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Arteiro - o poeta dos mares pernambucanos

Nativo de Cabo de Santo Agostinho, Fabrício Arteiro é um fazedor de arte plural


Fabrício Arteiro
Foto: Reprodução/Instagram

"Olhe pela janela do futuro e veja, somos nós, ancorados e fomos apenas navegando antes do mar de lágrimas que é a vida." A frase, declamada em uma espécie de “perfil de si”, ao canal FodaseTV, é um dos tantos versos que brotam da mente do poeta pernambucano Fabricio Arteiro, parece resumir sua trajetória: um jovem negro do Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco, que transforma a aspereza da vida em arte — seja nos poemas declamados em presença e nas redes sociais, ou nas músicas que ecoam nas plataformas digitais.  


Arteiro — assim como o nome artístico sugere — é um fazedor de arte plural. Sua relação com a poesia começou num encontro casual com Miró da Muribeca, poeta de rua que o inspirou a ver na palavra falada um meio de sobrevivência e resistência. "Aquilo me cativou demais. E eu disse: Caraca, é isso que eu quero fazer", relembra em memorando.  


Em 2018, Fabrício lançou "O Homem Digitalmente Urbazinado", e-book com nove poemas. No ano seguinte, veio "Diário Preto e Suas Mandingas", livreto artesanal que condensa a vivência de um jovem negro entre Recife e Cabo. "Fala sobre a realidade que a gente vive", explica. A mesma temática crua aparece em "Linhas de Ouro", seu primeiro single musical, e em versos como os de "José", poema que narra a brutalidade policial: "Apanhou, foi humilhado e o deixaram acorrentado [...] com ferro na cabeça, o polícia indagando: e agora, José?".


Fabrício Arteiro
Foto: Reprodução/Instagram

Para Arteiro, a poesia é um grito — especialmente em um estado como Pernambuco, um dos estados recordistas em assassinatos de jovens negros. Seus versos, muitas vezes recitados nos coletivos onde trabalha, ecoam para passageiros que, não raro, confessam não saber ler. "Já me pediram: ‘Mano, tu pode ler pra mim?’. Isso me marca", lembrou em vídeo para o canal FodaseTV.  


A pandemia interrompeu temporariamente suas performances nos ônibus, obrigando-o a retornar à casa da mãe. Mesmo assim, segue publicando vídeos no Instagram (@arteiropoeta), declamando seus poemas nas redes e indicando obras de suas referências poéticas. Entre suas influências, cita “Capitães da Areia”, de Jorge Amado — "Crianças estudam para cangaceiro na escola da miséria" — e os versos de Fernando Pessoa.  


Enquanto sonha com uma casa "com pé de manga" e afeto simples, Fabricio Arteiro navega o presente com a urgência de quem sabe que a arte é âncora e remo num mar revolto. E no meio do caos, seu verso persiste: "Senti meu coração pulando e frevando como se fosse no Carnaval de Olinda".  


“Não acredite em ano novo, muito menos que o caminho seja uma reta. O mundo gira, gira, gira, não tem saída, o ciclo da vida se compõe, não se completa. O que me resta é circular, já que tudo é espiral esperando o espírito inspirar. Deus escreve pelas linhas tortas, pois a beleza das curvas faz o existir ser singular”


Fabrício Arteiro, poema declamado em seu Instagram na virada de 2025


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