Espetáculo “Soledad – A Terra É Fogo Sob Nossos Pés” celebra dez anos de trajetória

Manu Gomes
30 de ago.
2 min de leitura

Monólogo interpretado por Hilda Torres retorna ao palco do Teatro Hermilo Borba Filho nos dias 2 e 3 de setembro

Aprensentação do espetáculo “Soledad – A Terra É Fogo Sob Nossos Pés” - Foto: Cyntia Santos

O espetáculo recifense “Soledad – A Terra É Fogo Sob Nossos Pés” completa dez anos de circulação e retorna ao palco do Teatro Hermilo Borba Filho, no Bairro do Recife, nos dias 2 e 3 de setembro, às 19h30.

Interpretado pela atriz e diretora pernambucana Hilda Torres e dirigido por Malú Bazán, a montagem consolidou-se como uma das obras mais representativas do teatro contemporâneo brasileiro.

A trajetória da montagem

Desde sua estreia, em 2015, o monólogo percorreu cidades como Fortaleza, Rio de Janeiro, São Paulo, Montevidéu (Uruguai), Assunção (Paraguai), Havana (Cuba), Buenos Aires (Argentina), além de Madrid, Santander, Bilbao e outras cidades da Espanha. A cada apresentação, reafirmou a força de sua narrativa e a atualidade do tema.

Com duração de 60 minutos, a peça se recusa a ser apenas um retrato memorialista. O espetáculo cria pontes entre passado e presente, deslocando o espectador para um tempo aparentemente conhecido, mas pouco compreendido, e levantando reflexões urgentes para os dias atuais.

A história de Soledad Barrett Viedma

Paraguaia Soledad Barrett - Foto: Domínio Público

A obra resgata a trajetória de Soledad Barrett Viedma, militante paraguaia assassinada pela ditadura militar brasileira há cerca de 50 anos, no episódio conhecido como Massacre da Chácara São Bento, em Paulista (PE). Grávida, foi entregue à morte pelo então companheiro, que se apresentava como Daniel, mas era, na verdade, o infiltrado Cabo Anselmo — responsável direto pela morte de inúmeros militantes durante o regime.

Neta do escritor espanhol Rafael Barrett, Soledad cresceu em uma família marcada pela luta política e pelos exílios. Desde bebê viveu perseguições e, ainda adolescente, foi sequestrada por um grupo neonazista no Uruguai, que marcou suas pernas com suásticas após ela se recusar a saudar Hitler.

Passado e presente em diálogo

Atriz e diretora Hilda Torres em peça - Foto: Henrique Kardozo

A peça reforça como a história é cíclica. Em 2015, quando estreou, manifestações nas ruas pediam a volta da ditadura militar. Dez anos depois, enquanto a montagem retorna ao palco de estreia, um ex-presidente — defensor declarado do golpe de 1964 — se torna réu em julgamento por tentativa de golpe contra a democracia.

Assim, meio século após o assassinato de Soledad, sua história segue ecoando como um chamado à memória, à liberdade e à resistência.