Louise França revisita legado do manguebeat no Projeto Replay e revela aspirações para primeiro álbum autoral
- Leandro Lopes
- há 7 dias
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Artista pernambucana fala sobre herança musical, Projeto Replay e seu primeiro álbum autoral
Com voz marcante, forte senso de pertencimento musical e uma entrega autoral intensa, Louise França reinterpreta a faixa “Risoflora”, de Chico Science & Nação Zumbi, no Projeto Replay. A série revisita o emblemático álbum “Da Lama ao Caos”, obra fundamental da música brasileira e um dos pilares do movimento manguebeat.

Em entrevista exclusiva à Manguetown Revista, a artista pernambucana refletiu sobre o impacto do manguebeat em sua trajetória, sua participação na nova edição do projeto e os caminhos que vem construindo como multiartista. A conversa atravessou passado, presente e futuro em um momento de afirmação e reinvenção artística.
Convidada por José Francisco Tapajós, idealizador do Replay, para integrar a nova temporada da série, Louise deixou claro desde o início que não assumiria uma participação passiva. “Eu disse: só topo se puder escolher alguns artistas também”, relembra.
Foi a partir dessa articulação que chegaram nomes de peso como FBC, Chico Chico, Uana, Mago de Tarso e Barbarize, que integram o time de intérpretes. Mais do que cantar, ela queria estar envolvida em todo o processo. “Queria estar presente de fato no projeto, além das questões burocráticas. Queria colocar minha mão, minha escuta, minha verdade ali”, pontua.

A escolha da faixa “Risoflora” tem para Louise uma conexão pessoal profunda. “Sempre gostei muito dessa música. Já vinha cantando ela no Manguefonia, projeto em homenagem aos 30 anos do movimento. Foi uma oportunidade única de colocar minhas referências musicais e dar minha cara à música”, afirma.
Além disso, Louise destaca a autenticidade de cada artista do Projeto Replay e ressalta o diálogo que o projeto estabelece entre gerações distintas. Para ela, a iniciativa cumpre um papel fundamental ao ressignificar Da Lama ao Caos para um público mais jovem, muitas vezes distante da obra original. “É um jeito de levar a grandiosidade do ‘Da Lama ao Caos’ para os mais jovens, que às vezes nunca pararam para ouvir”, afirma. Ela cita como destaques versões como “Monólogo ao Pé do Ouvido”, “A Cidade” e “Praieira”, que a emocionaram profundamente.
Ao refletir sobre a atualidade do disco, Louise evidencia a pertinência dos temas tratados há quase três décadas. Ressalta que as questões sociais e culturais permanecem urgentes e que a obra permanece tão atual quanto atemporal. “O disco é atual e atemporal porque as mazelas continuam as mesmas. Fala de desigualdade, de caos urbano, de identidade cultural. Infelizmente, ainda vamos viver essas questões por muitos anos”, explica. Para ela, portanto, o álbum segue sendo um espelho da realidade brasileira.
Mais do que uma homenagem musical, o Projeto Replay é para Louise um reforço do orgulho e da identidade cultural pernambucana, cuja relevância ultrapassa fronteiras regionais e merece ser reconhecida como parte integrante da cultura brasileira. “O manguebeat trouxe para a gente o orgulho de ser quem a gente é, de onde a gente vem. E eu acho que é isso que o Brasil precisa conhecer”, destaca. Assim, o movimento se firma como uma expressão vital da diversidade cultural nacional e um instrumento de afirmação identitária.
Álbum totalmente autoral e independente
Filha de Chico Science, um dos maiores ícones do manguebeat, Louise França afirma que sua trajetória artística não se limita ao legado do pai. “Cresci com a memória dele, mas não foi ele que me fez querer cantar. Meu pai só começou a me influenciar depois dos 20 e poucos anos, e de forma indireta, pelas coisas que ele ouvia”, revela. Suas primeiras influências vieram de artistas como Sandy & Junior, Marisa Monte e Selena Quintanilla, por exemplo.
Durante anos, Louise viveu ao lado de Jorge Du Peixe, vocalista da Nação Zumbi. Foi nesse convívio que reencontrou a música e retomou a conexão com suas raízes. “Quando me reconectei com Jorge do Peixe, senti que estava me reconectando também com meu pai. Foi aí que veio o convite para cantar no projeto Afrobombas. Foi quando resolvi me jogar de vez”, explica.
Ao longo da carreira, participou de projetos infantis, colaborou com China e a banda Mombojó, além de ganhar destaque na série Lama dos Dias, exibida no Canal Brasil e no Globoplay. Agora, porém, seu foco está em um novo capítulo: o lançamento do primeiro álbum solo, totalmente autoral e independente.
Louise ressalta, com exclusividade, que o trabalho representa a construção plena de sua identidade artística. “É a primeira vez que estou colocando minha identidade de forma completa: musical, visual, pessoal. Vai ser no meu tempo, com calma, sem pressa”, afirma. Embora ainda não haja data oficial para o lançamento, promete que os primeiros singles sairão até o fim do ano. “É um álbum sobre amor, só não vou adiantar mais do que isso!”, brinca.
Entre suas referências contemporâneas, cita nomes como Rosália, pela ousadia; Tricky, representante do trip hop; Céu, além de Amy Winehouse e Marisa Monte. “Todas essas vozes me formam”, conclui, apontando para a pluralidade que atravessa sua obra.
O manguebeat na Sapucaí e futuros
Louise expressou entusiasmo ao comentar a homenagem que a escola de samba Grande Rio fará ao manguebeat no Carnaval de 2025. Para ela, o desfile representa mais do que uma celebração: é uma reafirmação da cultura pernambucana em um palco nacional. “Fiquei extasiada. Sempre sonhei em ver a história do movimento na Sapucaí. É mais uma forma do brasileiro se apropriar do que é dele”, explica. A artista confirmou sua presença no evento, ainda que com dúvida sobre desfilar: “Sim, vou estar lá. Só não sei ainda se vou desfilar.”
Louise França reafirma que o Projeto Replay não é apenas uma celebração musical, mas um movimento vital para manter viva a cultura pernambucana e suas raízes. Com sua voz autoral e olhar atento para o presente e futuro, ela convida o público a redescobrir o manguebeat e a se conectar com a riqueza cultural que ele representa para o Brasil.
No encerramento, reforçou o convite para o público acompanhar o projeto: “Projeto Replay toda sexta-feira, às 21h, no Canal Bis. O meu episódio vai ao ar dia 11. Não perde!”
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