Rima, afeto e resistência: a trajetória de Alemão até a final do Duelo Estadual de MCs
- Beatriz Santana

- 29 de out.
- 3 min de leitura
Finalista da principal disputa do gênero no Estado, o rapper transforma vivências, influências e didática em líricas

Primeiro apelidado de “Alemão” em tom de brincadeira como sinônimo de “comédia”, Matheus transformou o apelido de infância em identidade artística. Passou, enfim, a ser reconhecido como “Alemão, o MC da Zona Norte”. Em 2025, o rapper disputa uma vaga no Duelo Nacional de MCs e, por conta disso, mais um título foi acrescentado ao nome: finalista do campeonato estadual.
Em uma entrevista exclusiva para a Manguetown Revista, Alemão compartilha as outras características que fazem dele o MC pelo qual é conhecido hoje e guiaram a trajetória que o acompanha até a final do Duelo Estadual de MCs.
A potência de um MC quando a timidez encontra o freestyle
É o eco da plateia ao gritar “queremos rimas em 3, 2, 1” o impulso para Alemão superar a timidez e assumir a postura de um MC que, em poucos minutos, faz o nome com o freestyle. O olhar sério e atento, fixo no oponente; as líricas combativas rapidamente pensadas e a presença expansiva prendem os olhos de quem está ao redor. Não se trata de ser outra pessoa, mas de revelar a personalidade marcante que sempre esteve lá.
Para quem questiona o que “seria da vida sem o Hip Hop”, a identificação com as batalhas de rima também assume um papel muito importante. “Se não existisse o Hip Hop na minha vida, eu acho que seria entregue a minha mente, que ficaria na zona de conforto, não conseguiria reagir para vida”, revela. Muito mais que uma âncora que proporciona estabilidade, a cultura funciona como um motor para a vida de Alemão.
Raízes e afetos coletivos: quem forma Alemão
E esse impulso não se resume ao palco: “desde quando eu comecei a rimar, as batalhas de rima me incentivaram a muita coisa. A primeira coisa foi estudar mais, para adquirir mais referências”. Sem fugir da temática, vai de gramática à literatura, utilizando o conhecimento como ferramenta de expressão. Ele é incentivado pela vontade de mostrar que o ritmo pode ser diferente, mas freestyle é, antes de tudo, poesia, sendo os os ultrarromânticos da segunda fase do romantismo no Brasil uma base de fundamentação.
Pelo reconhecimento desses poetas no próprio estilo, Alemão ressignifica o lugar da literatura na periferia e expande a perspectiva de quem a vê apenas como uma disciplina. Por transportar a literatura para o cotidiano, reconhece que a sensibilidade não se limita ao século 19 do Brasil. Nesse movimento, reforça que os MCs, tão ferozes nas competições de rimas, também podem ser os grandes sentimentalistas dessa geração.
A base de Alemão é familiar e comunitária. Dentro de casa, a mãe escutava de tudo, de MPB a Hip Hop, repertório sonoro que usaria mais tarde. Do lado de fora, referências como os parceiros Acuca e Vinícius ZN, bem como figuras como Maria Dinda e Adelaide (organizadoras da Boca no Trombone), moldaram o caráter e a visão de mundo.
“Dinda é a terceira mulher da minha vida. A primeira é minha mãe, a segunda é minha madrasta. Mas foi Dinda quem me mostrou o caminho nas ruas. Se não fosse por ela e por Adelaide, eu não teria o pensamento que tenho hoje”, reconhece.
Solo sagrado: da Escadaria à final do Estadual
A vaga no Duelo de MCs Estadual não veio fácil, mas veio de um lugar simbólico, a seletiva da Batalha da Escadaria. “Aprendi muito na escadaria, rimei com muita gente importante na cena, no cenário nacional. Então, fiquei muito feliz quando consegui a vaga lá. Sempre bom rimar lá, porque é um solo sagrado”, conta.
Mais maduro, olha para a final do Estadual como “a batalha da vida”. É onde quer depositar tudo que aprendeu, errou e, principalmente, acertou. Por quê? Porque, “pela tradição, pelo significado, pelo valor, por tudo, o Duelo de MCs é o sonho de todo MC, tá ligado? É onde todo mundo quer pisar para representar seu Estado”, adiciona.
Com os olhos voltados para o Duelo de MCs Nacional, Alemão carrega não só suas vivências, mas também o apoio de quem fez parte da sua formação. “Quem tem fome mesmo, vai olhar para os próprios erros e tentar melhorar. Cada batalha, ganhando ou perdendo, é um aprendizado”, conclui.
Conheça mais das rimas de Alemão pelas redes sociais: @alemaoznzf.



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