Jaildo Marinho une arte e ancestralidade sertaneja na exposição “Metamorfismo”
- Manu Gomes

- 29 de jul.
- 4 min de leitura
Mostra pretende materializar a saudade em forma de memórias, especialmente as da infância

De Pernambuco para o mundo! Natural de Santa Maria da Boa Vista, no sertão pernambucano, e radicado na França há 32 anos, o artista Jaildo Marinho apresenta a exposição inédita “Metamorfismo”. A mostra segue em cartaz até o dia 10 de agosto, com entrada gratuita, no Museu do Estado de Pernambuco, no bairro das Graças, Recife.
Para a exposição, Jaildo Marinho produziu mais de 20 obras inéditas, que contam muito da própria ancestralidade a partir de pinturas e esculturas feitas com mármore, granito, madeira, couro, sebo e chifres de boi. O artista ainda possui obras em acervos de museus e galerias na Europa, na América e na Ásia, consolidando uma trajetória internacional nas artes visuais.
O que é "Metamorfismo"?
Mais do que um simples fenômeno geológico, o nome da exposição transforma matéria em memória. E memória se transforma em arte.
Cada material escolhido carrega histórias, vivências, afetos e pertencimentos do artista. São fragmentos da história, reunidos e ressignificados pelo olhar e pelas mãos do pernambucano.
“Voltar ao Recife com uma exposição individual é muito especial para mim. É como se fechasse um ciclo e, ao mesmo tempo, abrisse novos caminhos. Essa mostra é uma celebração das minhas raízes e da minha trajetória artística. Eu saí de Recife para conhecer o mundo aos 22 anos. Agora, estou retornando e quero mostrar o meu quintal, o trabalho artesanal das minhas origens”, afirma Jaildo.
A mostra "Metamorfismo" é uma realização do Porto Cultural, com apoio do Governo Federal, por meio da Lei de Incentivo à Cultura e patrocínio cultural da BRF.
Sob a curadoria do jornalista e escritor Mário Hélio Gomes e direção geral de Will Albuquerque, a exposição pretende criar um diálogo entre a arquitetura histórica do museu e a contemporaneidade das obras expostas:
“Plasmada em mais de vinte obras, "Metamorfismo" combina dois aspectos principais: um externo, perceptível, visível a qualquer espectador: esculturas, pinturas, instalação, em que a matéria fala aos sentidos. Outro, interno, entranhado, de sentido – implicada esta palavra tanto no significado quanto no sentimento”, explicou o curador.
Materiais das obras e seus significados

A produção artística de Jaildo Marinho é marcada pelo uso de materiais que dialogam profundamente com memórias, ancestralidade e simbolismos do Sertão nordestino, traduzindo elementos pessoais em esculturas de alcance universal.
Mármore
Material predominante em sua obra, simboliza a dualidade entre dureza e leveza. Jaildo subverte sua rigidez, transformando-o em expressão de fluidez e eternidade — como metáfora da própria vida e da arte.
Granito e sabão
Elementos do passado e da memória familiar. O granito dá forma a cenas cotidianas, como roupas em varais; já o sabão remete à avó do artista, que produzia sabão caseiro como forma de sustento.
Madeira e agulhas
Utilizada em esculturas de agulhas gigantes, a madeira evoca o trabalho das mulheres que costuravam para a família. As peças são feitas com madeiras de pequizeiro, árvore típica do Cariri — região fronteiriça com Pernambuco.
Pequi
Fruta simbólica do Sertão, ao mesmo tempo saborosa e perigosa, inspira o artista com sua estrutura espinhosa. As agulhas, segundo Jaildo, são uma das esculturas mais antigas criadas pela humanidade.
Couro, chifres e cerâmica
O gado, base da economia sertaneja, é representado por esses materiais. A cerâmica remete à arte dos indígenascoripós, conectando o artista às suas raízes ancestrais.
Instalação final
Com varas de madeira, a estrutura representa as cercas secas do Sertão, encerrando a narrativa com uma metáfora visual das fronteiras físicas e simbólicas da vida sertaneja.
Carreira de Jaildo Marinho

Jaildo Marinho nasceu em Santa Maria da Boa Vista, em 1970, estudou Escultura na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e, mais tarde, aos 22 anos, aprofundou seus estudos em Paris, onde fez Escultura de Fundição. Vem dessa época a denominação de “quebrador de pedras”, dada a sua história, em que foi necessário romper muros, barreiras e muitas pedras pelo caminho para chegar ao reconhecimento mundial.
Com uma carreira consolidada mundialmente, Jaildo Marinho conquistou a medalha de ouro no Festival de Mahares, na Tunísia, em 1995, e o Prêmio de Escultura da Bienal de Malta, em 1999. Já expôs em grandes salões de Paris, como o Salon des Réalité Nouvelle.
Obras
No Brasil, suas obras já foram exibidas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, na Pinakotheke Cultural de São Paulo, além de participações em bienais e mostras coletivas. Jaildo Marinho também é um dos fundadores do Museu MADI de Artes Modernas, localizado em Sobral, no Ceará, reforçando seu compromisso com a difusão da arte moderna pelo Brasil.
Serviço
Exposição "Metamorfismo", de Jaildo Marinho
Horário: até o dia 10 de agosto, no horário de funcionamento do museu: visitação de terça a sexta-feira, das 09h às 17h, e aos sábados e domingos, das 14h às 17h;
Endereço: Museu do Estado de Pernambuco;
Entrada gratuita.



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