Aluno do “Hip Hop”, Vitú batalha pelo terceiro campeonato estadual de MCs
- Beatriz Santana
- há 3 dias
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Após um ano focado na carreira musical, o MC pernambucano retorna para reafirmar o elo entre poesia, competitividade e maturidade

Há MC que se destaca na lírica, outro na malícia para ganhar o jogo. Sem separar os dois, Vitú é o nome artístico do MC pernambucano que busca a competição sem deixar a poesia de lado. Isso porque, como explica em entrevista exclusiva para a Manguetown Revista: “além de competição, o Hip Hop ainda é uma cultura”.
Nesse sentido, defende a adaptabilidade temática como norte para guiar o caminho de um campeão, mas não deixa de carregar consigo as referências nordestinas como munição. Com 11 anos de experiência na rima e 9 nas batalhas, o “sonhador do interior de Pernambuco, que só tinha rima", conseguiu alcançar: a Capital do Estado, o Sudeste do país e, agora, busca o terceiro título de vencedor do Duelo de MCS Estadual para ir ao palco do Nacional.
“Eu tive a sorte de ter sido o Hip Hop a minha escola”
MC Tai e Speed Souza são exemplos que Vitú fez questão de relembrar a influência na vida e carreira: “Um competitivo e o outro com um lado mais poético. Tai foi o primeiro cara de Pernambuco a dar seguimento nas batalhas. Então, quando eu comecei as coisas já eram escassas, mas esse cara já tava disputando. E o irmão dele, Speed Souza, era o cara que aparecia duas, três vezes no ano para rimar e mandava a melhor rima que a galera lembrava até no outro ano”, comenta.
Diretamente de Vitória de Santo Antão, Zona da Mata de Pernambuco, onde começou a rimar em 2014 e a batalhar em 2016, foram, de forma particular as primeiras sextas-feira em 2017 com presença marcada na Batalha da Escadaria, que acontece em Recife, no bairro da Boa Vista, as responsáveis por ajudar a fortalecer o nome de Vitú na cena do freestyle pernambucano.
“A Batalha da escadaria foi uma batalha da capital que me abraçou muito, porque eu era pivetinho do interior. Toda vez que eu colava lá, os cara me dava a vaga. Então eu ter me formado lá, na maior batalha do Estado, me ajudou muito, sabe?”, compartilha.

Além de fazer ecoar o nome “Vitú” nos ouvidos do público das batalhas, foi um dos que fez o Hip Hop ressoar de uma forma diferente para o artista. Assistir de perto a mobilização entre organizadores, MCs e plateia, foi peça fundamental para entender o impacto positivo dessa cultura na própria vida:
“Eu costumo dizer que era uma pessoa e depois do Hip Hop virei outra. A cultura me ensinou a ser mais humano, a entender o porquê de ter pessoas ricas e pessoas pobres, me fez entender como o mundo funciona. Eu tive a sorte de ter sido o Hip Hop a minha escola. Foi minha educação, foi minha base, foi meu conhecimento, hoje é meu trabalho”, reflete.
O Hip Hop para, para ver o Duelo de MCs”
Esse percurso trouxe o MC para o palco do Duelo Nacional de MCs duas vezes. Em 2018, o MC conquista o Estadual pela primeira vez e, para além da experiência, carrega até hoje o impulso para continuar. Nunca foi sobre chegar e mudar imediatamente de vida. Pelo contrário, ajudou-o a tomar consciência do necessário a se fazer:
“Vi que se eu quisesse isso para mim, teria que passar por muita coisa. Nada vai mudar da água para o vinho, nem do dia para noite. Tanto é que hoje é 2025 e eu tô vivendo disso tem só 2 anos. Comecei a viver da parada em 2023, mas plantei a semente em 2016 e tive que ter a paciência de regar. Foi o duelo nacional que fez isso comigo”, analisa.
Mais que isso, o Duelo é a dose certa de competitividade para se autoprojetar. “Para muita gente, ir lá e perder pode ser uma experiência negativa. Eu perdi, passei pelo processo, fiquei triste, me frustrei, mas depois falei: ‘oxe, mano, os caras já perderam um milhão de vezes. Eu cheguei lá, então vou usar isso como degrau acima, e não como degrau para baixo’”, complementa.
De fã para um dos ídolos da nova geração
Em 2023 o MC torna-se bicampeão estadual e, em 2025, busca o tricampeonato. Após um ano ausente do Duelo de MCs Estadual, Vitú explica que a pausa foi estratégica. Em 2024, decidiu permanecer no Sudeste para investir de forma mais intensa na carreira musical e aproveitar as oportunidades que surgiam fora do circuito pernambucano.
“Minha meta no ano passado não era o nacional”, conta. “Eu não quero só chegar lá para rimar, quero chegar para ganhar”. Diante disso, optou por formar público e ganhar experiência, para chegar mais completo na edição deste ano. De volta à disputa,Vitú demonstra que o intervalo serviu como combustível. “Esse ano pensei diferente. Fui mais cedo pra Pernambuco, garanti minha vaga, voltei pra São Paulo e já tô com tudo planejado pra estar no estadual. Me programei para que o calendário desse certo.”
Com o planejamento em prática, torna-se finalista do Estadual pela seletiva da Batalha da Grade, de Vitória de Santo Antão. Nesse movimento, revisita as origens e garante que o próprio território tenha, no mínimo, um representante da cidade para ir em busca da vaga no Nacional.

Entre idas e vindas, batalhas vencidas e aprendizados, Vitú carrega consigo a mesma essência que o levou a subir nos primeiros palcos: o amor pela cultura hip-hop e a crença de que ela é mais do que rima, é instrumento de transformação social.
“Eu abdico de muita coisa: da minha família, do meu relacionamento, em busca desse sonho que virou meu trabalho. Agora que as oportunidades estão chegando, não posso desperdiçar. Tenho que fazer meu pé de meia e abraçar o que lutei para conquistar”, divide.
Como um ciclo que se repete, agora é a vez de Vitú ser a inspiração para quem acaba de começar. A disposição para ir em busca do tricampeonato e o orgulho pela trajetória que o fez chegar onde está hoje fizeram Vitú passar de “fã” para “ídolo”.
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