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Segundo álbum de Juliano Muta é uma boa viagem a “lugares fora daqui”

Com nove faixas e um repertório que passeia por reflexões e sentimentos, Juliano apresenta um disco poético e pop


No último dia 14 de agosto, o cantor e compositor Juliano Muta lançou o seu segundo álbum, intitulado "Nesse lugar fora daqui”. Após nove anos de sua estreia fonográfica, marcada pelo surgimento do primeiro álbum, o “Chego perto”, o artista traz um repertório escolhido em uma seleção intuitiva, sem nenhum recorte conceitual ou estético pré-definido, mas com músicas ligadas pela poesia.


Com produção realizada entre 2022 e 2024, feita nos estúdios de Luccas Maia, Nalage Studio e 7 Cordas, Juliano deixa o silêncio mais presente, o que difere do seu primeiro trabalho, quando buscou explorar ao máximo as possibilidades instrumentais.


“Há menos instrumentos e, mais para o fim do álbum, uma proposta acústica que devo explorar no meu próximo projeto”, conta à Manguetown Revista, “Mas, para além dessas diferenças, vejo que uma coisa permanece na minha música: a poética de ambos os discos”.


Compondo há quase 30 anos, Juliano já tem um acervo de cerca de 200 composições, prontas para serem “jogadas no mundo”, como ele mesmo evidencia. Em “Nesse lugar fora daqui”, ele ousa ao explorar gêneros como samba e ijexá, resultado do amadurecimento que também moudou a forma como ele encara o seu trabalho.


Hoje eu entendi que sucesso é conseguir realizar meus álbuns, gravar e lançar minha arte, minha música, como um vestígio, um artefato, uma pintura rupestre que me torna menos perene no mundo. Que vai permanecer ecoando mesmo depois que eu morrer. É muito legal pensar sobre isso e nesta perspectiva, nesse outro olhar sobre os produtos da minha arte”


Juliano Muta posa com maleta em foto de divulgação do novo álbum, o "Nesse lugar fora daqui"
Foto: Ibanez Saueressig

Um passeio diverso


Os sons da sanfona e da zabumba é a chamada que convoca todos para a viagem preparada pelo cantor e compositor no seu novo projeto. Em “Nesse lugar fora daqui”, faixa que abre e dá título ao disco, Juliano traz um baião que evoca reflexões sobre sonhos, desejos e pertencimento. A música ainda se desenrola em um ritmo que é um convite  para que a dança a dois, bem colada e ritmada, como pede um bom baião, aconteça. Com direito a momentos de apreço as marcações do triângulo e do cavaquinho – este último, inclusive, faz praticamente um duo com Juliano –, a canção não revela o que ainda aguarda os tripulantes desse passeio nas oito faixas seguintes. Como em qualquer boa viagem, o caminho percorrido é diverso.




Single “Nesse lugar fora daqui” havia ganhado clipe em junho de 2023. A produção se passa em alguns locais bastante conhecido da capital pernambucana, como a Avenida Conde da Boa Vista e Rua da Aurora


É em “Juízo”, segunda faixa do álbum, que o percurso toma estradas mais calmas, e o ritmo mais lento guia algumas das próximas canções. A música retrata a aceitação e consciência de si mesmo diante do sentimento do outro, enquanto o trombone dá o toque que marca a parte mais noturna do disco. “Cotovelo”, faixa que entra em sequência, continua com os compassos mais devagar. Essa calmaria se estende até “Daquilo que amanhece acesa”, que traz o amor ao centro da composição e o trombone novamente a cena. É essa faixa que fecha essa passagem, um tanto quanto noturna, do álbum/viagem.


Ao ligar a seta e tomar um rumo bastante diferente do que Juliano conduzia até agora, “Nesse Lugar Fora Daqui” entra em uma paisagem mais pop, animada e solar. “Seta torta”, quinta canção do disco, muda os trilhos do itinerário, e os versos falam do esforço e dedicação dentro de uma relação. É em “Dentes de Mentex”, no entanto, que a animação ganha mais espaço. Através do ijexá, a canção, que faz referência a um confeito mastigável, traz um refrão bem chiclete e uma letra profunda. Na faixa em sequência, “Não Trago Mais”, cuja voz e composição é dividida com Tiné (Academia da Berlinda), Juliano “chama pra ver no que dá” a junção dos dois com o chorinho do cavaquinho. O resultado é um belo samba em partido alto e é mais um ponto alto do disco.


De volta a calmaria, “A ver navios”, penúltima canção do álbum, leva o ouvinte a um espaço de maresia e contemplação. Com um quê de Bossa Nova, a faixa é uma das melhores surpresas do álbum, e no roteiro de viagem, é aquela pausa revigorante para uma admiração ao mar. “Livre” conclui a peregrinação poética e reflexiva, e coloca a superação e equilíbrio na discussão central. 



Com 9 músicas ao total, “Nesse Lugar Fora Daqui” é um aprofundamento em emoções diversas. Além da voz de Juliano e de Tiné, Maneco Baccarelli e Igor de Carvalho, que fazem participação em “Não Trago Mais”, “A Ver Navios” e “Livre”, respectivamente, os instrumentos são muito bem aproveitados em todo o trabalho executado por Yuri Queiroga (guitarra), Luccas Maia (baixo e programação de bateria), Guga Fonseca (teclados), Breno Cunha (sanfona), Breno Pessoa (cavaquinho), Lucas dos Prazeres (pandeiro), Gilú Amaral (zabumba), Moab Nascimento (trombone), Glauco César Segundo (piano) Filipe Novais (percussões), Elton Sarmento (violão de sete cordas, tamborim e surdo) e Leonardo Vila Nova (percussões).


No fim, o segundo álbum de Juliano Muta é uma excursão proveitosa, com movimento e calmaria, dança e descanso. Vale a pena se aventurar nesse lugar que o cantor apresenta ao público.

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