Cabo de Santo Agostinho: terra do bacamartismo pernambucano em busca da paz
- Manu Gomes

- 9 de jul.
- 3 min de leitura
No aniversário de 148 anos da cidade, conheça a Sociedade dos Bacamarteiros do Cabo, Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco

“Segura a arma, o bacamarte é esta arte / De saber fazer um tiro de ilusão e tradição”, canta o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, na música “Os Bacamarteiros” (1981), exaltando o folguedo popular. Nesta quarta-feira (09), no aniversário de 148 anos do Cabo de Santo Agostinho, município ao sul da Região Metropolitana do Recife (RMR), a Manguetown Revista celebra a rica tradição do bacamartismo, perpetuada com força e resistência pela Sociedade dos Bacamarteiros do Cabo de Santo Agostinho (SOBAC).
O bacamartismo é uma manifestação da cultura popular nordestina que une tradição, religiosidade e espetáculo. A prática envolve o uso cerimonial do bacamarte — arma de fogo artesanal de cano largo — disparado com pólvora seca durante procissões, cortejos e festas juninas, especialmente pelo estado de Pernambuco.

Mais do que os estampidos, o bacamartismo mobiliza danças, trajes típicos, música de pífanos e zabumbas, além de um forte senso de pertencimento comunitário. Regido por normas de segurança próprias, o folguedo é organizado em grupos chamados companhias ou sociedades de bacamarteiros, que mantêm hierarquias e códigos próprios.
Ligado historicamente à resistência, à fé e à celebração popular, o bacamartismo ganhou nova dimensão no Cabo com a atuação da SOBAC, que contribuiu para sua legalização e valorização como patrimônio cultural no município. Nesta data, a expressão viva e potente do folclore pernambucano busca incessantemente pela paz, respeito e manutenção da tradição.
Sociedade dos Bacamarteiros do Cabo de Santo Agostinho (SOBAC)
José Alves Bezerra, mais conhecido como Zé da Banha, foi o fundador e primeiro comandante da Sociedade dos Bacamarteiros do Cabo (SOBAC). Era torneiro mecânico e um dos muitos camponeses vindos do agreste pernambucano que migraram para o Cabo de Santo Agostinho nos anos 1960, período de crescimento industrial na região.

Zé da Banha foi uma figura essencial para a reconfiguração e legalização do bacamartismo no estado de Pernambuco. Ao perceber o estranhamento das autoridades com a prática do bacamarte — até então desconhecida na região metropolitana —, ele adequou o folguedo às normas de segurança, criou regimento interno, formou grupo de primeiros socorros e estabeleceu parcerias com a indústria de pólvora, além de projetar bacamartes de aço.
Tradição segue com nova liderança
Fundada oficialmente em 1996, a Sociedade dos Bacamarteiros do Cabo (SOBAC) tem como um de seus principais líderes o professor Ivan Marinho de Barros Filho, responsável pela gestão do único Patrimônio Vivo de Pernambuco sediado no Cabo de Santo Agostinho.

Nascido em Maceió, Alagoas, e radicado no Cabo desde a adolescência, Ivan Marinho é graduado em Educação Física pela UFPE e possui especialização em Economia da Cultura pela UFRGS. Multiartista, atua nas áreas da poesia, das artes plásticas e da gestão cultural, com destaque para a promoção e preservação de manifestações populares. Além de tudo isso, ele é poeta e artista plástico.
Sua trajetória à frente da SOBAC teve início nos anos 2000, Ivan foi responsável por resgatar a personalidade jurídica da associação, ampliar o número de brincantes, criar oficinas, organizar apresentações, fortalecer o diálogo com órgãos públicos e articular a criação da Federação dos Bacamarteiros de Pernambuco (FEBAPE), da qual foi o primeiro presidente.
Foi graças ao trabalho dele que foi criado o Museu Olímpio Bonald de Bacamarte (MOBBAC) e da Biblioteca de Folclore e Cultura Popular, além da organização do tradicional Encontro Zé da Banha de Bacamarte e da fundação do Coral Boca de Bacamarte. Ainda nos anos 1990, Ivan atuou para reverter a escassez de pólvora para a prática do folguedo, articulando com órgãos como o Ministério da Defesa.
Pelo conjunto de suas ações em defesa da cultura dos bacamarteiros e da poesia popular, recebeu em 2023 o Título de Cidadão Pernambucano, concedido pela Assembleia Legislativa do Estado por iniciativa do mandato coletivo Juntas (PSOL).
Legado da SOBAC
Ao analisar sua trajetória histórica, fica evidente a importância da SOBAC na organização e mobilização dos bacamarteiros do Cabo de Santo Agostinho. Através desse coletivo, homens e mulheres encontram um espaço que acolhe, preserva suas tradições e fortalece o senso de comunidade e da cultura popular nordestina.

Além disso, a SOBAC desempenha um papel fundamental na inclusão das novas gerações, garantindo que os jovens se envolvam e que essa rica tradição não seja esquecida nem pela população nem pelas autoridades.
Vida longa à SOBAC, guardiã da memória, da identidade e do bacamartismo pernambucano!



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Muito bom, Manu. Agradeço a Manguetown por mostrar um pouco desta luta da cultura popular no interior do estado. É importante revelar que a SOBAC, apesar de todo valor relatado com maestria neste artigo, vem sofrendo, intermitentemente, uma perseguição desenfreada de gestões públicas, estando há 3 anos sem participação, sequer, no Ciclo Junino, apesar de ser Patrimônio Vivo de Pernambuco, Patrimônio Imaterial do Cabo e Utilidade Pública no município.
Nossa fundação, como primeiro grupo do gênero a estabelecer personalidade jurídica, foi em 1966.
Gratidão!