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Projeto “Cinema sem-teto” do MTST promove resistência nas telas do cinema de rua

Arte e acessibilidade é o que move a nova campanha do movimento dos trabalhadores sem-teto que faz sua estreia no Bar Super-8, no centro do Recife



Fazer cinema ou consumir cinema é um ato político. Partindo dessa perspectiva, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto Pernambuco (MTST-PE) se organiza para colocar na rua o “Cinema Sem-Teto”. O projeto ocupa nesta quarta (14), a partir das 18 horas, o Bar Super-8, localizado na Rua Mamede Simões, no centro do Recife, somando-se ao “Encontro do Cinema Pernambucano”, que já é realizado pelo estabelecimento semanalmente. 


Imagina estar passeando pelas ruas do estado, na Região Metropolitana, Zona da Mata, Agreste ou Sertão e encontrar um cinema a céu aberto pronto  para te receber gratuitamente. Um espaço de encontros e para dividir a experiência de assistir a um filme e ainda por cima falar sobre ele. É isso que o projeto do  MTST propõe ao desenvolver o “Cinema Sem-Teto”, projeto que prevê a criação de exibições itinerantes em ocupações e lugares com pouco ou nenhum acesso a essas produções culturais.


“O Cinema Sem-Teto busca exibir o que não tem sido exibido, que é o cinema independente. E fazer dessa circulação um meio e a criação de debate e conversa para criar uma cultura política de reflexão a respeito daquilo a que a gente assiste, o que é pouquíssimo estimulado nos cinemas comerciais e no ato de assistir TV. O Cinema Sem-Teto cria a possibilidade do espectador ser um agente de uma história cineclubista de rua”, diz Ingá, militante do MTST e uma das representantes da iniciativa. 


A mostra pretende andar por uma grande diversidade de lugares, fazendo de hortas comunitárias, ocupações, praças ou campos de futebol verdadeiros cinemas. A arte intrínseca do projeto itinerante  traz consigo a possibilidade de expandir olhares, exibir novos mundos de forma que só a narrativa do audiovisual consegue conectar o espectador com questões diversas que, por vezes, fazem parte de seu próprio cotidiano.


Para além das exibições 


“O cinema de ocupações existe e está presente a cada nova ocupação que surge com a produção audiovisual para as redes sociais com mini entrevistas ou vídeo-pílulas que contêm um pouco do que está acontecendo e quebram um pouco da criminalização que é constantemente imposta no movimento que ocupa terrenos improdutivos, esses são os lugares que ocupamos”, defende Ingá.

Sendo assim, o “Cinema Sem-Teto” também pretende plantar nos espectadores a vontade de produzir audiovisual com os recursos disponíveis. A ideia é contar o movimento e deixar o movimento ser contado a partir do que é produzido nas ocupações. 


Conversando com Ingá sobre os objetivos do cinema itinerante, ela trouxe uma visão sensível e ao mesmo tempo estética sobre a arte produzida dentro de lugares tão constantemente apagados pelas grandes mídias ao dizer o seguinte:


 “Não existe movimento social que não se expresse esteticamente. Não existe movimento social que não se expresse nas tintas que coloca nas paredes de suas casas, sedes, faixas, dos seus cartazes. Não existe movimento social que não se pense esteticamente no tom que dá aos seus cantos de rua, na maneira que filma para as redes sociais ou para a tela do cinema.” 



Cinema Independente e boa companhia



“Cinema Sem-Teto” está em fase de arrecadação de recursos para viabilizar a iniciativa. Neste momento, O MTST-PE uniu-se ao Bar Super-8, que já inseriu na agenda cultural recifense o Encontro do Cinema Pernambucano, um cineclube com direito a presença dos realizadores. 


O Bar e Cineclube Super8 abraçou a iniciativa do movimento e ao entrarmos em contato, o sócio-fundador, Vinicius Costa, nos conta: “ É comovente ver o esforço de tanta gente para conseguir levar o cinema de guerrilha para as ocupações. A sensação é de orgulho, e de tentar fazer o possível para que a campanha dê certo.”


Mas, de onde surge a ideia de criar um ambiente para a manifestação do cinema independente? Vinicius responde: “eu sempre fui um frequentador dos bares do centro da cidade, e também sempre adorei cinema. Então, fui planejando na minha cabeça durante anos da minha vida, como seria essa mistura de bar e cineclube. Do nome, às cadeiras, à que tipo de conteúdo exibir. Tudo isso já era pensado antes. E pra mim, pensar em exibição, é pensar em cinema independente, em cinema autoral, em cinema de denúncia. Algo que nos faça refletir. E nada melhor para refletir, do que a companhia dos amigos tomando uma, enquanto vê um filme bacana.”


Para Wandryu Figuerêdo,curador e produtor do Encontro do cinema pernambucano, a pandemia afetou a efervescência audiovisual do Recife e o projeto vem dar sua contribuição. “A introdução de uma nova janela, como o Bar Super 8, focado em curtas-metragens, oferece uma oportunidade de reintegrar essas obras frequentemente marginalizadas. Nosso cinema é totalmente gratuito: basta pegar uma cadeira e assistir aos filmes. Depois temos nosso sofá, com muito debate”, declara. 


Para a primeira exibição do “Cinema Sem-Teto” foi escolhido o documentário “Chão” (2020), de Camila Freitas. O longa retrata a vivência de 600 acampados em uma ocupação de uma usina de cana-de-açúcar em processo de falência,enquanto idealizam a utopia de um lugar por vir.



Serviço:

Cinema Sem-Teto, com exibição de “Chão”, de Camila Freitas

Bar Super-8, Rua Mamede Simões, nº 144, Boa Vista

18h



Se interessou no projeto? Que tal incentivar o Cinema Sem-Teto? 


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