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Livro que relata 50 anos de trabalho doméstico é lançado nesta sexta-feira (14)

Foto do escritor: Guilherme dos SantosGuilherme dos Santos

Obra é escrita pela trabalhadora doméstica Vera Lúcia e aborda relações de poder que permeiam a categoria


Vera Lucia, uma mulher negra e de cabelos crespos, posa para foto segurando seu livro e uma carteira de trabalho
Foto: Salatiel Cícero

Nesta sexta-feira (14), será lançado o livro “Espanador não limpa poeira: memórias e aprendizados de uma empregada doméstica”, que relata, de forma emocionante e reflexiva, as cinco décadas de trabalho doméstico de Vera Lúcia, 62, autora da obra. 


Com o intuito de trazer o debate crítico a respeito das relações de opressão que marca a categoria profissional, a história , que tem coautoria da professora e psicóloga Wedna Galindo, busca inspirar outras pessoas a refletirem sobre suas próprias experiências. O lançamento acontece na livraria O Jardim, localizada na Avenida Manoel Borba, 292, no Bairro da Boa Vista, Recife, à 18h. A entrada é gratuita, mas os interessados devem realizar cadastro prévio na plataforma do Sympla.


Mulher negra e moradora da capital pernambucana, Vera é natural de Sirinhaém, Zona da Mata, mas se mudou para o Recife aos 14 anos. Mãe solo de três filhas, se dedicou ao trabalho para garantir um futuro melhor para elas, para que tivessem oportunidades que Vera, por sua vez, não teve. 


Foi nos anos 1990, portanto, que o seu caminho se cruzaria com o de Wedna Galindo, quando começou a trabalhar na Biblioteca do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da UFPE. Dedicada, Vera chamou a atenção da professora universitária pela forma cuidadosa com a qual limpava os livros, além da curiosidade pelos títulos. A relação das duas evoluiu, e a partir de conversas, que discutiam a realidade do trabalho e a vida de Vera, surgiu a ideia do livro.


"A cada conversa, percebia que, mesmo sem ser plenamente consciente, Vera estava refletindo criticamente sobre sua própria trajetória e as condições de trabalho que vivenciava", explicou Wedna.

"A produção do livro foi, de fato, uma proposta que surgiu dela mesma. O meu papel foi sempre o de respeitar o desejo de Vera. Eu enxerguei naquele desejo uma grande potência, um potencial transformador, que, se bem conduzido, poderia ganhar vida própria", concluiu.


Dividida em cinco partes, que abordam desde a infância no interior até reflexões sobre dignidade e respeito no trabalho doméstico, o livro trata sobre diversos assunto que atravessam a vivência das trabalhadoras, como casos de assédio sexual, racismo, acidentes de trabalho e privação alimentar. O título emblemático também carrega um significado, pois marca o episódio em que Vera foi acusada de não limpar os móveis, sem saber que o espanador apenas espalhava a poeira. 


"Esse título é mais que uma lembrança, é uma metáfora para como sempre fomos tratadas: invisíveis e desvalorizadas", reflete a autora.


O evento de lançamento conta com a presença das autoras, em uma mesa de debate composta por elas, além de Taciana Ferreira, responsável pela coordenação editorial, e o jornalista e assessor de imprensa, Salatiel Cícero. A prefaciadora e professora, Kaliani Rocha, também estará presente.


 

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