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Retrospectiva Cinema e Teatro: corrida pelo Oscar e o teatro negro são os destaques do ano

Entre ruas, palcos e telas, o ano de 2025 mostrou um cinema e um teatro pernambucanos em circulação, crescimento e reconhecimento


A Manguetown Revista acompanhou o Cinema e o Teatro em 2025 transbordar as salas, ocupar ruas, praças e onde fosse necessário para a democratizar a produção cultural. Não só lançamentos e estreias, mas uma maior a força das políticas públicas e centralidade de corpos, memórias e territórios periféricos. Doze meses pareceram pouco para um ano onde as transformações culturais mostraram que estão longe de acabar e com sede de mostrar como pernambucano faz arte.


Da esquerda para direita:Cia. de Teatro Negro MACACADA e "O Agente Secreto". Imagens: Reprodução/ @gabriel.mesgo | Divulgação/ O Agente Secreto
Da esquerda para direita:Cia. de Teatro Negro MACACADA e "O Agente Secreto". Imagens: Reprodução/ @gabriel.mesgo | Divulgação/ O Agente Secreto

Em nossa revista comemorativa, o destaque da editoria ficou para o movimento dos cineclubes na Região Metropolitana do Recife, que intensificaram encontros, sessões com curadorias diversas e debates sobre o cinema local e brasileiro, criando redes de exibição e circulação que aproximaram público e realizadores, reforçando a importância desses espaços coletivos para a cena audiovisual da região. 


Revista comemorativa. Página da matéria especial: 03
Revista comemorativa. Página da matéria especial: 03

Ainda nesta edição, celebramos  o Teatro de Retalhos, com 17 anos de trajetória no Sertão do Moxotó, mantendo uma atuação contínua na cena teatral da região, com espetáculos, ações culturais e trabalho de formação que consolidam sua presença e longevidade fora dos grandes centros.



Na cobertura anual, nos dias 20 a 23 de janeiro, foi realizada a 3ª Mostra Rural de Cinema nos Distritos Rurais de Vivência, que combinou exibições gratuitas de curtas-metragens e uma oficina de formação audiovisual nas comunidades locais. E não parou por aí, o cinema em espaços “não tradicionais” tomou conta com o Mostra Cine Rua Infantil, no Pátio de São Pedro, no bairro de São José, na região central do Recife, também em janeiro.


Apesar da extensa e dinâmica cena, não podemos deixar de citar o infeliz caso que ocorreu com o grupo Cênicas Cia de Repertório. O coletivo que existe desde 2001 foi furtado no dia 17 de março, encontrando sua sede invadida e seus pertences roubados ao retornar de um período de pausa. O caso deu luz a problemas que já não são de hoje: a escassa segurança pública e o desdém com espaços que semeiam a cultura. Mesmo com o acontecido o grupo não parou suas atividades e levou ao público “A Farsa da Boa Preguiça” no segundo semestre.



As manifestações culturais continuaram a permear todo o Estado. Tivemos Lucinha Guerra com o movimento Armorial, a 9ª Mostra Pajeú de Cinema. “Soledad - A Terra é Fogo sob Nossos Pés” celebrando os 10 anos do espetáculo. O movimento se espalhou por festivais como o Festcine Itaúna e, no Agreste, pela Amostragem - VI, em Surubim e o 18º Curta Taquary ,passando por seis cidades. A força regional foi presente da mesma forma na 2ª edição da Mostra Audiovisual Santa-cruzense e pela Preaca: Festival Estrado em Goiana.


A diversidade do calendário foi reforçada por novas iniciativas, como o 1° Festival de Cinema Indígena do Nordeste, realizado pelo Povo Xukuru do Ororubá. O ano também foi de celebrações de datas: o Cine Mostra Ambiental de Cinema do Recife (MARÉ) completando seu décimo ano, celebrando sua trajetória de exibição entre Recife, Fernando de Noronha e Portugal, e o ANIMAGE chegando ao seu 15º ano. No segmento de Teatro, a as peças infantis marcaram presença na nossa agenda cultural semanal.



A performance “Revinda”, criada por Rebeca Gondim, foi pauta de reportagem ao circular por bairros do Recife e Pernambuco afora, unindo dança, música, poesia e elementos de cultura popular para, por meio da linguagem corporal, denunciar o genocídio da juventude negra e celebrar encontros coletivos em cena.


Falando de lançamentos, o segmento de  Artes Cênica na Manguetown Revista deu destaque para a Cia de Teatro Negro Macacada, que colocou na rua o espetáculo Caliuga. O grupo circulou por diferentes espaços do Recife com montagens como Nonada e De mim corro bamba.


Já no Cinema, um dos grandes destaques nacionais do ano foi o longa "O Último Azul", do cineasta recifense Gabriel Mascaro. O filme, que reforçou a produtividade pernambucana no cenário nacional, foi amplamente aclamado e discutido por suas nuances.


No coração desse movimento, o Cine PE 2025 se firmou como grande radar do cinema local. A Mostra Competitiva de Curtas Pernambucanos reafirmou o cinema do estado como espaço de invenção estética e denúncia social. O festival marcou uma virada simbólica ao sediar, pela primeira vez, uma Mostra Lei Paulo Gustavo. Ela reuniu cinco curtas que evidenciaram como o investimento público se transforma em narrativa, emprego e memória, dando voz a periferias, sertões e territórios marcados pelo abandono. 


Se o Cine PE apontou para novas vozes ancoradas em políticas públicas, também foi em 2025 que o documentário “Nordeste Água e Óleo” retomou o desastre do vazamento de 2019. Vencedor do Prêmio Vasconcelos Sobrinho 2025, o longa construiu uma narrativa denunciativa sobre a omissão do poder público, tornando-se peça-chave de memória ambiental e justiça social.


A cobertura também chamou atenção para situações que mostram desafios ainda não superados na cena audiovisual. Um exemplo é o Cine Olinda, inaugurado em 1911 e marco histórico do Carmo, em Olinda, que segue fechado e com promessas de recuperação permanecendo no papel, apesar das tentativas de diálogo com autoridades e da mobilização de movimentos culturais para reabrir o espaço de exibição que foi tão central para gerações de público e criadores e criadoras. 



No final do último semestre, houve o lançamento do filme "O Agente Secreto", o novo longa dirigido por Kleber Mendonça Filho. O diretor, já consagrado por obras como Bacurau, Retratos Fantasmas e Aquarius, viu seu novo trabalho estrear em novembro após ser premiado em Cannes e ser escolhido para representar o Brasil na disputa pelo Oscar 2026. Misturando suspense e sátira política, o filme transforma o Recife em personagem central ao revisitar a memória da repressão política de 1977.


O ano em que marca metade da década de 20 reflete como a resistência e perseverança do cinema e teatro pernambucanos se faz necessária para o fortalecimento e expansão de uma cultura latente que é vista e vivida por sua população. É costumeiro dizer que quem é pernambucano é “bairrista”, mas é difícil não ser, quando, mesmo sem apoio ou incentivo constante, se mantém de pé e presente. As ruas, bairros, esquinas, todas contam histórias preparadas para serem contadas por meio da arte. A Manguetown Revista encerra este ano com todas as expectativas para que, no próximo, tudo que foi realizado consiga se multiplicar e, nessa terra feita em cima do mangue, a cultura nunca deixe de se espalhar.


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