Koda: a força do freestyle de quem acredita nos sonhos
- Maria Eduarda Silva

- 2 de nov.
- 3 min de leitura
Finalista da principal competição do estado transforma vivências e ancestralidade em rima e resistência

Entre a pulsação do beat e o grito de resistência, Koda transforma a rima em ferramenta de cura e identidade. Nome artístico de Ítalo Rafael, MC de 25 anos que é indígena em retomada, nascido e criado na comunidade do Ibura, na Zona Sul do Recife, e hoje morador de Barra de Jangada, Jaboatão dos Guararapes. São sete anos de caminhada nas batalhas, marcados por conquistas, desafios e uma convicção inabalável: acreditar no próprio sonho.
Educador cultural e contra-mestre de maracatu, Koda carrega no corpo e na palavra o peso de muitas funções artísticas. “No início foi complicado. Minha mãe não me apoiava muito, achava que batalha de rima era bagunça. Até que ela viu que meu trabalho tava dando resultado, quando comecei a viajar, a trazer dinheiro pra casa”, conta.
A primeira vez que ouviu falar em batalhas foi pela internet. Assistindo a vídeos de MCs, começou a se arriscar nos recreios da escola, incentivado por uma professora de português que trabalhava poesia e estrutura musical em sala. “Foi um recado do universo. Comecei a juntar o útil ao agradável”, lembra.
Da ancestralidade ao palco
O nome artístico também nasceu de um processo de busca e pertencimento. Durante um período de descobertas sobre sua origem indígena, Koda assistiu ao filme Irmãos Ursos que se tornaria símbolo dessa trajetória. “Pesquisei o significado e vi que o filme é baseado na ancestralidade indígena. Me identifiquei e adotei. Desde 2018 sou Koda”, afirma.
Entre rimas e reflexões, ele construiu um estilo próprio, agressivo, ideológico e profundamente inspirado por história, filosofia e pelo Hip Hop das antigas. “Minhas rimas falam sobre mim. Eu estudo vários estilos pra entender onde não me encaixo”, explica.

Entre o caos e a superação
Na seletiva que o levou à final do Duelo Estadual de MCs de 2025, a vitória veio depois de um dia de caos. “Cinco minutos antes, só eu e Deus num cantinho. Entendi que só eu podia me vencer. Tirei o pé do freio e fui”, afirmou.
A classificação para a final simboliza um reencontro. Em 2022, Koda também havia chegado ao estadual, mas caiu na primeira fase, um tropeço que o fez duvidar de si. “Em 2025, eu quis estar de novo pra provar que sou melhor que meus próprios bloqueios. Que sou melhor que o nervosismo e a frustração”, destaca.
Ansioso para subir ao palco neste domingo (2), Koda reconhece o peso da disputa: “São 16 MCs, 16 sonhos. Esse vai ser um dos estaduais mais difíceis dos últimos anos. Só tem nome de peso, a nata de Pernambuco. Mas eu quero mostrar o quanto evoluí. Se eu for campeão, vai ser consequência da minha vontade”.

Mais do que títulos, o que Koda carrega é uma mensagem. “Meu freestyle nunca foi sobre ser melhor que ninguém. É sobre mostrar pras pessoas de onde eu vim que elas também podem ter novas perspectivas. Lá no Ibura, muitos se perderam. Eu fui o único que continuei. E meu grito de luta é esse: acreditar que tudo é possível. Porque se a gente não se sacrificar pelo sonho, vai ver o sonho sendo sacrificado”, encerrou.
A final do Duelo Estadual de MCs 2025 acontece neste domingo, 2 de novembro, na Livraria do Jardim, localizada na Rua Manoel Borba, por trás do Shopping Boa Vista. O espaço, que recebeu a edição passada, volta a ser palco da efervescência da rima e da força da cultura urbana pernambucana, um território onde o microfone é arma, escudo e ponte para sonhos que insistem em existir.



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