes em Comunicação Popular. 


Diversos quadros fazem parte da estrutura do “Cadeira na Rua”. Como foram pensados e como contribuem para o objetivo do projeto ser colocado em prática, o jornalista e atual produtor do programa, Tarcísio Camêlo, explica em entrevista exclusiva para Manguetown Revista.


"[o Cadeira na Rua] é a chance de quem faz comunicação popular nos territórios fazer um um pouco das vivências de rádio e as pessoas da Rádio Paulo Freire também vivenciarem um pouco dessa comunicação popular”, afirma Tarcísio.

Com apoio do “Cadeira na Rua”, a Rádio Paulo Freire tem alcançado a rua e a rua tem se encontrado com a rádio. Por meio de um intercâmbio cultural, a estrutura do programa pede cada vez mais por quadros que enfatizem a pluralidade das comunidades.


Da calçada para o microfone: as conversas de rua que se tornaram quadros


"Quando vamos falar sobre mídia tradicional, a gente sempre tende a olhar para a periferia a partir dos problemas. Enquanto todos os programas que a gente realizou agora falamos sobre as potências. E quando falamos das potências, também falamos dos problemas, das dificuldades", explana.

Por que não dar início ao programa com a mediação da literatura? Pensando em “como na vida a gente não vive sem arte, vamos ouvir um texto literário, no quadro Releitura e o Direito Humano à Literatura”. São os versos declamados de um poema, a narração de um cordel ou a leitura de algum trecho que dá início, familiariza o entrevistado do dia e precede a leitura das palavras que vão ser comentadas ao longo do programa.


O público descobre um dos responsáveis por dizer as palavras da edição logo após a pergunta: “quem puxa a cadeira no programa de hoje?”. Não somente, para ampliar a discussão, o programa também conta com o quadro “Testemunho” com depoimentos de figuras sociais, porque as vozes da periferia só precisam de um espaço para o tanto que têm para contar. 


Terminada a entrevista, os ouvintes ficam com o segundo bloco do programa “Cadeira na Rua” e a ambientação do “Escute o Som”, seja com o áudio de uma pelada no campinho ou do horário de pico no terminal de ônibus, o quadro tem tudo para resgatar memórias e soar familiar.


O programa que analisa criticamente e pauta o que pode não estar sendo pautado como merece, também fomenta mais cultura. Não pode faltar em uma edição alguém de fora com uma sugestão de livro na segunda parte do quadro “Releitura e o Direito Humano à Literatura”.


Por fim, o “Som do Dia”, interprograma produzido pela técnica da Rádio Paulo Freire, Catarina Apolônio, vai revelar de quem é a música de fundo que soou por todo o programa. A diversão de cada edição é tentar desvendar o grupo musical que vai ter a história compartilhada no final do episódio. 


Vivência é pauta 


O programa nasce a partir das experiências anteriores de cada residente. Tarcísio, enquanto educomunicador, jornalista por formação, autor do blog e veículo de comunicação “Jornal Cultural” e integrante do coletivo Releitura - Bibliotecas comunitárias em Rede, por exemplo, não deixa de destacar o quanto as perspectivas literárias do programa provêm disso. “Eu já tinha essa vivência de experimentar com rádio, [por isso] essa pegada de cada programa ser um programa diferente”, comenta.


Mais que isso, o apresentador usa como exemplo a comunidade do Alto José do Pinho, localizada na Zona Norte do Recife, pela relação pessoal e afetiva que nutre por ele, assim como o papel crucial do bairro na ampliação da própria carreira, uma vez que foi apresentador na rádio de poste “Autofalante”, como um exemplo do interesse que nutre pelo intercâmbio cultural dentro do programa.


Já a também jornalista por formação, idealizadora do projeto CulturaPerifa, repórter do Portal Afoitas e também residente em comunicação popular na Rádio Paulo Freire, Marcela Caetano, contou exclusivamente para a Manguetown Revista como a formação anterior e pessoal enquanto mulher preta e periférica contribuiu e continua servindo de inspiração para a estrutura do “Cadeira na Rua” que nunca está estática, mas sempre em movimento:


“A minha vivência é diferente da de Tarcísio que trabalha com bibliotecas, porque não é a minha pegada. Mas ele traz o ponto de vista das bibliotecas comunitárias, eu já entro com o ponto de vista de pessoas pretas dentro da periferia”, destaca Marcela.

“Cadeira na Rua” é o programa que fazemos juntos


Para Tarcísio, “quando se fala o nome ‘Cadeira na Rua’, o impacto primeiro é de rejeição, mas quando você começa a pensar sobre a ideia, ganha todo o sentido”. Isso porque evoca a tradição popular de puxar a cadeira para a calçada, encontrar os vizinhos, conversar, compartilhar histórias. É uma metáfora viva da cultura do encontro, da escuta e da coletividade que permeia o projeto desde o início. 


E os sentidos que permeiam o nome “Cadeira na Rua” vão tomar cada vez mais forma à medida que os programas que pretendem fazer nos próprios territórios forem realizados, como previsto na própria proposta de pesquisa-ação. Assim como a “Rádio Paulo Freire - a rádio que fazemos juntos”, o Cadeira na Rua também se propõe a ser.


“Você coloca a cadeira na rua, mas tem que colocar o pé na rua também para ouvir outras fontes”, adiciona Tarcísio, pois, somente dessa forma a experiência de complementaridade de saberes vai estar completa. 


No fim, o desejo é que o programa Cadeira na Rua, bem como outros com o mesmo propósito se consolidem como verdadeiros relatos documentados da periferia. Uma periferia que não se resuma a “obras, falta d’água, locais com problemas de saneamento básico ou criminalidade”, mas que, para além disso, tenha, cada vez mais, as potencialidades ouvidas e incentivadas.


“O que é importante estar nesse programa? Qual a representatividade que a gente quer levar? A gente quer falar só sobre a falta de água ou a gente quer levar o outro lado da periferia também? Todo mundo já tá cansado de saber só sobre coisas ruins da periferia, então vamos levar uma construção bacana, um conhecimento que talvez não tenha ainda e que está do lado delas”, finaliza Marcela.

Toda quarta-feira, a partir das 11h da manhã, Tarcísio Camêlo e Marcela Caetano alcançam você pelas ondas da Rádio Universitária Paulo Freire. Então, “pegue um cafézinho, puxe a cadeira, chame os vizinhos” e volte seus ouvidos para os sons que emanam da periferia e que o programa Cadeira na Rua vai fazer reverberar.  Para conferir mais detalhes do programa, acesse o perfil no Instagram da Rádio Paulo Freire: @radiopaulofreire.



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