Cidade das Mestras: Amanda de Souza revela cidade ancestral de mulheres negras na Torre Malakoff
- Maria Eduarda Silva
- há 1 dia
- 2 min de leitura
Exposição transforma arquivos fotográficos coloniais em pinturas digitais que celebram mestras da Jurema Sagrada e reescrevem a história de mulheres negras no Brasil

A Torre Malakoff segue expondo,desde o dia 14 de novembro, a nova mostra da artista visual pernambucana Amanda de Souza. Em “Cidade das Mestras”, Amanda revisita fotografias do século XIX e início do XX para reconstruir visualmente a presença de mulheres negras historicamente invisibilizadas, agora elevadas à condição de mestras espirituais da Jurema Sagrada.
A mostra combina arte digital, memória ancestral e espiritualidade afro-indígena, propondo um diálogo entre imagens coloniais e narrativas de resistência. A artista transforma retratos de mulheres negras, muitas delas amas de leite e trabalhadoras escravizadas, em pinturas digitais vibrantes, que evocam entidades femininas e reimaginam essas figuras como guardiãs de um território simbólico.
O projeto é um desdobramento de “A sua casa não tem porta e nem janela”, exposição exibida entre 2023 e 2024 na Capela do Engenho Massangana (FUNDAJ), onde Amanda reinterpretou imagens da Coleção Francisco Rodrigues. A repercussão do trabalho impulsionou a continuidade da pesquisa, agora expandida na criação de uma “cidade” imaginada, habitada pelas mestras que a artista convoca de seus arquivos e de sua fé.
Com curadoria de Cleonardo Maurício Júnior, antropólogo e pesquisador do Museu Nacional, a exposição integra uma proposta curatorial voltada à valorização de figuras femininas apagadas pela história oficial. As obras confrontam o olhar colonial ao ressignificar registros fotográficos produzidos em contextos de dominação, devolvendo às retratadas agência, presença e espiritualidade.

“Essas mulheres foram fotografadas num contexto de violência e controle, mas, ao trazê-las de volta como mestras espirituais, devolvo a elas o poder de narrar suas próprias histórias”, afirma Amanda.
“Cidade das Mestras” elege a arte como possibilidade de reparação e como ferramenta para recontar o Brasil a partir de suas matrizes negras e indígenas. Ao unir fé, arquivo e tecnologia, Amanda de Souza cria uma experiência que convoca memória, imaginação e futuro.



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