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DRVA lança “Término” e transforma o caos, tristeza e melancolia do Recife em som experimental

Primeiro EP da banda recifense mistura Post-Rock, Shoegaze e Jazz, refletindo a cidade pós-moderna e a vida urbana de seus integrantes


No Recife, cidade que pulsa entre ruas históricas, prédios modernos e esquinas muitas vezes esquecidas, surge a DRVA, banda formada em 2023 por Guilherme Barbosa, Gabriel Veloso e Minino Johnny. Em apenas dois anos de existência, o trio construiu um universo sonoro próprio, que traduz a complexidade e os contrastes da capital pernambucana. Com o lançamento de seu primeiro EP, “Término”, o grupo entrega um trabalho compacto em número de faixas, denso em texturas, camadas sonoras e narrativa. 


Banda DRVA. Imagem: Cortesia /Festival O Rolê
Banda DRVA. Imagem: Cortesia /Festival O Rolê

É assim que os artistas exploram desde o peso intenso do Post-Rock até a sutileza melancólica do shoegaze e do jazz experimental. Cada acorde e letra parece capturar tanto a energia caótica da cidade quanto os momentos de introspecção de seus moradores, fazendo do EP um retrato sensível e crítico do Recife contemporâneo.


A Manguetown Revista conversou com exclusividade com Guilherme Barbosa e Minino Johnny para conhecer todos os detalhes do lançamento. O nome da banda, DRVA, nasce da ideia de “deriva”, inspirada na psicogeografia de Guy Debord: vagar pela cidade sem rumo, absorver o ambiente urbano e transformar essas experiências em música. “A cidade é nosso laboratório. Caminhar pelas ruas do Recife, observar o caos e a beleza escondida, tudo isso molda nossas composições”, explicam os músicos.


Do caos à melodia


O EP "Término" traz duas faixas marcantes que revelam a diversidade sonora da DRVA. “Casa de Máquinas” mistura o experimentalismo do Post-Punk, movimento que surgiu no final dos anos 70 expandindo as ideias do Punk com novas influências artísticas, com a intensidade do Hardcore, gênero conhecido por sua energia extrema e agressiva. A faixa ainda incorpora elementos de Samba Psicodélico, fusão inventiva que combina o ritmo e a melodia do samba com efeitos e improvisações típicas da música psicodélica, criando uma experiência sonora envolvente. O Spoken Word, técnica que valoriza a palavra falada em performances de poesia ou trechos de rap e jazz, aparece em passagens que conferem à canção uma narrativa direta e impactante.


Já “Término” transita do silêncio ao barulho denso do Shoegaze, subgênero do rock alternativo e indie, abrindo espaço para solos de guitarra que evocam o estilo inconfundível de David Gilmour. A produção do EP é assinada por Ciro Gonçalves, conhecido por seu trabalho com bandas locais como Jambre e Travadores, enquanto a identidade visual é de Letícia Castro, dando ao projeto um acabamento estético à altura da sonoridade da banda.

Mais do que música, a DRVA propõe uma reflexão sobre Recife e a vida urbana. Suas letras exploram o vazio, a melancolia e as tensões de uma cidade que, para os integrantes, muitas vezes parece adoecida. Entre riffs improvisados e composições meticulosamente trabalhadas, a banda cria uma experiência sonora única, onde a cidade e a vida pessoal se encontram em uma linguagem intensa e experimental. 


“É como se estivéssemos transformando o caos da cidade em algo bonito. Cada rua, cada obstáculo, se torna parte do nosso som”, diz Guilherme. Assim, a DRVA abre uma nova perspectiva para o Recife musical: uma banda que não apenas toca a cidade, mas a interpreta, expondo suas contradições e revelando suas camadas mais profundas.


Recife como personagem e inspiração


Recife é protagonista nas músicas da DRVA. As experiências cotidianas no centro urbano, a vida em meio ao caos e a transformação da cidade por políticas de gentrificação e especulação imobiliária influenciam diretamente o conteúdo lírico e a narrativa sonora da banda. O EP reflete um olhar crítico sobre a cidade, mas também revela momentos de esperança e beleza escondidos nas ruas e nos encontros da vida urbana.



Além da crítica social, “Término” afirma a identidade artística da DRVA. A banda mostra que é possível combinar experimentalismo, peso e sutileza em um mesmo projeto, sem abrir mão da originalidade. A relação íntima com o Recife permeia cada acorde e letra, revelando como a vivência local molda a música e fortalece a conexão da banda com o público. 


Com esse lançamento, a DRVA se consolida como uma das vozes mais interessantes da cena recifense contemporânea, oferecendo uma música que é ao mesmo tempo pessoal, urbana e universal. "Término" é a porta de entrada para o universo da banda, mostrando que exploração sonora, reflexão crítica e improvisação podem caminhar juntas para criar algo profundo e instigante.



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