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Foto do escritorGuilherme dos Santos

Dionísio quem chegou aqui: multiartista traz amor, paixão, desejo e vulnerabilidades nas produções

Ator, cantor e compositor caruaruense constrói repertório que passeia por diversos gêneros e temas


“Como um bloco sem marchinha

Olinda sem ladeira

Bezerro sem papangu

Ela dança com sorriso na avenida

Disfarçando a tristeza com confete e brilho”


-Quarta de cinzas (DIONÍSIO)


Tudo começou com uma fantasia, e o caruaruense Jackson Freire, 25, desde menino, já fazia da vida um espetáculo. Como a maioria das crianças nascidas nos anos 90 e início dos anos 2000, o garoto bebia das influências que estavam à sua volta: desde Calcinha Preta, Reginaldo Rossi, Banda Calypso, RBD até XSPB, que era munição para sua imaginação. 


Expressivo, ele lembra da casa da avó, onde brincava de circo, de show, de dublagem, e até convocava a vizinhança para assistir. “O moleque era virado”, brinca o multiartista. 


Hoje, na música, ele traz temas que fazem parte da vida, como amor, alegria e identidade, em uma mistura de ritmos que nascem a partir do que as palavras pedem. Afinal, para ele, são elas que ditam o rumo de uma canção. Diante disso, Jackson se faz em dois, e como num teatro, divide esse monólogo que deseja contar com mais uma persona: DIONÍSIO.


DIONÍSIO Manguetown Revista
Imagem: Lorena Zuzart

Com uma sonoridade que descreve como “pop brasileiro contemporâneo” (e bem pernambucano), DIONÍSIO firma compromisso com o que precisa ser dito. Busca cantar e escrever aquilo que sente, e, segundo ele, costuma ouvir primeiro a necessidade das palavras para entender como a mensagem deve ser passada. Dessa forma, compõe gêneros diversos, de MPB a pagode, e no repertório é possível desfrutar do brega, funk melody, pop, eletrônico e mais, seja em qualquer tema que sentir imposição de fazê-lo. “Se é pra falar de amor a gente fala, se é pra falar de putaria, a gente fala também”, diz. 


Tendo a vida como fonte de inspiração, o cantor traz seus desejos, paixões e vulnerabilidades ao topo. As suas vivências e das pessoas próximas são matéria-prima para a criatividade, e, desde as primeiras composições, ele se empenha em trazer maneiras de expressar aquilo que pensa no papel.


“A primeira vez que escrevi sobre amor foi em 2018. Foi quando fui a Macuca e me apaixonei por um hippie. Cheguei em casa, decidi escrever, e desde então encontrei essa válvula de escape para curar algumas feridas”, conta.


A performance e visual também compõem o que DIONÍSIO quer passar ao público. Sua ousadia e atitude são figuradas nas roupas e na presença expressiva. 


“Acredito que a forma que levo a música pro palco tem muito a ver com interpretação, com a transformação, com esse despertar de desejo”, diz, “DIONÍSIO vem como provocação para a música pernambucana, para nossos preconceitos. É o extremo da alegria, da tristeza, da raiva, do amor, enfim. Todas essas mesclas de sentimento que são humanos”


“A minha própria narrativa”


Na mitologia grega, além do vinho, das festas e da alegria, Dionísio é o deus do teatro, mundo com o qual Jackson se aventurou desde os 11 anos. Sem influência artística na família, a relação do cantor com a arte começou por aí e não parou mais. Chegou a fazer parte do Teatro Experimental de Artes, o TEA, que,para ele, foi “importante para ver arte como ofício”. Teve contato com a música através do teatro musical, e logo se apaixonou. 


“Hoje me dedico mais à música, pois os caminhos foram me direcionando a isso, mas aproveitei bastante essa vivência com o teatro e, depois, com a dança”.


Foi com o Cais do Agreste, coletivo de artistas independentes formado por Dionísio, Bebella, Bianca Mota, Everson, Gael Vila Nova, Janduí, Mateus Ferraz e Rosberg Adonay, que Dionísio, ainda Jackson, colocou suas letras para o jogo. O grupo surgiu durante a pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2021, com pretensões não muito maiores do que juntar artistas para compartilhar letras e vivências, e ter refúgio no momento conturbado em que o mundo atravessava. 


“Chegou um momento que ficou impraticável. Tinha tanta música, era tão massa o sentimento, que a gente precisava passar isso pra galera”, relembra o cantor.


