Idealizado e produzido por Tony Blaster, o evento independente celebra os 55 anos do Woodstock, a psicodelia nordestina e o underground neste sábado (17), no Purgatório das Artes
Recife, berço do frevo e do maracatu, é também terra do rock. Oficialmente reconhecida pela UNESCO como “Cidade da Música” em 2021, a cidade é um verdadeiro caldeirão cultural e um dos principais polos musicais do país, permitindo que diferentes estilos se encontrem, se desencontrem e se reinventem. No meio de tantas produções culturais efervescentes, o rock, apesar de subvalorizado, ocupa uma posição de destaque nessa formação sonora que faz da capital pernambucana um dos principais centros artísticos do Brasil. Desde o final do século passado, o rock recifense se firmou como uma voz ativa na cena cultural local, indo muito além dos palcos – e dos streamings. Com influências que vão do maracatu ao punk, do armorial ao hardcore, do psicodélico ao ancestral, as bandas e artistas locais de rock ajudaram a moldar a identidade desta expressão cultural na nossa região, que resiste e respira com o apoio de seu público fiel até os dias de hoje.
Tony Blaster, entusiasta musical e apaixonado por rock desde adolescente, sonhava em trabalhar no ramo da música desde o fim dos anos 90, época em que produzia fanzines alternativos para a cena underground. Hoje em dia, ele se encontra na área de produção e backstage, atuando como roadie de Lia de Itamaracá e produtor de eventos, além de realizador do festival Hellcife Chaos.
Para a reportagem da Manguetown, Tony conta que idealizou o festival durante a pandemia do coronavírus, quando se aprofundou no manguebeat e no disco “Da Lama ao Caos” (1994), de Chico Science e Nação Zumbi. “Foi quando comecei a pensar em uma forma de tentar sair daquele marasmo da pandemia. Daí decidi ‘quero fazer um festival, vou organizar uma galera para fazer acontecer’. Eu queria fazer um evento com características recifenses, de vivências, com toda essa mistura cultural, me inspirando em outros festivais como o Coquetel Molotov, por exemplo”, afirma o produtor.
É assim que, com a ajuda da produtora parceira, Rosemary Lima, e demais colegas, nasce, em novembro de 2022, a primeira edição do festival Hellcife Chaos. O projeto possui a proposta de movimentar a cena ‘udigrudi’ em suas várias facetas, abraçando os subgêneros do rock, do manguebeat e da música alternativa recifense.
Da Lama ao Hardcore
O nome veio a partir da junção da gíria local “Hellcife”, que brinca com o calor da cidade, e o caos citado no disco de Chico Science. Segundo o idealizador, tudo aconteceu na base do colaborativismo, da brodagem e das parcerias, por se tratar de uma produção independente.
“O festival é um projeto a longo prazo. Nós pretendemos colocar em editais no futuro, mas sentimos a necessidade de construir uma base primeiro, de ocupar esses espaços autônomos. Um dos lemas do festival é o colaborativismo, temos alguns apoios pontuais, como água, iluminação, alimentação, mas tudo entre parcerias. O Darkside Studio mesmo é um parceiro nosso, Roger também com o ‘Som na Rural’. Nossa equipe também está se expandindo agora, temos 11 envolvidos, mas começamos com 2 ou 3. O que nos guia é a militância underground e os parceiros, tudo de forma independente sempre”, conta Tony.
As edições acontecem, comumente, no Espaço Poesis, localizado no Alto José do Pinho, e no estúdio Darkside, na Boa Vista, ambientes importantíssimos e emblemáticos para a produção e agitação cultural local. Dessa vez, no entanto, é o momento do Purgatório das Artes, sediado no Pina, tremer com os sons de guitarras e amplificadores por meio da sétima edição do tão aguardado festival, que acontece no sábado, 17 de agosto, a partir das 14h. O ingresso custa um valor fixo de R$ 40,00, vendido pela plataforma Sympla. Anota aí!
Para a sétima edição, o Hellcife Chaos terá como temática a celebração dos 55 anos do Woodstock e da existência da psicodelia nordestina, com shows de bandas em ascensão e em turnê pela região.
Para além dos shows, o Hellcife Chaos promove diversos tipos de experiências culturais para o público, como feirinha psicodélica, venda de vinis e acessórios das bandas que se apresentarão, artesanato, discotecagem, aula de meditação e intervenções artísticas e poéticas. O dia 17 também contará com a exposição “Atmosfera do Frisson Psicodélico”, do artista Samuel Constantino, o lançamento do livro “Valsa dos Cogumelos – A Psicodelia Recifense (1968-1981)” e bate-papo com o escritor Rogério Medeiros, além da ilustre presença do Som da Rural, que completa 15 anos de atividade em 2024.
“Nosso lema é ‘A natureza do evento é você!’, então pregamos por poder pensar o público não só como consumidor, mas como peça central do evento, perpetuando a música alternativa da forma mais humana possível. O manguebeat não está morto, além da geração antiga temos várias bandas novas na cena, como Janete Saiu Para Beber, e queremos espalhar essa memória”.
Conheça um pouco sobre as bandas presentes na programação:
Anjo Gabriel
Referência no cenário musical psicodélico, a banda de kraut rock une elementos regionais, progressivos e transcendentais, te transportando diretamente aos anos 70.
Jambre
Formada em 2021, a banda se inspira nos clássicos do rock mundial, na Pernambucália e nos ritmos de matriz afro-indígena, trazendo elementos inovadores com um toque de psicodelia.
Abelardo
O projeto é uma mistura de experimentações sonoras, políticas e estéticas de seus componentes, com canções que expressam as experiências de jovens latino-americanos dos anos 2020.
Tamarineira Azul
Em um tributo aos anos 60 e 70, os rapazes da Tamarineira Azul fazem um rock rural psicodélico que une influências da música regional como baião e ciranda, junto da cena pós-mangue com o udigrudi recifense.
Satélite
Junto da Tamarineira Azul, a banda fundada por Fernanda Jardim comandará o tributo à década passada com direito a muito rock, blues e jazz em seu som.
Kid Android
A banda, comandada por Euclides Barros, tem uma sonoridade que vem do rock alternativo, com influências da psicodelia setentista de Pernambuco, com letras e melodias autorais e criativas.
Los Negrones
Composto por Fábio e Felipe Silva, o duo anda se destacando na boemia recifense com seus covers e canções autorais, com um repertório completo, variado e ótimo para todos os públicos.
Ugo Barra Limpa
Projeto autoral e intimista, Hugo Barra Limpa é um violonista e compositor pernambucano, com uma obra que transita entre a psicodelia pernambucana, a música armorial e o tropicalismo.
SERVIÇO
VII HELLCIFE CHAOS FESTIVAL
Data: 17/08/2024
Horário: 14h às 22h
Local: Purgatório das Artes - Rua Estudante Jeremias Bastos, 124, Pina (na Rua do Teatro Barreto Júnior) - @purgatoriodasartes
Ingressos: R$ 40,00 - Sympla
Se interessou? Acompanhe o IG @hellcifechaosfestival para se manter atualizado sobre essa e as próximas edições
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