"Eu realizo arte para impactar as pessoas ao meu redor", define Ruby Nox, talento que transforma a cena drag pernambucana

Performer, figurinista e produtora cultural leva a arte drag a novos patamares, misturando teatro, burlesco e circo, e representando Pernambuco no Drag Race Brasil

No dicionário, o termo “drag queen” é definido como “homem que se veste com roupas extravagantes tradicionalmente associadas à mulher e imita voz e trejeitos tipicamente femininos”. Mas em Pernambuco, esse conceito vai muito além de uma definição fria: ele ganha corpo e personalidade em figuras como Ruby Nox, natural de Carnaíba, no Sertão. A “mulher onça”, Ruby afirma: "Eu realizo arte pra impactar as pessoas ao meu redor". É nesse compromisso com a arte e com a comunidade que ela transforma a cena drag pernambucana de maneira singular e autêntica.

Ruby Nox de Carme Miranda no Drag Race Brasil. Imagem: Divulgação/ Drag Race Brasil

A Manguetown Revista conversou com Ruby Nox, artista que atualmente vive no Recife e acumula mais de uma década de trajetória. Ela se consolidou como uma das performers mais versáteis de Pernambuco. Durante a entrevista, Ruby falou sobre sua vida, seu trabalho e a experiência na segunda temporada do reality show “Drag Race Brasil”.

A artista explora novas possibilidades estéticas e incorpora a regionalidade em suas performances, criando apresentações que emocionam, provocam e envolvem o público. Cada número é cuidadosamente construído, unindo técnica, expressão corporal e narrativa de forma única, revelando a força e a originalidade de sua arte.

Resistência e luta pela visibilidade

Ser resistência na arte drag e na cultura pernambucana ainda é um desafio. Ruby explica que, infelizmente, a drag não é reconhecida socialmente como profissão, e muitas vezes o trabalho é visto apenas como hobby. Mesmo assim, ela busca dar visibilidade às narrativas históricas da arte drag em Pernambuco e afirma que seu trabalho é "um tijolo na estrada da luta e da resistência cultural".

Ruby Nox em ensaio fotográfico. Imagem: Divulgação/ Ruby Nox

Embora tenha se desenvolvido artisticamente em Recife, Ruby mantém suas raízes sertanejas presentes em seu trabalho. "Carrego minhas referências e raízes no meu trabalho, mas é diferente de quem vive no interior e busca ser drag queen lá", comenta. Essa fusão entre influências do sertão e da capital contribui para a singularidade de sua persona, que combina elegância, provocação e irreverência.

Performance que une arte, técnica e ousadia

A performance de Ruby Nox é marcada pela fusão de diferentes linguagens artísticas. Ela mistura o burlesco, cuja proposta é provocar risos e reflexões ao caricaturar comportamentos; o teatro, com sua narrativa e presença cênica; os silks aéreos, disciplina circense em que o artista se pendura em um tecido longo preso ao teto para executar movimentos acrobáticos que combinam força, flexibilidade e estética; e o pole dance, que une técnica, elegância e expressão corporal. Inspirada pelo circo e pelo cabaré, Ruby busca com essas formas de arte explorar tabus e ampliar possibilidades de expressão.

"O circo e o burlesco me inspiram mais na construção artística geral do que algum artista específico. É sobre possibilidades infinitas", explica a performer. Além de atuar no palco, Ruby também é figurinista, maquiadora e produtora cultural, integrando grandes talentos em sua ficha técnica e transformando cada apresentação em um trabalho completo, admirado pelo público dentro e fora do palco.

A participação no “Drag Race Brasil” foi um marco em sua carreira. Ela relembra a correria da preparação e a intensidade do programa, destacando que a experiência foi positiva e transformadora: "No fim, vou lembrar desse período como um grande sonho realmente".

Para o futuro, Ruby pretende expandir sua arte para o teatro e o cinema, além de abrir portas para a cena drag pernambucana. Ela espera que sua participação no Drag Race incentive público e produtores a valorizarem mais o trabalho das drags locais, garantindo que a arte drag continue a brilhar e conquistar novos espaços na cultura brasileira.