Projeto Afroversos lança livro com coletânea de vozes negras na UFPE
- Manu Gomes
- 1 de out.
- 4 min de leitura
Livro reúne poesia, arte e ancestralidade em evento com exposição e celebração cultural

O projeto de extensão Afroversos convida a comunidade para o lançamento do livro Afroversos: Coletânea Poética e Artística de Vozes Negras, que acontece nesta quinta-feira (2), às 18h, na Biblioteca Central da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Várzea, Zona Oeste do Recife.
A publicação é fruto das atividades do projeto e reúne produções literárias e artísticas de pessoas negras, destacando a diversidade de experiências, histórias, lutas e sonhos que atravessam a coletividade.
Além da coletânea, o evento contará com uma exposição de arte, ampliando o espaço de reflexão e celebração da palavra, da arte e da ancestralidade.
A Manguetown Revista conversou com Raab Albuquerque, coordenadora do projeto Afroversos e pesquisadora da UFPE, e com os escritores Luiz Henrique e Vitória Motta. Ambos compartilharam suas visões sobre a importância do projeto e os caminhos que essa publicação abre para a literatura e a arte produzida por pessoas negras.
Vozes do projeto

Inicialmente, Raab Albuquerque, coordenadora do projeto Afroversos, havia conquistado um financiamento para publicar um livro autoral de poesias. No entanto, ao refletir sobre a possibilidade de ampliar o alcance da iniciativa, decidiu abrir um edital para incluir outros escritores e escritoras. Dessa decisão nasceu o Afroversos, transformando o projeto em um espaço coletivo de criação e partilha.
“Não é todo mundo que tem acesso ou consegue se inscrever em um edital. Vi ali a oportunidade de reunir diferentes vivências negras dentro da academia, que muitas vezes tem uma linguagem própria e formal, mas sem exigir que os autores se adequassem a esse formato. O resultado é uma obra com 179 páginas, reunindo 29 vozes que abordam temas múltiplos da experiência negra, como vida em comunidade, romance, racismo... Eles se complementam no que significa ser uma pessoa negra no século XXI.”
Para Raab, o Afroversos também funciona como um elo de encontros e trocas entre os autores:
“Sem dúvidas, serviu como espaço de networking e de encontro de ideias. Muitos criaram um grupo para compartilhar seus textos, trocar experiências e pensar futuras parcerias. Esse acolhimento é essencial para fortalecer as trajetórias individuais e coletivas", ressaltou.
Inicialmente, o livro poderá ser adquirido por meio de contribuição voluntária. O valor não foi informado.
“A proposta é garantir novas tiragens de forma direta. Depois, a obra também será disponibilizada para venda em formato digital, por meio de um site que estamos construindo. Com essas edições adicionais, teremos condições de participar de feiras literárias e eventos, como o Congresso de Pesquisadores Negros, em Salvador (BA), que acontece em novembro", destacou a coordenadora.
Território e ancestralidades por Vitória Motta

A escritora Vitória Motta conheceu o edital do Afroversos pelo Instagram, inscreveu-se e foi selecionada com quatro textos: “Experiência ancestral”, “Existo”, “Território” e “Reis e Rainhas”. Todos eles nasceram durante a disciplina eletiva Educação e Relações Étnico-Raciais, do curso de Pedagogia da UFPE:
“Eu participei de um método avaliativo que envolvia escrever um memorial sobre aquilo que nos tocava. Foi nesse processo, durante as aulas, que surgiram esses quatro poemas, centrados na identidade negra e indígena, na ancestralidade e na autoafirmação de ser e estar. Para mim, o poema é também um território — não apenas físico, mas simbólico".
Para Vitória, estar no projeto representa mais do que uma conquista pessoal: é a prática de uma ação afirmativa e um espaço de fortalecimento da voz negra dentro da universidade pública.
“Principalmente na UFPE, que foi uma das últimas universidades a implementar a política de cotas raciais no Brasil. Assim, ter iniciativas como o Afroversos, que trazem a temática negra, e ser reconhecida enquanto autora negra é essencial", reafirma a autora.
A poeta também destaca o livro como uma oportunidade rara, já que muitas pessoas negras não conseguem tirar seus textos da gaveta. O Afroversos, segundo ela, é um encontro de experiências e expressões diversas da negritude:
“Eu acho que a partir dessa obra vamos desmistificar muitos mitos: a pessoa negra sofre, mas também pode ser feliz. Tem lamentações, mas não só isso — também romances, amores, identidades, descobertas. É fundamental falar dessas temáticas, e os poemas fazem isso de forma majestosa", destacou.
Vitória ressalta ainda a importância do tema do território na literatura negra, por abrir caminhos de passado, presente e futuro para os autores:
“Afroversos para mim significa território. Estar nesse livro é poder afirmar um lugar de luta, poder, resistência, beleza e equidade. É saber que esse espaço está sendo e continuará sendo um território de afirmação e acolhimento para muitos autores. Estamos aqui para mostrar que esse território é nosso e deve ser ocupado.”
Conto “Meu pai é caçador” por Luiz Henrique

O escritor Luiz Henrique, doutorando em Letras pela UFPE e vencedor do X Prêmio Hermilo Borba Filho, é um dos autores que integram a coletânea Afroversos. Luiz chegou ao projeto por indicação de um amigo, enviou um texto e foi selecionado para compor a obra. Para ele, o livro se torna fundamental ao reunir vivências negras diversas:
“Quando olhamos para o conjunto, a coletânea sintetiza agruras, alegrias, surpresas, mistérios e encantamentos do mundo. É especialmente potente quando traz a perspectiva de pessoas negras da comunidade LGBTQIAPN+ e de mulheres negras. Esses sentimentos e visões se entrelaçam e, juntos, fazem da obra algo tão incrível", contemplou.
Sua contribuição é o conto “Meu pai é caçador”, que mergulha nas relações entre as religiões de matriz africana e o elemento do mistério/oculto:
“Para mim, a língua portuguesa tem a função de desvelar e revelar. Quando escrevo sobre essas relações, encontro o amor que Oxum nutriu por Oxóssi. Dessa união nasce uma divindade que, quando está com a mãe, é feminina, e quando está com o pai, é masculina. Essa narrativa dialoga muito com a transitoriedade e com a possibilidade constante do ‘vir a ser’", destacou o escritor.
Serviço
Lançamento do livro Afroversos: Coletânea Poética e Artística de Vozes Negras:
Data: 02 de outubro de 2025
Horário: 18h
Local: Biblioteca Central da UFPE
Comentários