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Cine Olinda: um século de história e promessas não cumpridas

Entre lembranças afetivas e abandono, o antigo cinema do Carmo segue fechado, enquanto promessas da Prefeitura de Olinda continuam apenas no papel


“Ah, o Cine Olinda… Eu lembro bem de assistir aos filmes dos Trapalhões lá, com minha irmã. Lembro também dos filmes da Mônica, e minha mãe assistiu as obras de Akira Kurosawa lá. Era muito legal.” A lembrança nostálgica da artista plástica Juliana Notari, olindense, resume o sentimento de muitas pessoas que viram o Cine Olinda como um espaço de encontros, afetos e experiências coletivas. Mais do que um cinema, o lugar era um ponto de conexão entre gerações e um símbolo da vida cultural da cidade.


Inaugurado em 1911, sob o nome de Cine Theatro de Variedades, o prédio tornou-se um dos marcos do bairro do Carmo, em Olinda. Por décadas, foi referência de lazer e cultura popular. Ao longo dos anos, no entanto, as cortinas se fecharam, a estrutura se deteriorou e o silêncio tomou o lugar das sessões lotadas.


Cine Olinda. Imagem: Divulgação/ Paulo Souza
Cine Olinda. Imagem: Divulgação/ Paulo Souza

Em novembro de 2024, a Manguetown Revista trouxe à tona a situação do equipamento, questionando o abandono e a falta de transparência sobre os projetos de recuperação. Um ano depois, a realidade pouco mudou. As promessas da gestão de Mirella Almeida (PSD) seguem, literalmente, no papel.


Desde então, a Manguetown Revista tenta contato com a assessoria de comunicação da prefeita eleita. Após duas semanas de tentativas, a única resposta recebida repete o discurso genérico de um ano atrás. “Estamos em tratativas com a empresa vencedora da licitação para que a contratação seja efetivada ainda este ano”, informou a prefeitura, destacando também que “a recuperação do Cine Olinda é uma das prioridades da gestão municipal, por meio da Secretaria de Patrimônio e Cultura”.


O texto da nota afirma ainda que, após a formalização do contrato, seria possível “captar recursos, tanto estaduais quanto federais, para a realização da obra”. Contudo, quando questionada sobre qual empresa venceu a licitação ou de onde viriam esses recursos, a assessoria não respondeu. Até o momento, nenhuma atualização consta no portal “Tome Conta”, do Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE-PE), sobre o cinema ou eventuais obras voltadas à sua restauração.


Como o Governo Estadual foi citado na nota, a reportagem também procurou a assessoria de comunicação da Secretaria de Cultura de Pernambuco, atualmente sob o mandato da governadora Raquel Lyra (PSD). O que se seguiu foi uma verdadeira “jogada de respostas”: a pauta foi repassada de um assessor a outro, até que o contato simplesmente cessou. Nenhuma resposta oficial foi enviada à equipe.


Cine Olinda. Imagem: Divulgação/ Cine Olinda
Cine Olinda. Imagem: Divulgação/ Cine Olinda

Para quem viveu o espaço em seus tempos de glória, o sentimento é de frustração e saudade. Juliana Notari lembra com carinho de quando o Cine Olinda reunia famílias, vizinhos e amigos. “Era uma experiência coletiva, um momento de ver e ser visto. Hoje, é triste passar ali e ver tudo abandonado”, diz.


Enquanto o poder público silencia, a sociedade civil tenta manter viva a chama do cinema. O movimento #OcupeCineOlinda, criado por cineastas e ativistas culturais, segue pressionando pela reabertura do espaço. Um dos integrantes, o cineasta Cleyton Melo, relembra a ocupação de 2016, quando o local foi temporariamente reaberto com exibições na fachada e atividades colaborativas.

“O Cine Olinda tem um potencial transformador, capaz de mudar a dinâmica da cidade. O abandono desse espaço é quase um crime contra o patrimônio público”, afirma Melo.

Entre os mais jovens, o sentimento de pertencimento se mistura ao desejo de transformação. A estudante de Ciências Sociais Isabela Penaforte desenvolveu uma pesquisa que une as áreas de Ciências Sociais e Cinema, investigando a falta de cinemas de rua em Olinda. Ela acredita que a reabertura do equipamento poderia revitalizar a cultura local e democratizar o acesso à arte cinematográfica.


“Faz falta, mesmo que seja no imaginário. É um espaço fundamental”, diz Isabela, lembrando que o cinema de rua é mais do que uma tela,  é um espaço de convivência e identidade.

Mais de um século após sua inauguração, o Cine Olinda segue como um símbolo duplo: o de um passado vibrante e o de uma promessa que insiste em não se cumprir. Entre muros antigos e histórias vivas, o equipamento espera mais do que palavras oficiais,  espera ação e compromisso com a memória cultural da cidade.


Confira a nota na íntegra:


Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Olinda :


Atualmente, estamos em tratativas com a empresa vencedora da licitação para que a contratação seja efetivada ainda este ano e os projetos complementares possam ser executados. Concluída essa fase, será possível captar recursos, tanto estaduais quanto federais, para a realização da obra.


No ano passado, a Prefeitura de Olinda realizou a licitação para esses projetos, etapa final necessária para viabilizar a recuperação do Cine Olinda.


A recuperação do Cine Olinda é uma das prioridades da gestão municipal, por meio da Secretaria de Patrimônio e Cultura, que tem empenhado todos os esforços para devolver à cidade não apenas um importante equipamento cultural, mas também uma obra arquitetônica essencial para a preservação do patrimônio histórico de Olinda.



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