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Em “Tipo MJ”, Karla Gnom une trap recifense e estética dark em uma aposta ousada

Em parceria com Hallfi, último single da artista remete a memórias de infância e vida de artistas independentes


Quem diria que o trap de Pernambuco e Michael Jackson poderiam se mesclar?


Emergindo de uma estética que pauta diversidade, autodeterminação e hip hop, essa combinação nada convencional é o eixo de “Tipo MJ”, novo single da produtora e beatmaker Karla Gnom. Lançado no dia 13 de novembro ao lado do rapper OgHallfi, o trabalho marca uma mudança discreta, porém decisiva, em sua trajetória.


A música nasce de um movimento consciente de afastamento de um rap mais tradicional. Segundo Karla, isso veio da vontade de romper com o “rap de massagem” e se aproximar de uma sonoridade eletrônica, sombria e underground, lugar onde diz sempre ter se identificado. “Esse estilo de trap mais dark é uma tendência que está surgindo entre os mais jovens. É diferente do que o mainstream está acostumado, mas temos que confiar nas nossas apostas”, afirma.


Tu sabe como é que é, preciso ficar de pé

Então vou mostrar agora o que fez o Michael Jackson...


Igual Michael na Bahia eu não falo com ninguém

Debochado de verdade, eu nem sei quem vocês são

Vivem enchendo meu saco e eu só quero o meu beck

Vivem babando meu ego e eu só penso ''Who's bad''


Me olham torto e eu nem devo explicação

Minha vida é privada, tipo a senha de um cartão 

Meu manin nem te conheço, nem aperta a minha mão

Karla Gnom mandou o beat pra tocar nos paredão


A estética de “Tipo MJ”, no entanto, emerge de um contexto mais profundo. Voltando à infância, Gnom conta que, por ser a única criança da família que sabia ler, começou a trabalhar cedo ajudando parentes a produzir e vender DVDs na Dantas Barreto, no centro do Recife. Essa rotina acabou colocando a artista em contato direto com a obra de Michael Jackson, especialmente após a morte do cantor, quando a procura por DVDs cresceu: “Antes de colocar os DVDs pra circular, eu precisava testar o produto. Como eu era uma criança de periferia, o trabalho não era opção, tinha que ajudar minha família. Foi quando tive contato com os clipes de Michael Jackson e logo de cara comecei a imitar as danças e o estilo”, lembra.


Captura de tela do videoclipe de "Tipo MJ
Captura de tela do videoclipe de "Tipo MJ

Foi a partir desse encontro que ela descobriu a paixão pela dança, pela performance e pelo espetáculo.”. Daí em diante, Gnom ficou conhecida por imitar os passos e os figurinos da artista, período em que ficou conhecida como “Karla Jackson” na escola e nas redondezas do bairro dos Coelhos. Para ela, esse foi o ponto em que percebeu que seria artista.


“Foi um momento da vida que me ensinou muito. Lembro de uma apresentação quando criança que dancei numa calçada, um espaço cheio de obstáculos, mas eu fui lá e dei meu nome. Isso é uma coisa que me remete até hoje, no meu último show no Rec’n’play, por exemplo, o som não tava nada adequado, mas eu também fui lá e consegui fazer o que tinha que fazer. Quem é artista sabe que não é com qualquer estrutura e som que conseguimos tocar, mas o importante é fazer”.

A partir desse encontro, a descoberta não demorou a virar uma obsessão, culminando em danças, figurinos improvisados e apresentações na escola. Em poucos meses, Karla virou “Karla Jackson” no bairro dos Coelhos. “Eu era obcecada por MJ, a primeira vez que fui ao cinema foi porque uma professora me levou para ver um filme de um show dele. Eu não entendia nada porque era tudo em inglês, mas pra mim, o importante era estar ali e ouvindo as músicas”, conta. 


Créditos: Acervo pessoal da artista.
Créditos: Acervo pessoal da artista.

Foi nesse período que ela percebeu que queria ser artista, mesmo sem saber o que isso significava ainda. ““Foi um momento da vida que me ensinou muito. Lembro de uma apresentação, ainda quando criança, que performei numa calçada cheia de obstáculos, mas eu fui lá e dei meu nome. Isso é uma coisa que levo até hoje. No meu último show no Rec’n’Play, por exemplo, o som não tava nada adequado, mas eu também fui lá e fiz o que tinha que fazer”.


O videoclipe de “Tipo MJ” resgata essas vivências e as coloca em perspectiva com a vida de artistas independentes em 2025. O videoclipe de “Tipo MJ” resgata essas vivências e as coloca em perspectiva com a vida de artistas independentes em 2025. A freira, segundo a artista, representa a fé como uma ferramenta de sobrevivência, enquanto os vidros e cálices, as dificuldades materiais que atravessam quem produz sem fontes de apoio.


No contexto da cena local, essa escolha amplia o campo estético em torno do trap e do rap eletrônico, áreas que ainda se desenvolvem em Recife e que dependem de artistas capazes de arriscar fora da fórmula dominante.


Escute Tipo MJ:




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