Cais do Agreste Manguetown Revista
Cais do Agreste. Imagem: divulgação

Do Cais do Agreste também nasceu o espetáculo de teatro musical “Pedaço de tempo”, e todo esse caminho foi a virada de chave para Jackson. 


“Foi aí que eu entendi que as minhas letras chegavam nas outras pessoas. Quando eu vi o teatro cantando uma canção comigo me tocou e mexeu em um lugar muito especial”, conta. Saturado do teatro, porém, Jackson viu o poder da música e a possibilidade de expressão que ela reservava. “Estava no teatro desde os 11 anos, e não poder mexer na aparência me causou uma revolta”, conta, “Então decidi parar de contar outras narrativas para contar a minha própria, pontua.


“Tenho um compromisso de sempre cantar o que realmente estou sentindo. Tenho esse compromisso com a palavra. A palavra do que se estar vivendo”


Do nome artístico, além da inspiração pela história do deus grego, Jackson também teve influência familiar. Isso porque, coincidentemente, o avô materno também se chamava Dionísio. Tudo começou a partir desse questionamento.“Estava com minha mãe, era perto do São João. Perguntei para ela por que não colocou o meu nome de ‘Dionísio’. Talvez ela não entendesse desse nome”.


A partir dessa ligação greco-familiar, o artista decide assumir a persona. Jackson ou DIONÍSIO, ele diz que abraça os dois. Não é 100% um, nem 100% outro. Naquele São João de Caruaru, quando saía com os amigos e já estava sob controle da festa e do álcool, Jackson encorporava definitivamente a persona, por mais que não se lembre. “A partir de agora, é pra me chamar de DIONÍSIO”, dizia, contam os amigos, “DIONÍSIO quem chegou aqui!”.


DIONÍSIO Manguetown Revista
Imagem: Júnior Rocco

Chorando e rebolando e cantando e criando


Em novembro, DIONÍSIO lançou seu último trabalho, o EP “Chorando e Rebolando. Com cinco faixas, sendo quatro canções e um interlúdio, o cantor, além de trazer novidades, revisita trabalhos passados, como a música “Fantasia”, um funk melódico dançante que ganha uma roupagem diferente da sua primeira versão. A faixa que abre o EP é “Chorando e Rebolando”, composta especialmente para o projeto, que inicia a pegada animada das faixas seguintes e fala de um amor meloso e a superação diante de desamores. Uma paixão macia e de se arrepiar. Uma magia sem simpatia, como canta DIONÍSIO. 


A faixa seguinte é o interlúdio poético “O que quis dizer”, o qual a procura do amor se confunde com o Carnaval. “Quarta de cinzas” é a próxima canção, que se conecta com a poesia anteriormente declamada, e traz um pop mais calmo com uma letra repleta de referências que qualquer foliã ou folião pernambucano vai entender. 



Chá, lançada como single em maio, completa o EP, e é uma parceria mais do que acertada com a cantora Yannara. “Acredito que foi um encontro de almas”, conta DIONÍSIO. “Gosto muito de dividir cena com Yannara”. A respeito da troca com outros artistas, declara: “São pessoas preciosas. Você tem trocas com elas, se identifica. Trabalhar com arte e cultura é difícil, então quando a gente se encontra com outros artistas, a gente vai se ajudando nessa sobrevivência”, completa.


DIONÍSIO e Yannara em show do Recbeat 2024
DIONÍSIO e Yannara em show no Recbeat 2024. Imagem: Hannah Carvalho

Para além de sobreviver, DIONÍSIO deseja felicidade e muita música para os próximos passos. Almeja colaborar com mais pessoas e pretende “alcançar cada vez mais corações abertos e dispostos a ‘gaitar’ e falar besteira, mas falar coisa séria também”. 


Ele segue aproveitando tudo aquilo que a música pode proporcionar para si mesmo. Segundo ele, ela é uma verdadeira necessidade. “Música para mim é afago. É água, é cesta básica. É pão com ovo, é cuscuz”, brinca, “A gente tá aqui pra ser feliz, amar bem muito. Chorar e rebolar também. A partir do momento que pego minhas vulnerabilidades e coloco numa música, já trago uma mensagem importante. Só preciso colocar pra fora, e ter alguém que escute é mais gostoso ainda”, finaliza o artista.





1 Comment


Beatriz
Beatriz
Nov 27

As palavras foram escolhidas tão bem. A matéria tá linda ❤️

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