Mágoa Abaixo: clipe de Levi Oficial aborda o uso de drogas no movimento brega
- Thales Martins
- 23 de ago.
- 2 min de leitura
Roteiro adaptado de livro de professor da UFPE, curta-musical reflete realidade sensível da vivência nas periferias

Buscando debater na cena recifense um tema até então pouco explorado por artistas de brega e brega funk, Levi Oficial, cantor da comunidade do Ibura, lança “Mágoa Abaixo”, curta-metragem musical sobre as consequências do uso de drogas e da dependência química. O roteiro adapta um conto publicado no livro de Hélio Pajeú, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Entre o romance e a dependência química

Gravado nas comunidades de Joana Bezerra, Sítio dos Pintos, Ibura e Jardim Piedade, o clipe começa com o rosto pálido da atriz Natália Júlia no asfalto, iluminada por luzes neon e sirenes de polícia. O enquadramento, inspirado na morte da personagem Marion Crane (Psicose, 1960), é um flashfoward, recurso narrativo em que se mostra uma cena do futuro da trama antes dos acontecimentos cronológicos, da história do protagonista, um vendedor ambulante que se apaixona por uma dependente química.
“O movimento brega precisa parar de falar apenas sobre sentimentos individuais e usar seu alcance para transformar o modo como a sociedade enxerga problemas da coletividade, como a pobreza, a violência, os jogos de azar, e a dependência química”, afirma Dominyque Regison, produtor do videoclipe. Ele comenta que decidiu gravar a história após flagrar crianças usando drogas em um show de brega funk. “Uma delas tremia tanto que não conseguia segurar um pratinho de comida”, relata.
Arte comunitária e novas perspectivas para o brega
O videoclipe é uma releitura do conto “Um Anjo Que Caiu do Céu”, de Lúcio Correia, publicado na coletânea Literatura de Quinta. Organizado por Hélio Pajeú, o livro divulga textos de estudantes de Biblioteconomia e de outros cursos.
Na história original, ambos os protagonistas são homens, mas a equipe optou por alterar os gêneros para alcançar um público que poderia rejeitar uma obra com protagonistas LGBTQIA+. As consequências da dependência química, no entanto, permanecem no centro da narrativa.

O projeto foi realizado com o apoio coletivo de pequenos negócios das favelas, como uma ótica do bairro de Prazeres em Jaboatão dos Guararapes. “Esse clipe é muito importante para a nossa sociedade”, afirma Michelle Celina, microempresária e dona da ótica há 20 anos. “Não é apenas um brega - a dependência química é a realidade que muitas pessoas vivem dentro da comunidade. Eu achei linda a iniciativa e decidi ajudar”, conclui.
Além disso, as gravações impulsionaram o currículo de mais de 30 moradores das comunidades, apoiados sob o selo DomyFilms, que produz curta-metragens para cantores periféricos.
O resultado é uma obra que tensiona os limites do brega romântico e se abre ao debate social. Para os produtores, “Mágoa Abaixo” marca um passo importante na construção de um brega que não apenas canta as dores do coração, mas também dá voz às dores coletivas das periferias.
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