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“O Agente Secreto”: suspense, sátira política e a memória que resiste no cinema de Kleber Mendonça Filho

Atualizado: há 1 hora

Filme político de Kleber Mendonça Filho estreia em novembro no Brasil e transforma o Recife em personagem central da narrativa


Wagner Moura interpreta Marcelo, que tenta se refugiar no Recife da repressão política. Foto: Reprodução/ O Agente Secreto
Wagner Moura interpreta Marcelo, que tenta se refugiar no Recife da repressão política. Foto: Reprodução/ O Agente Secreto

A boa fase do cinema brasileiro segue em destaque no cenário internacional e “O Agente Secreto”, novo longa de Kleber Mendonça Filho, reforça esse momento. Diferente de obras que abordam a ditadura militar de forma mais simbólica, o diretor recifense encara de frente o lado obscuro do regime, misturando suspense, sátira política e memória histórica.


Com première em 18 de maio no Festival de Cannes, de onde voltou com dois prêmios, e estreia oficial nos cinemas marcada para 6 de novembro, o filme chegou ao Recife em sessões de pré-estreia no Cine Teatro do Parque e no Cinema São Luiz, dois símbolos culturais da cidade.


Uma sátira política com sotaque recifense


A trama acompanha Marcelo (Wagner Moura), professor e pesquisador universitário que retorna ao Recife em pleno Carnaval de 1977, buscando refúgio de uma perseguição política e tentando se reconectar com o filho. Mas o que encontra é uma cidade marcada por contradições, onde os ecos do autoritarismo ecoam nas ruas e na vigilância constante.


Em paralelo, numa linha temporal atual, duas jovens pesquisadoras tentam desvendar o passado de Marcelo a partir de antigas gravações. Essa ponte entre passado e presente é uma marca recorrente no cinema de Kleber Mendonça Filho, e aqui é utilizada para costurar as memórias pessoais do protagonista ao tecido coletivo da história brasileira. 


Nesse momento é quando “O Agente Secreto” revela-se menos um suspense sobre agentes e perseguições, e mais uma reflexão melancólica sobre como o passado pode ser apagado ou distorcido com facilidade no Brasil. É uma discussão rara no cinema brasileiro contemporâneo, e que ele conduz de maneira brilhante.


Kleber Mendonça Filho dirige Wagner Moura em cena de O Agente Secreto. Foto: Divulgação/ O Agente Secreto
Kleber Mendonça Filho dirige Wagner Moura em cena de O Agente Secreto. Foto: Divulgação/ O Agente Secreto

No elenco, nomes como Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Alice Carvalho, Udo Kier e Thomas Aquino reforçam o mosaico de personagens que transitam entre tensão, ironia e tragicomédia. Ao longo de 2h40, o longa mistura suspense, sátira política e humor ácido, em um ritmo que oscila entre a inquietação e a estranheza.


Recife como personagem


Fiel à sua filmografia, Kleber Mendonça Filho transforma o Recife em mais que pano de fundo: a cidade respira como personagem viva. Entre as referências, surgem o frevo, a La Ursa, a lenda da perna cabeluda, o Ginásio Pernambucano, ataques de tubarão e a Praça Chora Menino.


Passando por vários cenários do Recife, o filme retrata os bastidores da repressão no Brasil dos anos 1970. Foto: Reprodução/ O Agente Secreto
Passando por vários cenários do Recife, o filme retrata os bastidores da repressão no Brasil dos anos 1970. Foto: Reprodução/ O Agente Secreto

Longe de ser mero bairrismo, o gesto de exaltar a cultura local é também um posicionamento político. Em "O Agente Secreto", isso se revela na retomada de um dos temas mais recorrentes da obra de Kleber Mendonça Filho: a substituição dos cinemas de rua. O Cinema São Luiz, aparece como ponto de encontro fundamental, não apenas como espaço físico, mas como memória coletiva de um tempo em que ir ao Cinema São Luiz, assim como tantos outros, era parte do cotidiano da cidade.


O Agente Secreto é uma reflexão sobre identidade, trauma, opressão e memória. O filme provoca o espectador a pensar em como é fácil esquecer pessoas, acontecimentos e dores, mas lembra que o passado, ainda que não retorne, pode servir de alerta para que a história não se repita.


Além de provocar debates no circuito nacional, “O Agente Secreto” foi escolhido para representar o Brasil na disputa pelo Oscar 2026 de Filme Internacional. A decisão veio após uma seleção acirrada, que contou também com títulos de forte DNA pernambucano, como “Manas”, de Mariana Brennand, e “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro, que chegaram perto de ser escolhidos neste ano. O resultado reforça não apenas a força do filme, mas também a centralidade de Pernambuco no mapa do cinema brasileiro.


Assista ao trailer:



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